Jogo de palavras
Nós falamos para transmitir ideias, conceitos, emoções.
E há um ‘código’ subjacente às palavras que se dizem. Porque há expressões que podem ser mais duras e por isso são substituídas por outras que têm um significado idêntico, mas... se associam a outras coisas. Nem quero aqui referir-me a «eufemismos» - o disfarce de uma coisa desagradável suavizando-a - porque quando alguns eufemismos se banalizam perdem o seu efeito.
Vêmo-lo cada vez mais no mundo do trabalho.
Começou com a substituição da antiga e bem clara palavra «patrão» pela moderna «empregador». É claro que a função é a mesma mas o termo invoca todo um outro mundo! Mas isso já tem muitos anos.
Agora, desde há uns tempos, começa a surgir outro termo, também suavizado. Acabo de o ouvir na rádio na boca da jornalista que estava à porta da Quimonda. Os trabalhadores que lá tinham sido chamados estavam à espera de serem «dispensados». Agora já não se despede ninguém, dispensa-se.Deve estar para breve um novo nome para a situação de desemprego.
Espero que não lhe chamem férias.
6 comentários:
Claro que são férias.
Atão férias não é uma pausa no meio do trabalho?
É a versão sofisticada, e até bonito porque ao falar em «pausa» subentende-se que haverá continuação, né?
O King chama-lhe "versão sofisticada", eu chamar-lhe-ia, "adulteração da linguagem" e no Alentejo, dir-se-ia que eram "modernices".
O problema tem sido, sempre o mesmo ao longo dos tempos e, despedir patrões , só à trinta e cinco anos e mesmo assim, em 25 de Novembro apareceu um "cow-boy", que agora querem fazer "major-general", talvez porque tenha contribuído, decisivamente, para que tudo voltasse à "estaca zero".
Com tanta coisa, esqueci-me de referir a Mafalda, sempre actual!!!
Quando se deixa de «chamar os bois pelos nomes» há a ideia ilusória de que eles deixam de ser bois.
Até se voltar a receber a primeira marrada!
Tem sido assim em tudo.
«Moderniza-se» a coisa com a ideia parva de que se lhe muda o sentido.
Aliás «patrão» ou «patroa» até podia ter um sentido simpático em certos casos. Quando num casal se dizia «aqui a minha patroa...» ou «pergunta ali ao patrão!» era dito com um sorriso. Alguém imagina dizer-se «aqui a minha empregadora...»?????
E cá está - dispensar, em vez de despedir, é um modo diferente de mostrar uma realidade que não engana ninguém. Os «dispensados» ficam sem trabalho, né? E mais nada! Ficaram de 'dispensa'? Olha que lindo.
Genial a Mafalda e o comentário também, cortante e actualíssimo! Ai que belos empregadores que eles são... E já agora, hoje em dia não há trabalhadores e nem sequer assalariados, palavras feias e capciosas, hoje são todos colaboradores; será que qualquer dia nos começam a chamar sócios!?
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