sábado, junho 28, 2008

A questão dos exames

Está complicado.
Parece que se estão a estremar posições e tenho algumas dúvidas se com isto se defende o ensino.
Esta história dos exames fáceis ou difíceis, com boas ou más classificações, com provas verdadeiras ou ‘falseadas’ por demasiado generosas, e a acusação de que o Ministério da Educação está a pretender desesperadamente provar que o ensino subiu de qualidade uma vez que os examinandos passam nos exames, é uma história complicada. Quem vai ouvindo isto e aquilo, fica com a sensação amarga de que andamos a passear nos bastidores da ‘politiquice partidária’ e não se olha a sério para uma avaliação do ensino.

A escola faz-se para ensinar. Os professores ensinam, os alunos aprendem, e no final do ano lectivo avalia-se o estado dos conhecimentos.
Pode ser uma avaliação continuada, mais justa, ou um exame pontual como sempre se tem feito. Mas uma avaliação terá de existir sob pena de não se vir a conhecer o que de facto foi aprendido.

Nesta guerra professores-ministério, parece ter-se entrado numa fase estranha. Há quem pretenda que a avaliação final dos alunos está a ser demasiado tolerante, para se achar razões para concluir que a qualidade do ensino melhorou muito.

Será assim?

É certo que se conta a história de que a directora da DREN teria dado instruções para
excluir da correcção das provas «aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média», aceitado aqui que a distância seja por cima, ou ‘traduzindo’ = professores mais exigentes.
Claro que toda a gente concordará que os “alunos têm direito a ter sucesso” como lá se diz e “honra o trabalho do professor o sucesso dos alunos”. Mas… sucesso é igual a saber, ou igual a passar?
Que os critérios devam ser uniformes, isso parece plenamente justo. E, se calhar, só respeitando ao máximo essas normas pode haver igualdade de critérios.
Por outro lado, não é exigindo exames difíceis que se promove o bom ensino, quando muito filtra-se melhor quem é digno de ser elite.
Creio que o foco da questão está voluntariamente deslocado para o modo de avaliação e não para aquilo que foi ensinado.
Um erro de pontaria, quanto a mim.




12 comentários:

cereja disse...

Deixo uma nota como 'comentário' para dizer porque escolhi a imagem do filme «Clube dos Poetas Mortos» como ilustração. Era uma história sentimental, mas que punha de facto o acento tónico onde ele deve estar: o ensino é bem mais de um ritual, uma técnica fria de transmissão de conhecimentos, pode ser uma paixão e quando se dá o 'clic' professor-aluno, nada vence esse elo fortíssimo. Quem não guarda no coração algum professor que nos marcou para sempre?

josé palmeiro disse...

Colocaste, em comentário, a mais acertada resposta, à questão.
Concordo, inteiramente, contigo.

Anónimo disse...

É curioso, pensei que este post fosse o que tivesse mais comentários e afinal estes dois que apareciam era contando com um teu!
Eu ando por aí com a mesma dúvida.
Até que ponto esta luta, que chega ao parlamento, e tal e coisa, não é uma partidarite aguda que precisa de um forte antibiótico.
Anda tudo à batatada, mas a tal famosa reforma do ensino, nicles!

Anónimo disse...

Sabes, Emiéle, com a imagem com que rematas o teu post, para mim está tudo dito, nem era preciso a explicação do «primeiro comentário».
No momento em que nos orientas para esse filme ( e a imagem dos alunos de pé em cima das carteiras é daquelas que não esquece, de comovente que é...) está tudo dito sobre aquilo que pensas que deve ser o ensino.
E que não tem a ver com rankings de escolas, com a luta de públicas versus privadas, com exames exigentes ou fáceis.
Aquilo para que chamas a atenção é que ensinar e aprender é muito mais do que aquilo que se pode medir num exame.
Acho eu.

Anónimo disse...

Muito interessante este post.
Ficamos a pensar.

Anónimo disse...

Estou como a Mary, até pensei, quando dei uma olhadela pelos posts todos, que este fosse aquele que atraísse mais opiniões!
OK, desviaste a corrente do rio para outro leito (não gostam da imagem?...) :D
Contudo, politiquice ou não, é realmente estranho que as tais notas de matemática subissem tão misteriosamente de um ano para outro. Claro que se pode pensar às avessas - nos outros anos a avaliação era excessivamente exigente?!

cereja disse...

OK, ainda bem que o essencial do que eu queria dizer passou tão bem!
Às vezes receio que, como a AB me chama a atenção, seja demasiado 'explicativa'... :))

Anónimo disse...

Olhaaaaaa!
Foi preciso eu dizer que este post estava 'caladinho' para o contador de comentários começar a trabalhar!
Passo por mentirosa!

Anónimo disse...

Não creio que se possa falar de erro na pontaria.Esta está certa, julgo, e pretende-se mesmo falar quase só de avaliação e exames. Competição, competição, competição é o que pretendem, e é muito mais facil falar de exames do que no "resto".Em tudo para alem disto concordo com emiele, com as achegas dadas.

cereja disse...

OK, FJ, reconheço que essa do 'erro de pontaria' foi erro de pontaria meu. Eles, se calhar, é mesmo disto que lhes interessa falar e não de uma versão mais séria do que pode vir a ser um bom ensino.
Eu é que me ralo um tanto com isso, e daí ter virado a agulha.

saltapocinhas disse...

nem falei sobre este assunto porque não tenho conhecimento de causa...
as provas que eu conheço -as do 1.º ciclo - não me chegam para tirar conclusões: as provas foram identicas às do ano passado

cereja disse...

Também penso que ao nível dos teus meninos não deve ter chegado a polémica, Saltapocinhas. Mas que se discute muito (parece que já anda na Assembleia da República) é certo.