quarta-feira, setembro 02, 2009

Porquê «inveja»?

Um artigozito que li no «i» diz que a inveja vai ajudar a poupar energia
Li aquilo com alguma curiosidade. Como é? Poupo energia se for invejosa? Que tipo de energia? Estranhei, porque pensava que ficando mais calma e descontraída guardaria a minha energia para outras coisas que valessem a pena e se me entregasse à inveja pelo contrário ficava mais desgastada.
Beeem. Não é o que estava a pensar, assim à primeira vista.
A palavra está definitivamente mal usada.
O que queriam dizer está mais na linha da ‘competição’ e mesmo assim é um tanto discutível. O exemplo que dão ali, de se evitar deitar para lavar uma toalha turca que se usou uma só vez, parece um tanto rebuscado. É claro que podemos ser mais poupados em tudo. Mas também é certo que o estímulo para o gasto é enorme e constante, e se se controlasse esse tal estímulo que recebemos contantemente, aí sim, acredito que se poupasse energia e dinheiro.
É evidente que vivemos em grupos sociais e temos tendência a fazer o que o nosso grupo faz. E a publicidade bem o sabe. Por algum motivo os nossos filhos querem coisas «porque todos os colegas ou amigos têm». E a outro nível, também nós funcionamos um tanto assim.
Lembro-me muito bem que quando apareceu a tvcabo, recebia semana sim, semana não, um telefonema dos senhores a explicarem-me os benefícios que teria com a adesão a esse serviço. E eu, educada mas muito firmemente a recusar. Num desses insistentes telefonemas, o vendedor, já enervado, ‘arruma-me’ com este argumento «Mas, oh minha senhora, estive aqui a verificar e no seu prédio só a senhora é que ainda não aderiu!» e eu revendo mentalmente todos os meus vizinhos, pensei de mim para mim «Ena, que sorte a deles», mas mantive a recusa. E o rapaz, «Mas pode dizer-me quais os motivos por não a querer?» ao que respondi antes de desligar «Posso. Simplesmente motivos económicos».
Ora para mim, nem me parece que seja essa tal ‘inveja’ que implique algum vez a diminuição do gasto de energia, apesar de aceitar que se se tornar moda poupar energia, isso possa de facto influenciar o seu consumo. Mas o que pode fazer diminuir o consumo é o preço que temos de pagar por ela.
Ai sim. A porca torce o rabo.

16 comentários:

cereja disse...

(Hoje devia referir a entrevista do Sócrates, mas imagine-se que... me passou! Tinha tanta coisa para organizar e telefonemas para fazer que me esqueci de assistir. Contudo é fácil ir ao site rtp e vê-la hoje com a vantagem que vejo logo a seguir as opiniões dos opinionmakers o que decerto me vai «esclarecer» imenso. Não perdi nada, com certeza)

kika disse...

Ena Emiele, não ouvi nada do Sócrates.
Inveja e comportamentos sociais, estão interligados, penso eu, embora a tua ilustração defina muitissimo bem a diferença entre cobiça e inveja.
Contudo, parece-me que quando cobiçamos algo de alguem é porque tb temos um pouco de inveja de ele poder ter e nós não.
Este ponto de vista parece-me o mais vulgar e comum.
Quanto à energia, a subida dos preços só obriga as restrições dos menos previligiados, pois quem tem dinheiro continuará a tomar um longo duche bem quentinho..
O que me parece que poderá resultar melhor , é a questão ambiental. Essa está a entrar na mente das pessoas muito devagar é certo, mas o ser humano demora muito tempo a assimilar comportamentos .
Há muitos anos que aderi á tarifa bi-horária e procuro não esbanjar ...mas isso reconheço que foi fruto da educação a juntar á parte económica, obviamente.
Conheço pessoas para quem gastar pouca energia ou água significa , na mente delas pouca higiene, o que é lamentável...

Anónimo disse...

Não perdeste nada, é claro. Este tipo de entrevistas convence os já convencidos, e não acredito que os indecisos alterem nada. Mas posso estar enganado. Claro que nesta altura não é o momento de ter arrogâncias e isso nota-se.

