quarta-feira, setembro 17, 2008

Os mistérios da economia

Nestes últimos tempos não tenho andado tão informada (ou procurando informar-me) das realidades que me rodeiam como gosto de fazer.
De um modo geral gosto de partilhar aqui no Pópulo o que penso das notícias mais relevantes à espera do que me possa dizer quem passa por aqui, mas a minha vida pessoal ultimamente tem bloqueado essa comunicação.

Contudo é certo que, por mais distraída que ande, tenho de ouvir o que se passa com a tal AIG.

O que eu sabia, era que se tratava de uma Companhia de Seguros. Grande. Importante. Gigantesca mesmo.
Segundo o seu site
o American International Group é o grupo financeiro que, operando em mais de 130 países, lidera os sectores segurador e de prestação de serviços financeiros a nível mundial.
A sua reconhecida solidez financeira assenta na diversificação internacional dos vários negócios do grupo.
Dos seguros aos fundos de pensões, da gestão de patrimónios à locação financeira, [...etc]
Mas…

A grande notícia dos últimos dias é que aquilo está a cair como um castelo de cartas.

Hoje dizia-se
que ela tem um dia para conseguir 80 mil milhões de dólares e evitar a falência Ou seja, é possível que venha mesmo a falir.
E o que acontece a quem tem lá os seus bens seguros? Fez-me confusão ler que:
«o grupo AIG possui 74 milhões de clientes em todo o mundo [….] que não terão segurados os seus bens em caso de falência da AIG»
A mim parece-me um estranho jogo de espelhos – então uma pessoa deve ‘
segurar-se contra o risco da sua seguradora falir’???
E quem garante que a que fez esse seguro não entra também em falência…? Será necessário um terceiro seguro?


Não imaginava que tudo isto pudesse acontecer.

As minhas lacunas em economia são ainda mais profundas do que eu já sabia.


16 comentários:

méri disse...

Olha, estou como tu!
Fico a aguardar as opiniões dos teus comentadores entendidos em economia...
xi-coração :))

cereja disse...

Olá Méri!
Que bom a tua visita (às nossas horas...)
Tenho andado um tanto fragilizada e todas as visitas me sabem muito bem.

Anónimo disse...

Olha que a leitura que fizeste é possível, mas inclino-me para uma redacção confusa do ponto de vista do português. O que o jornalista devia querer dizer é que esses milhões de clientes, no caso da tal falência, ficam sem seguro - o que é natural. Isto imagino eu, por uma questão de bom-senso.
Pior é, quando a falência é de um Banco, aí é mesmo o dinheiro de quem lá o pôs que desaparece!!! Neste caso, pela minha leitura, desaparecem as apólices, mas podem fazer novas noutra seguradora.

Anónimo disse...

Hoje venho cá logo de manhã para não me acontecer como ontem!
Esta história é impressionante como as coisas acontecem numa sociedade capitalista deste tipo.
Uma derrocada enorme que vai apanhar milharese milhares de pessoas e empresas que não têm a menor culpa.

Anónimo disse...

RS, se calhar tens razão, mas o modo com está escrito, eu também pensei o mesmo que a Emiéle. Um seguro sobre os acidentes de uma seguradora. ;D

josé palmeiro disse...

Sobre economia, também nada pesco.
O que eu sei é que tinha um seguro na AIG, via ACP, leia-se Automóvel Clube Portugês e se se confirmarem as notícias, fico sem o seguro e sem o dinheiro que já tinha pago.

shark disse...

O RS tem razão. Até porque não dá para segurar o risco de falir a seguradora... :-)
Porém, existirão casos em que os clientes da companhia não irão conseguir as mesmas coberturas e provavelmente os mesmos preços de que usufruem na AIG. Mas contra isso batatas...
Parece-me é que as pessoas estão a correr ao resgate dos seus PPR, perdendo os benefícios fiscais, quando podem por lei transferi-los para uma seguradora por falir...

Anónimo disse...

Bom Dia Shark!
(sabes que raramente ou nunca comento no teu blog, mas vou lá bastane a partir aqui do Pópulo...)
Bem, por acaso, ao ler o que ela escreveu, queres acreditar que pensei em ti e dei um salto ao Charquinho? Achei que devias estar como peixe na água, cof...cof... tubarão na água quero dizer)

Também estranhei essa de segurar o risco da falência, mas olha que acreditei.
Lá na América cobrem-se riscos tão birrazos...

shark disse...

