terça-feira, julho 15, 2008

Uma visão

Ontem de manhã ao passar pela Almirante Reis, quando se vira para o Largo de Santa Bárbara, reparei num Edifício muito grande e de certa forma imponente, que tinha o dístico e o emblema do Banco de Portugal.
Nunca tinha reparado nele, talvez por passar por ali pouco a pé. É um prédio de linhas modernas, que tem ao longo de parte das paredes uns rebordos grandes, creio que de pedra mármore, como enfeites, imagino.

Como eu disse, era de manhãzinha, ainda não eram 9 horas.

Esses rebordos, bastante fundos, situam-se a alguma altura do chão. E reparei então que um sem-abrigo os tinha adoptado como se fosse uma cama, mas cama quase “a sério”! Tinha colocado lá em cima um colchão de molas, que possivelmente alguém teria deitado fora mas com bom aspecto, creio ter visto também uma almofada, e já não sei se ele estaria tapado com cobertores ou um edredão.
Com algum pudor não quis olhar com atenção e pode ter-me passado alguma coisa, mas a imagem merecia ser vista com atenção.
Parecia uma metáfora. Um sem-abrigo normal- pelo menos os que estamos habituados a ver - dorme num banco de jardim qualquer, em cima de cartões, tapa-se com uns panos ou uns jornais, mas aquele era… o «sem-abrigo-do-Banco-de-Portugal» não era um qualquer!

O contraste era espantoso!
O símbolo da riqueza da nossa terra, com a pobreza mais óbvia.
Mas, o certo é que aquela era uma pobreza com colchão de molas.


7 comentários:

Anónimo disse...

Por isso é que andam a acabar com as caixas multibanco naquela especie de patamar entre as portas dos bancos e a rua que eram fechadas...A 1ª vez que vi uma coisa dessas foi em NY há muitos anos e até fotografei.Mas agora por curiosidade:-que andas tu a fazr a pé por essas horas da manhã junto ao Largo de Santa Barbara?Não é propriamente um excelente sitio para passeios...AB

cereja disse...

Depois te conto.
Tem a ver com o... Banco de Portugal. Uma história kafkiana!

Anónimo disse...

Metáfora, parábola, eu sei lá, mas a história é exemplar de facto!
Devias ter chamado ao post
«O pobrezinho do Banco de Portugal»
LOL!!!

Anónimo disse...

É mesmo «uma visão» dos tempos modernos!
Mas sabes que já tenho pensado, quando vejo alguns colchões ao pé de contentores do lixo, que aquilo bem podia ser aproveitado por quem dorme na rua.
Colchões e não só! Maples, mesas, deita-se fora coisas que a mim me espanta como é que não lhes acham serventia...

Anónimo disse...

Está mesmo tudo dito:
O-sem-abrigo-do-colchão-de-molas!!!!

:))
E olha que com este calor, deve estar muito melhor ali ao ar livre, assim acampado à sombra do Banco de Portugal, do que encafuado num buraco qualquer que é como algumas casas (???) são.

Anónimo disse...

Eu também já o vi!!!

Anónimo disse...

Nestas paragens chuvosas e nubladas tb se encontram muitos sem-abrigo. Nesta cidade relativamente tranquila onde moro surgiu um projecto interessante da Câmara para os sem-abrigo diurnos, os quais tinham o hábito de se instalar nos degraus da estação de comboios, usando-as como bar a céu aberto. Só que chove muito, por isso, acabavam por entrar na própria estação, o que ainda incomodava mais os passageiros. A solução foi porem à disposição um contentor de metal grande, aberto na parte da frente, afastado da estação. Agora, reunem-se aí, junto a um parque de estacionamento para beberem as suas cervejinhas...E esta?