Claro que a palavra inveja (aquilo que parece ser um pecado mortal) está perfeitamente desadequada aqui. Seria mais competição ou imitação, mas para estas coisas da poupança de energia tem de haver uma enorme alteração de mentalidades. E sentir que existe algum lucro, é claro. Como disse a Kika, para algumas pessoas pode significar mudar menos vezes a água da piscina...
Aliás continuando na água, por exemplo uma conduta rota (que é um gasto enorme, quase nem se pode contabilizar! em poucas horas corresponde ao consumo de uma família durante um mês) estamos fartos de ver que pode estar o dia todo e deitar jorros de água enormes, e os responsáveis sem considerarem aquilo uma prioridade, tratam de outros assuntos, vão almoçar, fumam o seu cigarrinho, discutem futebol, e a água a jorrar ininterruptamente!
É toda uma cultura!

Joaninha disse...

Ora viva, cá temos o Pópulo de manhãzinha, com as galinhas!

O boneco é muito engraçado, e usa-se a palavra inveja nesse sentido de cobiça. O que é um desejo de se ter o que outros também têm. Não será muito bom mas também não é nenhum pecado...

Evidentemente que a historieta que o I publicou não é bem palerma, mas é de uma tal ingenuidade que nem se leva a sério. Afinal quem lucra é o hotel que tem menos trabalho em substituir as tolhas... se isso se transpusesse para a casa de cada um já seria de ponderar. o pior é que pelo que vejo, muitas vezes poupa-se por um lado e vamos gastar por outro!

Joaninha disse...

Esperem, não sei se me expliquei: o que queria dizer é que o estarmos a economizar nalgumas coisas vai implicar que se gaste mais noutras bem semelhantes. E depois o comércio queixa-se de que tem de viver...

Anónimo disse...

Neste exato momento estou morrendo de inveja dos meus meninos que ainda estão dormindo... Mas não posso fazer o mesmo. :)
Aliás, vou fazer pior: vou acordá-los! :))

bom dia!

sem-nick disse...

Bem visto.

Mais uma vez é questão de títulos de notícias, não é? Entra pelos olhos dentro que não pode ser 'inveja' aquilo a que se referem. Mas lá que o exemplo é importante isso nem se discute. Como disseste, até muitos de nós vamos atrás daquilo que os nossos amigos ou colegas fazem ou têm.
E, se houve um tempo em que se evitava os tais «sinais exteriores de riqueza», agora até parece ao contrário, o que se pretende é exibir bem esses sinais, mesmo que seja a fingir!

sem-nick disse...

Quanto à entrevista, quem tiver interesse, veja AQUI o vídeo.
Pronto.
E podemos passar adiante as partes que não interessam.

Anónimo disse...

Emiéle, como dizes, "inveja" está completamente fora do contexto. Agora, fico um pouco irritada com a recorrente mutação do sentido das palavras, a lingua portuguesa é rica, não vejo necessidade...
Assisti, há tempos, na televisão, a um debate sobre a “inveja” - alguns intervenientes despiam, a palavra, do sentido primitivo, dando-lhe uma carga positiva - diziam que a "inveja" seria um móbil para o sucesso, isto é, muito útil para o desenvolvimento pessoal, mais ou menos assim. Mesmo esvaziando a palavra da carga pesada, dada pela comunidade judaica cristã, ela para mim revela um sentimento que leva a um comportamento que eu abnego.
Estou de acordo com o “pensamento” de Zuenir Ventura e, indo à génese da palavra,“inveja” vem do latim “invidere” que significa “não ver” e aqui está, a inveja cega as pessoas e aos cegos a luz não faz falta…Pronto, já encontrei em parte a tese do título :-))
A sério, há tantos motivos bons para apelar ao baixo consumo de energia e mais eficazes, digo eu, será que a palavra “inveja” é apelo forte para ser usada como “título”? Estou cada vez mais baralhada…

Anónimo disse...

