quarta-feira, dezembro 27, 2006

Dinheiros e mais dinheiros

A Função Pública com duas faces muiti distintas é algo que só quem está ‘por dentro’ pode conceber.
A semana passada encontrei um amigo e como vi que levava um saco de supermercado comecei a brincar porque não 'o via' andando às compras, habitualmente. Riu-se e mostrou o conteúdo: papel higiénico e um sabonete. Perante o meu olhar espantado, disse-me que o levava para o seu serviço, era a vez dele. Revezavam-se, ele e os colegas, e traziam de casa esses produtos fundamentais porque há mais de um mês que tinham acabado nas casas de banho e não eram repostos – não havia verba! Isso fez-me recordar outra ocasião onde eu também trouxe de casa lâmpadas para a casa de banho que esteve vários dias às escuras, porque também não havia verba para substituir a que se tinha fundido…
Depois reparo na outra face.
Parece que o gabinete do secretário de Estado da Administração Local está aflito porque o orçamento de 2006
«não tem prevista qualquer verba para pagamento de estudos e pareceres» A aflição é que os tais pareceres já foram encomendados e feitos, e agora… não os podem pagar.
A minha estranheza é porque é que se encomendam ‘pareceres’, certamente bem caros, a especialistas privados. Quando se «faz um governo» não é convidada a nata dos bons conhecedores? Não serão convidados para o governo os melhores dos melhores? Então esses assessores e especialistas com ordenados bem elevados não são capazes de fundamentar as suas decisões?
Assim começa a fazer-se luz sobre algum descontrolo na gestão dos dinheiros dos ministérios. Poupamos no papel higiénico, sabonetes e lâmpadas, mas pagamos milhares de euros (150 mil euros pelo que ali se diz) a pessoas que não fazem parte dos quadros da FP.
Deve ter uma explicação, mas não a vejo.

13 comentários:

Anónimo disse...

Caramba, fartei-me de esperar por ti Emiéle. LOL. Hoje gazetaste! Quanto à situação por ti descrita, não é preciso pensar muito pois não Emiéle?

cereja disse...

Ehehehe! Tou de férias...
Também mereço! E para quem está de férias até ando por aqui bem cedo.
Pois não, também acho que se entende, mas...

Alda Serras disse...

Num país onde todos gostam de dar a sua opinião é estranho terem de pagar por um parecer...

É revoltante não terem dinheiro para sabonete e papel higiénico e gastarem tantos nesses estudos que não interessam a ninguém excepto a eles próprios!

cereja disse...

Mas Bell, a eles interessam muitíssimo! Repara que é exactamente para se defenderem das acusasões de que tomaram decisões erradas. E... não terão tomado?!
Mas as economias ridículas (essa do papel higiénico e lâmpadas juro que é verdade) são mesmo incríveis.

Anónimo disse...

Como os tempos mudam! Lembro-me que havia sempre 2 ou 3 rolos por retrete, o que achava o cúmulo do chic! Mas é ver que os melhores não vão para o governo, ficam de fora, por razões de fuga a responsabilidades,e, sobretudo, porque ganham infinitamente mais dinheiro nesses estudos e pareceres, que lhes cabem por ajuste directo ou por falsos concursos. Num parecer dos bons ganham mais do que num ano de governo, e, ainda por cima, ganham prestígio profissional. Ficar de fora é só ganhar. fj

Anónimo disse...

Eu sei muitas dessas! Quando digo «dessas» falo das economias mixurucas. Não haver mulheres de limpesa por exemplo e serem os técnicos que de pano do pó e esfregona, dão um ar de limpesa ao local de trabalho, por exemplo. O ridículo é que poupam no salário das mulheres de limpesa e pagam muito mais ao técnico que faz essa função!
Uma única impressora para 30 pc, o que dá como consequência que a malta faz fila à espera que aquilo que precisa saia da máquina, e o tempo que se perde (fazendo as contas a um salário de um técnico) daria para comprar várias impressoras que até se vendem no Pingo Doce!

cereja disse...

Primiro a resposta ao FJ que tem toda a razão. É exactamente isso - os melhores especialistas não estão nada interessados em ir para o governo porque ganham muito mais nos seus empregos!!!! E sempre podem «fazer uma perninha» nesses tais importantes pareceres. E tudo a ganhar!!!! Só que quem paga, é o maralhal que paga os seus impostos, directos e indirectos, ou seja abrange toda a gente, para lucro dos senhores barões que até sabem o que dizem mas defendem bem os seus próprios interesses...

Joaninha - sabes que já me tenho interrogado sobre essa economia sovina, das impressoras! Como dizes hoje até se vendem no Pingo Doce e custam uns 50 € ou menos... E depois uma pessoa precisa de um papel e está meia hora à espera! Essas meias horas todas ao fim do mês daria para comprar uma impressora para cada um!!!

Anónimo disse...

Também passei por aqui de manhãzinha e fiquei adnirado aqui com a paz deste blog. Agora já vi que estás de férias! Aproveita que o tempo tá frio...
Essas economias ridículas vê-se muito mas a um nível baixinho. Tenho ouvido contar alguns casos de gargalhada!!! Do género de se poupar por um lado mas essa economia vai implicar um maior gasto por outro. Aliás o que dizes das impressoras é típico. Sendo um aparelho barato, qual a necessidade de se ter de ficar um temão à espera que os colegas imprimam as coisas deles...? 10 horas de trabalho de um técnico superior já lhe compravam uma parar ele!
E depois compram os tais pareceres a milhares de euros. :(

saltapocinhas disse...

Eu também não vejo... deve ser mais daqueles problemas terminados em "iopia" de que os governantes, infelizmente, nunca sofrem!

saltapocinhas disse...

ah, e também já levei papel higiénico para a escola e já trabalhei em muitas escolas onde as crianças também tinham de levar o seu!!

cereja disse...

Mas sabes, Saltapocinhas, esse tipo de coisas para quem está permanentemente do 'contra' é como se não contassem nada. A ideia é que a malta anda cheiinha de regalias e privilégios, e ainda tem a grande lata de ser mal-agradecida. Mas cai o Carmo e a Trindade se não houver dnheiro para os pareceres dos senhores que, de fóra, vêm justificar as suas opções...
Interessante.

Anónimo disse...

Para quem está por dentro de uma Câmara Municipal também já passou por situações dessas. São os maus costumes à boa maneira portuguesa, gasta-se onde não se deve para não haver no essencial.

cereja disse...

Olha Célia, eu assim mesmo numa autarquia nunca estive (apesar de ter trabalhado de parceria com algumas) portanto só posso imaginar. Mas nãovejo a menor razão para ser diferente. É este o país real!