Ouvido no metro
Mesmo sem querer é impossível não ouvir a conversa de duas senhoras, porque o tom em que falam sobressai sobre os outros sons.
Para além disso também chamam um pouco a atenção porque o ‘sotaque’ é o que se costuma caracterizar como das «tias da linha» - vogais muito arrastadas, e um tom um pouco enfastiado.
Uma delas perguntava por alguém, familiar da outra pelo que se entendia.
A resposta fez-me olhar para elas com mais atenção:
«Sabe como ele é…!» risos «Decidiu que andava cansado e tirou um ano sabático para ir fazer surf para a Austrália!»
A amiga riu-se muito, mas ainda indagou
«Mas quando regressou arranjou que fazer?»
«Oh, sim. Ainda esteve uns meses com o ****, mas depois ofereceram-lhe uma posição melhor e já mudou. A Tatá disse-me que ele está na dúvida se mesmo assim não fazia melhor em ir trabalhar com o ****.»
Podem não acreditar por eu dizer que ouvi isto no metro, que este tipo de conversa não se costuma passar num transporte tão plebeu, mas juro que assim foi.
E afinal aquelas senhoras são portuguesas. (??) Vivem na mesma terra e respiram o mesmo ar do que eu.
Mas... os seus familiares são fazer surf para a Austrália para desanuviar, e quando regressam, frescos e retemperados franzem o nariz ao primeiro emprego que lhe oferecem.
Lisboa, 2008? Parece que sim.
Para além disso também chamam um pouco a atenção porque o ‘sotaque’ é o que se costuma caracterizar como das «tias da linha» - vogais muito arrastadas, e um tom um pouco enfastiado.
Uma delas perguntava por alguém, familiar da outra pelo que se entendia.
A resposta fez-me olhar para elas com mais atenção:
«Sabe como ele é…!» risos «Decidiu que andava cansado e tirou um ano sabático para ir fazer surf para a Austrália!»
A amiga riu-se muito, mas ainda indagou
«Mas quando regressou arranjou que fazer?»
«Oh, sim. Ainda esteve uns meses com o ****, mas depois ofereceram-lhe uma posição melhor e já mudou. A Tatá disse-me que ele está na dúvida se mesmo assim não fazia melhor em ir trabalhar com o ****.»
Podem não acreditar por eu dizer que ouvi isto no metro, que este tipo de conversa não se costuma passar num transporte tão plebeu, mas juro que assim foi.
E afinal aquelas senhoras são portuguesas. (??) Vivem na mesma terra e respiram o mesmo ar do que eu.
Mas... os seus familiares são fazer surf para a Austrália para desanuviar, e quando regressam, frescos e retemperados franzem o nariz ao primeiro emprego que lhe oferecem.
Lisboa, 2008? Parece que sim.
8 comentários:
Cá está.
Não admiro nada, a não ser o que disseste ter sido ouvido no metro. (se calhar o carro tinha ido à revisão...)
Cada vez mais caminhamos para sermos um país de extremos. Há alguns a quem caiem os empregos ao colo, e outros que endoidecem à procura do primeiro, mesmo com um canudo no bolso....
Gramei as Barbies...
O que me chocou foi o tom leve e brincalhão da conversa, em comparação com aquilo que vemos por todo o lado de jovens desesperados a lutar por alguma estabilidade que lhes permita fazer planos de vida.
O jovem que foi «de sabática um ano surfar para a Austrália» é muito possível que nem tenha de alugar ou comprar casa, porque provavelmente já tem uma de família... Tanto lhe faz saltitar de emprego para emprego porque não precisa de pedir nada ao Banco. E os outros...?!
Cá está, isto comprovaa o que eu digo, no comentário à "crise económica", na verdade ela é só para alguns, sempre os mesmos, diga-se de passagem.
Ao fim-de-semana o meu horário populiano é diferente!!! Só agora cá cheguei.
A história é fantástica mas plausível.
Como diz aqui o amigo Zé estamos cada vaz mais «terceiromundistas», ricos mais ricos e pobres mais pobes.
E a classe 'do meio' derreteu-se!
Esta conversa completamente verdadeira (só não me preocupa reproduzi-la aqui porque sei que nenhuma das duas «tias» vai chegar alguma vez a ler o Pópulo!) parecia surrealista por a ter ouvido onde ela se passou, na voz daquelas senhoras loiras, bronzeadas, de óculos escuros, cheias de pulseiras doiradas, e neste país que se imagina ainda do Primeiro Mundo.
Mas cada vez mais perto do 3º...
Enfim...
Bom, o que cada um faz compete-lhe a si. E, como se costuma dizer, com o mal dos outros podemos nós bem. Embora seja uma frase infeliz, não deixa de ser muito verdadeira.
Emiele, sou siceramente dos que defendem as sabáticas. Havendo possibilidades para tal. Seja a fazer surf na Austrália, seja a cumprir um serviço civico, seja a aprender agricultura, seja a escrever, seja a pintar, seja a não fazer rigorosamente nada ;)
Um abraço.
Miguel, aqui a ironia não foi a existência de uma 'sabática', (porque para ser sincera até me pareceu que a expressão foi usada sem o ser na sua verdadeira acepção, foi um modo de falar...) mas a verdade é que entre as pessoas que conheço ninguém teria possibilidades económicas para ir um ano para uma terra como a Austrália com aquilo que ganhasse - mesmo nesse tempo de sabática! e pela continuação da conversa podíamos ver que a pessoa em questão tinha, ao regressar várias hipóteses de trabalho, coisinha que hoje, mesmo de posse de um canudo muita gente que conheço se vê atrapalhada para concretizar.
Por isso disse que me prece que nos aproximamos de um 3º mundo. Exagerei, eu sei, mas a verdade é que cada vez se observa em Portugal o aumento dos extremos.
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