Aqui, nem sei quando foi isso exatamente, saiu num programa bem popular que, colocando garrafas pet vazias sobre o relógio de energia havia economia de energia. Isso,num domingo à noite. Na segunda-feira de manhã, quando saí para a rua, vi uma quantidade enorme de casas com as tais garrafas plásticas de refrigerante sobre os relógios. Como eu não tinha visto o programa fiquei curiosa e perguntei para vizinha que tinha umas seis garrafas sobre o dela.
Passado algum tempo perguntei-lhe se tinha acontecido alguma melhora no consumo e ela disse que sim!
Achei realmente estranho, porque aquilo não fazia o menor sentido!
Tempos depois ela me disse que o consumo voltou a subir. As garrafas de todos os vizinhos já tinham sumido de sobre os relógios e a notícia de que aquela matéria era pura bobeira.
O que acontecia é que todos colocaram as garrafas e um perguntava ao outro como estava o consumo. Com isso, de certa forma o vizinho acabava "regulando" o consumo do outro. Pois se ele estava consumindo menos, com ele também deveria estar acontecendo o mesmo. Sem perceber, a economia era feita na base da "inveja boa".
Isso funcionou mais do que o pedido do governo para economizar energia! :)))

bjs

fj disse...

Teve muita graça a história da Senhora e uma boa ilustração para aquilo que o notícia quer contar.
A verdade é que estaremos de acordo em que «inveja» é uma coisa e competição ou até espírito de integração num grupo, coisa completamente diferente!
Hoje temos imenso, esse espírito de competição. Se os outro têm ou fazem, então nós também! Se para alguma coisas pode ser bom, para outras nem por isso.
Quanto à economia de energia, penso que pouco a pouco vamos entrando no espírito da coisa, mas não está fácil.
Note-se que cada vez mais tudo é eléctrico e se resolve carregando num botão de um comendo. Não se levanta o rabo do sofá para nada, e esquecemos que isso é um gasto de energia. Caricatamente, até vamos ao ginásio para gastarmos a nossa energia através de aparelhos que funcionam ligados á corrente eléctrica!!!!
Ligamos e apagamos aparelhos à distância, até levantamos e baixamos persianas com comandos eléctricos. E depois aqui d'el rei que se gasta electricidade a mais!!!!!!!!

fj disse...

hoje não posso entrar porque sou invejoso. Assim invejo. entre outros,os comentários de Sem-nick,

josé palmeiro disse...

Chegado a esta hora, só posso corroborar com as palavras do Zorro e do Sem-Nik.
Não adianta, não tenho inveja nem cobiça, de coisa alguma a não ser de um Mundo Melhor, e isso, apesar do esforço de alguns, está cada vez mais longe!!!
Esquecia-me de referir a história da "Senhora", magnífica!

cereja disse...

Bela história a da Senhora!!!

Bom, eu não sou assim tão pura como o Zé palmeiro, confesso de de vez em quando tenho essa tal cobiça de algumas coisas, não que ache mal os outros terem ou conseguirem, mas também as queria para mim!
Aqui, o que me intrigou foi exactamente o termo de Inveja, essa coisa que lá na religião dizem que é pecado e até mortal!
Maria, não vi esse debate na tv, mas conheço o tipo de argumento e está muito na linha da competição um tanto desenfreada que agora é tanto moda. Parece que o importante é vencer e ganhar use-se que armas se usar. Os ingleses ou americanos usam muitas vezes o insulto «loser». Cá por mim nem sei se por vezes não será melhor perder do que ganhar. Não sinto isso. Mas acredito que nessa mesa redonda ou lá o que era, se defendesse que através da inveja ou lá o que é que aumente a vontade de ser melhor do que os outros, se consiga ganhar... Pfff... ganhar afinal o quê?...

Quanto às teses ecológicas, devagarinho mas sempre vão abrindo caminho. E contudo preciso mudar muito de mentalidade.

mfc disse...

Mas esse raciocínio é muito poucas vezes conscientemente usado.

cereja disse...

Isso é, mcf. Tens razão nesse ponto.