quarta-feira, janeiro 14, 2009

Conhecimento - na conta certa

Os medicamentos que compramos têm a obrigação de virem acompanhados com um papel que explica o que é que aquilo contêm, como deve ser tomado, quais as indicações e contra indicações, etc.
Segundo a lei deve lá vir «o nome do medicamento, a composição qualitativa e quantitativa das substâncias activas, a forma farmacêutica, a categoria fármaco-terapêutica ou tipo de actividade, as contra-indicações, efeitos secundários mais frequentes ou sérios e acções a empreender quando ocorram, precauções especiais de utilização, modo e via de administração».
Muito bem.
Ou não?...

Levantou-se agora a questão real de que aquilo está escrito em letras muito pequeninas que obrigam os doentes que já não vêm bem a recorrer a uma lupa E este artigo cita o caso de um doente que declara «Sou muito rigoroso, pois tenho medo de misturar medicamentos e se tenho de tomar um novo, vou sempre ver se não são incompatíveis».
Eu penso que isto pode vir a levantar muitas questões diferentes e encadeadas.
a) Por um lado, parece-me correcto que cada um saiba o que está a tomar. Se num frasco de compota vem lá, obrigatoriamente, aquilo que o frasco contêm e em que percentagem, mais ainda num medicamento. É um direito.
b) Por outro lado, aparece a queixa de que a linguagem utilizada pelos laboratórios nas bulas de medicamentos é «confusa, difícil de ler e desactualizada», ou seja a informação é excessiva.
Ora, se é certo que é um direito o consumidor saber o que consome, e numa lata de conserva ou uma caixa de cereais as coisas deveriam estar claras, ter conhecimentos médicos ou de farmacopeia que sejam suficientes para entender ‘a composição qualitativa e quantitativa das substâncias activas’ não está , nem pode estar, ao alcance de qualquer um!
(e já nem levanto a questão da nossa iliteracia!..)

O que é pena é que não haja é uma relação próxima e de confiança justificada com o nosso médico, de modo a que se ele aconselha determinada coisa é porque sabe que ela não é incompatível com outro medicamento que se esteja a tomar, e se acredite que a dose que ele aconselha é a correcta.
Porque senão estamos é a automedicar-nos, e isso nunca dá um grande resultado!
Que lá venha o essencial e em letra ‘legível’, está correcto. Mas não vejo a necessidade de se ler de uma ponta à outra essa literatura quando o produto foi receitado pelo nosso médico...
Assim como não vejo também a necessidade de se exigir por lei uma descriminação tão detalhada da composição do medicamento. Para quê?...

15 comentários:

Anónimo disse...

Ui! Este teu post vai ser muito discutido!!!
(eu agora só consegui lê-lo e avisar que vou voltar para dizer de minha justiça como deve ser)

O ponto que creio que pões é: é bom e desejável que as pessoas estejam informadas e sejam cultas, mas quando a cultura não é muita a informação pode não ajudar muito. É isso não é? Eu penso muito isso quando me dizem que viram isto e aquilo na net. OK, viram na net, e depois?! Também lá vem outras coisas que às vezes contradizem aquilo que leram primeiro...

Anónimo disse...

Ups!!
Aconteceu-me como à AB, muitas vezes.
Aqui a Caixa comeu-me o nome. Quem escreveu o comentário de cima fui eu.
:D

Anónimo disse...

Bom,acho muito bem que a coisa esteja legivel e compreensivel já agora.E em letra que se veja.Bom por norma aqui eu não passava cartão nenhum às bulas dos remédios até que um dia tive uns sintomas secundários que me podiam ter levado desta para melhor e sentindo-me mal fui ler a coisa.Aí descobri que era uma das 100 pessoas num universo de mil a quem aquilo podia acontecer.A partir daí leio com algum cuidado sobretudo para ver se não há sobreposição de substancias com outros remedios que esteja a tomar(raro porque não tomo nada quasi)e que me tenha esquecido de informar o médico.Mas além dos problemas que a Emiele aqui referiu há outros:os das pessoas que sendo fóbicas ou hipocondriacas desatam a ter tudo quanto as contraindicações referem.Tenho uma amiga assim e digo-vos que é cá um inferno !AB

Anónimo disse...