Um peixe aflito, King, pois isto já anda tremido para os mercadores da actividade seguradora e estes abanões nunca trazem seja o que for de bom... :-)
E até já estou a proceder à "reengenharia" pessoal para mudar as agulhas antes que seja tarde demais.
Mas para já, embora se note alguma aflição e desnorte nos decisores, parece que as coisas ainda estão controladas.
Vamos a ver, por exemplo, qual era o peso da AIG ao nível do resseguro pois podem advir daí alguns embaraços para as seguradoras mais pequenas que o tenham acautelado junto deste colosso com pés de barro.
Abraço.

cereja disse...

OK, com esta vossa interpretação, a coisa faz mais sentido, e não é tanto esse jogo de espelhos.

Obrigada, Shark, pela ajudinha no entendimento do fenómeno (tal como o King, lembrei-me logo de ti, amigo 'seguro')

Anónimo disse...

Imaginar imaginava, vem nos livros e talvez ja tenha havido coisas parecidas, que os aprendizes de feiticeiros desdenham, talvez tenham deitado fora os keynesianismos cedo de mais.Mas rs podia aprofundar mais os seus raciocinios? seria bem vindo.

Anónimo disse...

Bom, do que pude "apurar" no que à realidade portuguesa os direitos dos clientes da AIG em Portugal estão totalmente assegurados. Ver link http://www.isp.pt/NR/exeres/FEA6C3DF-D6DB-4B65-B7DF-85D64D59DF40.htm

Agora, vamos falar um pouco da AIG e dos outros todos (Lehman Brothers, Washington Mutual, HBOS, Fannie Mae, Freddie Mac, Countrywide, etc, etc, etc, etc, etc).

Como dizer isto em poucas palavras? Resumindo:

1. De 2002 a 2006, o endividamento das famílias americanas aumentou a um ritmo anual de 11%;

2. No mesmo período, as empresas recorreram ao crédito para se financiarem ao ritmo de 10% ao ano;

3. Ambas taxas de crescimento ultrapassaram de longe o crescimento do PIB;

4. A bolha imobiliária rebentou e este fenómeno está a levar tudo atrás devido aos excessos cometidos, entre os quais:

4.1. Venda, revenda, revenda e mais revenda de créditos;

4.2. No caso da AIG, como seguradora, a popularização dos CDS - Credit Default Swaps - e que nada mais eram do que "seguros" que permitiam a quem emprestava a outrem segurar-se contra a impossibilidade desse outrem não pagar. O mais grave é que os CDS eram também utilizados como investimento financeiros propriamente dito em função do que era a percepção do mercado relativamente à saúde financeira das entidades sobre as quais existiam os CDS;

4.3. Para se ter uma ideia da dimensão dos CDS, há 10 anos havia CDS emitidos sobre $144.000 milhões de dólares. Neste momento, os CDS existentes recaem sobre $62.000.000 milhões (ou $62 biliões) de dólares. Brutal!

5. Bom, o grande problema disto tudo é que com o reconhecimento de prejuízos atrás de prejuízos, $18.000 milhões de dólares nos últimos trimestres, e a rápida deterioração quer dos rácios de capital quer dos seus activos, com o subsequente aumento do custo de financiamento de curto prazo, a AIG precisava desesperadamente de capital para "aguentar";

6. Durante o fim-de-semana, várias ofertas foram feitas, incluindo uma de $20.000 milhões por 50% da companhia... (os abutres são assim!);

7. A administração da AIG conseguiu autorização para ir buscar $20.000 milhões a subsidiárias para "resolver" o problema faltando apenas outros tantos para ficar em "condições";

8. Porém, ao longo do fim-de-semana, ficaram a saber que afinal os $40.000 milhões não eram suficientes já que uma outra unidade do Grupo informou a Administração que precisava urgentemente de $20.000 milhões...

9. Resumindo, ao longo do fim-de-semana concluíram que precisariam de pelo menos $60.000 milhões mais alguma coisa sem que se soubesse quanto era esse mais alguma coisa;

10. Com a rápida deterioração da situação da sociedade, eminente falência e incapacidade de cumprir com as suas obrigações, as diversas agências de rating (Standard & Poors, Moody's, etc) baixaram o rating da dívida da AIG em três níveis, de uma assentada, obrigando a que esta tivesse que encontrar urgentemente quase $15.000 milhões de dólares em colaterais para cobertura de financiamentos existentes e alguns do financiamentos poderiam ser de imediato reclamados por parte dos credores devido à baixa da notação da dívida o que daria uns adicionais $5.000 milhões de dólares;

11. Ou seja, era insustentável, em tão pouco tempo, resolver a situação;

12. Perante o cenário catastrófico de colapso do sistema, o governo americano aprovou a intervenção na AIG que se resumia ao seguinte: cedência de $85.000 milhões tendo como contrapartida 80% da AIG sob a forma de warrants, numa entrada de "leão" já que o capital será remunerado à taxa Libor + 8% o que dá qualquer coisa como 11% anual!

