sexta-feira, dezembro 05, 2008

Responsabilidade

É motivo de espanto e até de ironia, o exagero dos pedidos de indemnizações que por vezes os americanos exigem quando sofrem acidentes que, para nós, seriam considerados ocasionais. Sorrimos, e dizemos entre nós «só lá!!!».
Isto porque no outro extremo da escala, em Portugal, nos resignamos a aceitar quase como ‘causa divina’ situações onde, muito obviamente, a responsabilidade de tal ter acontecido é ou de uma empresa ou de um serviço público (ou até privado...)

Mas afinal essa perspectiva de vir a responsabilizar quem imaginava estar ao abrigo de tal perigo, começa a aproximar-se. A notícia vem de Espanha, aqui ao lado:
um passageiro do metro de Madrid recebeu uma indemnização por ter sido agredido por dois desconhecidos Tal e qual!
Era suposto
que, «ao comprar o bilhete, estava a assinar um contrato de transporte, pelo que a companhia estaria obrigada a garantir a sua segurança dentro das instalações». Estão a ver?
E quando nós pagamos uma portagem para chegar mais depressa ao destino e as obras na estrada fazem com que nos atrasemos ainda mais? E quando os elevadores das estações de metro, necessários para idosos, pessoas com pouca mobilidade ou com crianças, estão sistematicamente avariados? Quando os passeios ou ruas estão crivados de buracos que nos fazem tropeçar e cair?

Eu sei que dado o estado das finanças de muitas Câmaras, se o cidadão fosse pedir indemnização quando torce um pé num buraco do passeio ou fura um pneu quando a rua está estragada, o descalabro seria total. Mas quanto aos 2 primeiros exemplos que citei (verdadeiros) trata-se ou de abuso ou de desleixo e as coisas talvez se alterassem se existisse uma penalização por isso acontecer.

Olhando isto em micro-escala, vejo o que se passa no meu prédio.
A escada até tem janelas, pelo que durante o dia não necessita de luz eléctrica; está sempre desligada, sendo os interruptores ligados pelo porteiro apenas quando escurece. Mas o meu porteiro, sente-se uma espécie de «delegado do senhorio» e zela ferozmente pelos seus (dele) interesses, poupando em tudo o que pode.
E assim, só decide ligar as luzes quando está bastante escuro. Muito escuro. Mesmo muuuito escuro. E como não há elevador, muitas vezes subimos vários andares às apalpadelas. Ele responde, arrogante, «porque é que não deixam a vossa luz acesa quando saem?»
Se um dia alguém caísse, partisse uma perna, e se provasse isso ter acontecido por má iluminação, creio que se poderia meter um pedido de ‘responsabilidade civil’, imagino. Mas tenho a certeza, conhecendo os meus vizinhos, que tal não passaria pela cabeça de ninguém!
Andamos de lanterna no bolso e já pensamos que somos previdentes!!!
Vivemos em Portugal...


6 comentários:

Anónimo disse...

Ai menina, isso dava pano para mangas....
Mas olha que há quem se atreva a processar as Câmaras por danos nos automóveis. Eu cá, imagino, que tenham sido as seguradoras quando o seguro é 'contra todos os riscos' que ficam zangadas e zás!

O caso do teu porteiro, é mesmo típico. ele acha mais natural os inquilinos deixarem a luz deles ligada o dia todo sem ser preciso, do que ligar a da escada assim que deixa de se ver bem... Os 'danos civis' devia ser ele a pagar e não o senhorio!!!!!!

josé palmeiro disse...

Para lá de toda a carga que, o que relatas, comporta, deixa-me referir o cão de guarda que voçês têm no teu prédio. É pior que um PittBull!
Esse é um comprotamento típico dos que detêm o poder, por muito pequeno que ele seja. Estava a ler e a lembrar-me da Reforma Agrária, símbolo maior da libertação dos trabalhadores agrícolas, do nosso país, pós-25 de Abril. Pois bem, uma das razões porque não vingou foi porque, os que ficaram à frente das cooperativas, o único objectivo foi substituirem-se aos patrões e exercerem o "mando", da mesma forma, criando o terreno fértil, para o descalabro que foi. Aí, esse tu "mordomo", é o braço estendido do agiota do patrão.

Anónimo disse...

Olha este País nao existe é um faz de conta , todos temos casos .Quanto aos acidentes nas partes comuns do predio imputaveis a falta de luz , avarias ou quedas de elevadores, salvo seja, piso escorregadio sei lá , não sou jurista, devem dar direito a indminização pois deve existir um seguro de responsabilidade civil para as partes comuns do predio ou colectivo se assim o entenderem.Discordo do KIng neste caso quem deve ser responsabilizado deve ser o senhorio, pois com certeza o porteiro limita-se a cumprir ordens daquele.Será ? se alguem souber mais sobre este asssunto, digam , isto tb interessa saber
O ponto de vista do Zé tambem é verdade e faz-me lembrar muita coisa com graça ou sem graça nenhuma em abono da verdade

Anónimo disse...

Diz o povo «se queres ver o vilão mete-lhe a vara na mão» e esse teu porteiro sentiu-se com vara...

Mas é certo que nós resmungamos muito mas não como deve ser. Por mim, acho que se devia sempre fazer a queixa. Não é como fazemos vulgarmente encolher os ombros e pensar «isto não vai dar nada»...

Anónimo disse...

Não posso concordar mais, Emiéle! A gente tem a mania de ir amochando e quando muito vai refilando com os amigos e mais nada. Os exemplos que deste são mesmo assim. Em Lisboa há poucas estações com elevador (só as novas) mas mesmo assim estão a maior parte do tempo avariados!!! e essa da cobrança da passagem pela via rápida mesmo quando ela é via lenta, também me deixa furiosa. é que muitas vezes nem existe alternativa!
Uma coisa que também até é ilegal ( a ASAE bem podia dar uma vista de olhos) é os produtos das montras não terem os preços à vista. O truque é forçar a pessoa a entrar na loja e depois envergonhar-se e acabar por comprar. E também me irrita quando nos Supermercados, os produtos brancos, ou mais baratos, acabam, e não mandam renovar o stock até venderem os outros mais caros.
Etc, etc, etc...
Essa do teu porteiro é só porque aí no prédio só há pacholas. Havia de ser no meu!!! Carregava-se na campainha da casa dele e só tirávamos o dedo quando houvesse luz!!!!!!!

cereja disse...

Olá meus caros.
Venho só responder aos vossos comentários que ao fim-de-semana como expliquei venho aqui só de passagem, deixar um sinal de que ando por cá e aprecio as vossas visitas. Desde há uns tempos que decidi que os fins-de-semana é mesmo para descansar!!!

Contei esta história porque associei realmente a 'irresponsabilidade' de empresas e instituições com esta pequenina aqui do meu prédio ( e porque mais uma vez, como a noite chega mais cedo, tenho de subir as escadas às escuras muitas vezes e isso irritou-me!)
De facto como disse o Zé Palmeiro, este senhor e a sua mulher -é um casal de porteiro - é mesmo um PittBull do senhorio. Eu penso que é um modo de se dar importância a si mesmo... Já tem acontecido, um inquilino pedir-lhe para ele comunicar alguma coisa ou fazer um pedido, e ele depois diz que o senhorio não quis quando afinal nem lhe disse nada!! Já o apanhámos nalgumas dessas. Mas é difícil hostilizar um sujeito que é nosso porteiro e também nos pode fazer a vida negra!!!!