Tal e qual AB. (Já é um facto estar muitas vezes de acordo contigo!!!)
Se por um lado, para pessoas com alguma cultura e bom senso, faz todo o sentido saber o que estão a tomar - como disseste, afinal até nas latas de conservas devem estar especificadas as substâncias que lá vêm...- o certo é que se exige que essas bulas tragam informações que são completamente técnicas. A culpa é do exagero da lei. Se lá estivesse o principal apenas, já a letra poderia ser maior, sem que cada caixa tivesse um quilo de papel lá dentro...
E o certo é que depende muitos dos meios culturais. Para pessoas com alguma formação e que sabem interpretar o que lêem (e sabemos que no conjunto da população são uma minoria) essa informação tem sentido. Mas até colegas de trabalho tenho, que nem o jornal sabem ler, quanto mais entender a composição de um medicamento!!!
Não se exagere, tá bem?!

Anónimo disse...

Também tenho uma colega como a amiga da AB.
Que nervos!!!!
Visto pelos olhos dela, como lê tudo ao pormenor e o que não sabe o que é vai procurar na net, TUDO pode fazer mal, mesmo o que é suposto fazer bem!....
Mas o que eu apoio é que se deve ter um BOM MÉDICO, no sentido de um em que se possa confiar plenamente, e que nos conheça bem, saiba o nosso historial. Claro que também se podem enganar, mas afinal é menos provável que o façam do que nós.

Anónimo disse...

Estava a ler isto e a enfiar uma carapuça...
Aconteceu-me andar a tomar um produto que um médico receitou, e uns tempos depois começar a ter uns sinais de umas coisas desagradáveis. De início não fiz associações, mas depois «espertamente» fui de facto ler com atenção a dita literatura e dizia que em casos muito raros podia isto e aquilo.
Parei logo!!!!
Marquei consulta e fui queixar-me ao médico, avançando com a minha ideia. Ele ficou admiradíssimo, garantiu-me que na quantidade em que estava a tomar eu teria de ter uma hipersensibilidade nunca vista, e sobretudo chamou-me a atenção para que tendo parado já há uns tempos os sintomas continuavam... Não podia mesmo ser daquilo.
E não era!
Em vez de tirar conclusões apressadas, o que eu devia ter feito era consultar um especialista desses sintomas que estava a ter. Perdi ainda bastante tempo antes de me tratar porque conclui estupidamente que a causa era o medicamento...

Anónimo disse...

Olá!
Bem, não tem directamente a ver com o post, mas é seu parente.
Como está ali na coluna do lado, fui ler o post do Vale de Almeida É genético, que mostra como se descobriu que ser cristão afinal... depende um um gene!!!
É hilariante!

josé palmeiro disse...

Estou, como é de esperar com todos vós!
Por princípio, acredito nos médicos, mas, atenção, naqueles que nos conhecem, que nos estudaram e que nos acompanharam nos transes, que cada um de nós tem passado e, mesmo esses, às vezes enganam-se e nada de mal em que, quem lê e interpreta os panfletos anexos, aos medicamentos, os interpele e com eles chegue à conclusão se deve ou não tomar ou optarem pela sua substituição.
Ouvi, outro dia na TV, que vai existir, on-line, um registo completíssimo em 3D, inclusivé, com toda a nossa história clínica. A ser assim só há benefícios, pois os erros serão muito menos justificáveis, apesar de podermos consultar um qualquer médico em qualquer estabelecimento de saúde.

Anónimo disse...

