terça-feira, março 31, 2009

O círculo quadrado

… ou o quadrado redondo - para o caso tanto faz.
A verdade é que isto até tem a ver com rodas... Estou a pensar na questão peões versus automobilistas e vice-versa.

A corrente da História e dos usos sociais é irreversível. Na minha opinião, goste-se ou não, há hábitos que uma vez adquiridos, só com um verdadeiro cataclismo se vêm a mudar… E é o caso do uso do automóvel.
Começou por ser um objecto de luxo.
De verdadeiro luxo, a classe média mesmo com algumas posses não chegava lá, nem se ralava com isso.
Mas vulgarizou-se, banalizou-se, e hoje é já um instrumento comum.
Quem está neste momento a ler isto, pode até nem viver hoje como gostaria ou como já viveu que o nível de vida tem baixado, mas aposto que tem um carro. [OK, estou agora a lembrar-me de umas quatro ou cinco amigas que não o têm mas só duas é que não têm nem filho, ou namorado, que em caso de necessidade lhes dêem a boleia necessária] Portanto o meu raciocínio mantém-se – o carro banalizou-se. Tanto que países do 3º mundo como a Índia estão a pensar em lançar um carrinho baratíssimo a que quase todos podem chegar (claro que sem cumprir as normas anti-poluição, mas não se pode ter tudo…)

Vem agora o quadrado a perspectiva do peão. Para além de que peões somos todos nós (mesmo quem anda sempre de carro, quando sai dele tem de se deslocar a pé…) é certo que existem peões mais ofendidos, e muita vez cheiinhos de razão, com os abusos dos carros.
É que muitas vezes ‘eles’ quando param, só pensam nos seus interesses, ou seja, ficar o mais perto possível do local para onde querem ir. E estacionam como se o mundo fosse deles. Malcriados até com os seus parceiros de volante – estacionam em segunda fila, estacionam ocupando dois lugares, estacionam tão perto do que lhe está ao lado que não permitem que ele saia, etc – e sobretudo malcriados com quem anda a pé.

Chamaram-me a atenção para um blog, ou um movimento não sei bem, que declara que
tem direito a andar a pé: «Quero andar a pé. Posso?».
Tenho de concordar com eles. Primeiro porque também ando a pé, mas mesmo que não andasse parece-me um direito que não deve vir na Constituição por ser demasiado óbvio.
Todos temos o direito de andar a pé, e ter os passeios livres.
Apoio.
Plenamente.
Mas cá vem a «quadratura do círculo»: e onde é que se deixam os carros?...

9 comentários:

fj disse...

Aqui está o exemplo de uma guerra inglória. Se dou toda a razão a quem quer andar pelos passeios e não pode (já o estacionamento nas passadeiras isso é muito mais raro) concordo que se algumas casas modernas têm garagens ou pelo menos locais onde se pode estacionar um carro, nos bairros mais antigos, isso é um inferno! Como não se pode escavacar a cidade a fazer parques subterrâneos por todo o lado, talvez começar a fazer uns silos automóveis, estacionamento em vários andares. Um arquitecto com imaginação até talvez conseguisse manter o exterior de uma casa antiga, mas fazer um «recheio» que permitisse arrumar os carros que quase toda a gente tem...

Joaninha disse...

Acho que estou como tu (se é que te entendi bem) e balanço entre tomar partido.
É mesmo verdade que há carros que estacionam de um modo que até apetece «esbarrar sem querer» num espelho retrovisor, ou fazer com que o bico metálico da fivela nossa manga, roce ao passar pela sua pintura tão linda. Porque o espaço que nos deixam é tão apertado que mesmo sem querer 'aquilo' pode ficar danificado...
Mas também é verdade, que hoje quase todas as famílias têm um carro (mesmo que seja um velhíssimo, e em 4ª mão...) e nalgum sítio ele tem de ficar.
Essa coisa de fazer com que menos gente venha todos os dias para Lisboa de carro, afinal em que ficou? Porque apesar de tudo, só mesmo os habitantes de Lisboa, já chegavam para ocupar todo o espaço livre, quanto mais os que depois chegam...
Falando por mim, durante a semana ando sempre ou quase sempre de transporte público. Apertada ou não, sempre é melhor. Contudo tenho também um carro, quando quero sair à noite (e aí não há mesmo transportes públicos que valham), se quero fazer compras grandes e venho cheia de sacos, ou aos fins-de-semana para desanuviar. E vejo-me à rasca para o deixar num sítio decente...

josé palmeiro disse...