13. A administração da AIG só tinha 2 alternativas: aceitar a oferta da FED ou recorrer ao Chapter 11, ie, falência.

Não é só isto, mas para já penso que dá para se ter uma ideia do que se passou.

Quanto ao que se passa, a alavancagem é muito elevada e será necessário desalavancar. Aqui é que a porca torce o rabo. O "lixo", ou como os americanos já apelidaram de "toxic assets", existente nos balanços das empresas ainda vai provovar muitos estragos a nível mundial.

cereja disse...

Vivó Miguel!!!
(está claro que como deixo prever nas entrelinhas do post estava desejando que alguém que percebesse mais me ajudasse; e pensei no Shark porque está na área dos Seguros e em ti quanto à Economia mais global)
Se aquilo, como tu dizes, tinha esse «Credit Default Swaps - e que nada mais eram do que "seguros" que permitiam a quem emprestava a outrem segurar-se contra a impossibilidade desse outrem não pagar» eu já entendo mais.
Ou seja, não é um seguro sobre o seguro, mas seguro sobre o crédito.
Já entendo.

Anónimo disse...

Esqueci-me de referir, há instantes, que esta é a pior crise "sistémica" desde os anos 30!

Há instantes, foi anunciado que o Lloyds concorda em adquirir o aflito HBOS - especializado em crédito hipotecário - por 12.200 milhões de libras, operação patrocinada pelo governo britânico, criando um gigante e líder no Reino Unido no crédito hipotecário com activos avaliados em quase 1 bilião de libras (pelo menos, por enquanto!).

Por outro lado, notícia de última hora, diversos bancos centrais do mundo - entre os quais a FED, BCE, Banco de Inglaterra - vão desencadear uma acção concertada para dar algum oxigénio aos mercados monetários...

Pois é, tudo isto no nosso tempo de vida. Extraordinário.

Anónimo disse...

Último comentário Emiéle. Olha-me só para esta notícia lol:

"Numa acção sem precedentes, as transacções de valores mobiliários na bolsa de valores russa foram suspensas ao meio-dia de 4ª feira até novas ordens. A acção das autoridades deveu-se à desvalorização de 20% na 1ª hora de negociação dos 2 maiores bancos russos."

Convém adicionar que só na 3ª feira a bolsa russa caiu 9,35% e o índice mais seguido, o DJRUSTitans10, caiu 17,06%. Ou seja, durante o mês de Setembro, a bolsa russa perdeu, em capitalização, $45.768 milhões de dólares, ie, 32,37% da capitalização total!!!

Isto explica uma das razões para a valorização do dólar nos últimos tempos. Tem havido vendas maciças de posições em mercados "periféricos" e/ou emergentes, em particular os BRIC, e consequente repatriamento de capitais. Dito de outro modo, venda de posições em moeda local e procura de USD para mandar para "casa".

Aproveito para terminar dizendo que uma parte substancial do aumento do preço do petróleo se deveu a especulação e à alavancagem em derivados tendo por base o crude, levando-o a quase $150 por barril. A desvalorização subsequente deveu-se à instauração de uma comissão de inquérito nos EUA às razões reais por detrás do aumento do preço do barril e à tentativa de controlar a especulação do papel relativamente ao físico. Desde esse momento até agora já retiraram do mercado de futuros de petróleo largas dezenas de milhar de milhões de dólares. Por outro lado, desde a subida do preço aliado ao arrefecimento económico, a procura por petróleo no mundo desenvolvido (EUA+Canadá, Europa e Japão) caiu em 1 milhão de barris por dia!

E fico-me por aqui ;)

cereja disse...

Fica por aqui se não tiveres mais tempo, mas não por qualquer outro motivo.

Com a maior das sinceridades Miguel, gosto imenso quando me ajudas nestes campos que eu desconheço, sobretudo porque tens uma qualidade excelente que é 'simplificares' as explicações. Falas connosco em Português não economicês, e a gente percebe tudo! É uma sensação muito agradável...