Concordo com tudo com o que já aqui foi dito, ou antes pelo contrário , é-me dificil concordar,Então AB tens o cuidado de comparar bulas e ver se há sobreposição de substâncias activas? Acho-as tão complexas que se levassemos em conta tudo o que lá vem escrito, não tomavamos o medicamento.Quanto a mim há que ter confiança no médico que nos acompanha e se tenho alguma duvida por reacção a um medicamento esclareço-me com ele.Por vezes ele muda-o já tem acontecido.

Anónimo disse...

Tudo muito certo.
Falta apenas um pormenor: quantas pessoas tem um BOM MÉDICO GENERALISTA que as acompanhe como deve ser?.... A história dos «médicos de família» dos Centros de Saúde a gente sabe como é. Mesmo quando são mesmo bons, os pobres têm de atender um monte de doentes e não conseguem seguir bem uma pessoa. Depois há uma elite que tem o seu médico particular no privado, OK. Esse tem o dever de conhecer o seu doente, mas quantas pessoas nos nossos 9 milhões, o têm?

O que não quer dizer que a esmagadora maioria das pessoas, muitas delas quase iletradas saiba ler aquilo! O que eu vejo é que muitos velhotes e pessoas de meios mais baixos se aconselham é na sua farmácia do costume, cujo farmacêutico conhecem pelo nome...

Anónimo disse...

Que lá venha o que lá vem não acho mal, mas o principal parece-me que é o que apontas, a proximidade com o médico de familia, tantas vezes inexistentes.

Alex disse...

A leitura das bulas dos medicamentos tem várias vantagens:

- a maior será ter conhecimento dos efeitos segundários e possíveis reacções adversas a fim de as podermos sentir e desencadear todas, ou pelo menos grande parte,de jeito informado e com a sintomatologia correcta;

- permite-nos ver para que tipo de doenças é prescrito e ter, assim, a noção de qual é a nossa doença, se o médico, e/ou a família não nos andam a enganar e/ou se o médico sabe o que anda a fazer:

- permite-nos concordar ou discordar da medicação com argumentos que estão ali explicadinhos preto no branco; acarrecta ainda esta alínea que possamos discutir com o médico, com o farmacêutico e com a porteira que toma o mesmo remédio e se dá muito bem.

- permite saber que diminui a eficácia dos betabloquedores de segunda geração e apresenta uma incompatibilitade com os corticoides não esteroides se tomado durande o periodo de semi-vida sistémica dos mesmos.

- permite ainda decorar a informação contida por forma a podermos receitar o nosso remédio à porteira que não se dá nada bem com o dela e apresenta sintomas "parecidos" com os nossos.

Terá ainda provavelmente outras vantagens que de momento não me ocorrem mas vou ler as bulas dos meus remédios e, se descobrir mais, comunico.

Anónimo disse...

Não me leves muito a sério Kika.Só comecei a fazer isso depois do episódio que relatei acima.Mas continuo a ler um bocado por alto e qt. às substancias não vou lá pela formula quimica.Vou por coisas mais terra-a -terra género sódio e magnésio não devem ser tomados ao mesmo tempo...E por aí me fico.AB

Anónimo disse...

Já agora a minha amiga costuma corrigir os médicos(tem imensos livros de medecina em casa)e qd. sai por exemplo para uma cidade estranha a primeira coisa a visitar são as farmácias homeopáticas ou qualquer coisa do género...não há nem paciencia nem alma para os inúmeros conselhos sobre nutrição ("se já puseste milho na salada porque é que comes uma fatia de pão")...e por aí fora.AB

cereja disse...

Esta amiga da AB é «um caso»... Mas também há as pessoas que são fanáticas das medicinas naturais, que eu aprecio, é certo mas não podem dar para tudo! No outro dia ouvi uma conversa divertidíssima de duas senhoras em que uma dizia a sério para a outra «Mas eu não consigo! Precisava de chá de *** para isto, e de chá de *** para aquilo, e de chá de **** para aqueloutro, e de chá de *** para mais isto, e de chá de ***, oh filha já viste os litros de chá que eu preciso?! Não dá...»

O comentário da Alex está impecável.
E, digo eu, ela sabe do que fala!!! :D