Eu, utilizo automóvel!
Eu, faço tudo para respeitar os peões, nos seus mais variados direitos.
Quanto aos lugares de estacionamento, já pensaram quantos promotores imobiliários, que têm a obrigação de vender andares com garagem, o não fazem, ou então quantos proprietários procuram nuotros edifícios o estacionamento, que no seu lhe foi negado?
Depois à aquilo a que se chama, "levar o carro para a cama", não dá.
Temos que nos conscencializar que só necessitamos de carro porque não existe uma rede de transportes públicos em condições, e só por isso.

Anónimo disse...

Pois eu também tenho carro, é claro. No meu prédio, que nem é prédio de gente «remediada», neste momento já nem há 'remedeio' que chegue, todos têm um, mais velho, mais novo, mas anda. A senhora que vem cá a casa fazer limpezas e passar a roupa, vem de carro. Diz ela que sem o carro não poderia ir a tantas freguesas...

Bom, só para dizer que neste momento já não é de modo nenhum um artigo de luxo. Mas, sempre que tenho transporte mais ou menos directo é claro que vou
nele. Muitos dias, fica ali paradinho. Mas como dizes, sobretudo em bairros mais antigos ( Campo de Ourique, Penha, Graça, etc) nem os prédios têm garagem, nem há terrenos onde se possa deixar o bicho a pastar. Fica mesmo na rua e com dístico de morador para a EMEL não o multar.

Este é um pau de dois bicos. Se temos de ser rigorosos com a bandalheira dos que (como disse o Zé Palmeiro com graça) querem "levar o carro para a cama" a verdade é que muitas vezes a beirinha do passeio tem de ser aproveitada. Aliás nos sítios piores já a Câmara mandou por uns pilaretes para impedir o estacionamento.

Dito isto, eu também «Quero andar a pé. E acho que posso!»
É muito interessante o blog!

Mary disse...

Mas a vida de peão numa cidade é de facto infernal!!!! Os passeios servem para tudo menos «passear» como o nome indicava. E quem tem carrinho de bebé, até tem rampa e tudo junto das passadeiras, mas para chegar à passadeira?! Anda pela rua?...
Apoio muito esta iniciativa. Muitos dos automobilistas deviam ter vergonha. E o máximo é que acham sempre que «são os outros» nunca são eles a asnear...

cereja disse...

A minha experiência é como a do King. Até também tenho uma mulher a dias que tem carro com esse pretexto, de que vai a mais casas... E agora até o trocou por um novo, mas queixa-se de que não consegue parar ao pé da minha porta..
:)

De qualquer forma os direitos dos peões são mesmo importantes e alguma solução se terá de arranjar!

kika disse...

Isso por aqui ( Invicta) há um pouco mais de respeito, isto é imposto claro, por reboques bloqueios ,multas ,é o que mais prolifera aqui, quanto aos peões acho que na capital são mais educados os automobilistas, do que cá. É perigoso atravessar mesmo nas passadeiras e por vezes mesmo nos semaforos.É necessário estar muito atento.Quanto a esse carro baratinho poluidor etc etc deve servir para aumentar mais o caos daqueles cidades indianas. Que horror, oxalá isso nao tenha sucesso no nosso país é o meu voto

Miguel disse...

Acho muito bem. Aqui então, seria um movimento que teria grande sucesso. Nem imaginas a dor de cabeça que é andar a pé. Ultimamente tenho andado mais a pé do que de carro. Não stresso no engarrafamento, no lugar para estacionar e afins. Aproveito para ver a paisagem, desviar-me dos buracos, dos esgotos a céu aberto, dos que sofrem de perturbações mentais e deambulam de qualquer maneira pelas ruas, das motas que em contramão e por cima dos passeios circulam na maior das calmas, etc lol. Mesmo assim, é menos stressante que andar de carro...

Cá, os motoristas não têm o mínimo respeito pelos peões. Estacionam onde querem e podem, em dupla, tripla fila. De qualquer maneira. Uff!!!

cereja disse...

Como deves repara em Lisboa há de tudo! O que creio ser um facto é que os automobilistas têm bastante respeito pelas passagens de peões. Às vezes mais do que os próprios peões, que não se dão ao trabalho de ir até à passadeira, ou passam com vermelho para eles com a justificação de que «aquilo é passadeira» e portanto ali têm prioridade, esteja o semáforo como estiver!
gora que se estaciona nos passeios é verdade verdadinha. Eu também. Escolho passeios largos, e deixo SEMPRE espaço para os peões passarem à vontade (mesmo com carrinhos) mas se assim não fosse não havia solução!

Imagino o caos que por aí existe...