História
Numa entrevista feita a respeito dos acontecimentos de maio de 68, li a resposta de uma jovem que respondeu, muito despachada, como se a questão fosse uma parvoíce: «- Sei lá o que foi! Eu ainda nem tinha nascido!!!»
É uma frase que tenho ouvido muitas vezes quando se fala de acontecimentos da história próxima. Naturalmente que a nós choca-nos quando é resposta em relação ao «25 de Abril» mas é bom ter a ideia de que este não é um fenómeno português, passa-se por todo o lado, porque tenho ouvido isso referido a jovens americanos, franceses, ingleses: Não sabem nem querem saber o que se passou há 50 anos.
Se a questão fosse quem descobriu o caminho marítimo para a Índia, ou quais os príncipes da ‘ínclita geração’, poderíamos talvez ouvir que não eram muito bons em História mas só se quisessem ser engraçados diriam que «ainda não tinham nascido».
Eu não sei se consigo ser imparcial, porque gosto de História. Fico sempre de boca aberta quando oiço a desculpa de que «aquilo é só decorar» porque, se bem que se tenha de fixar algumas coisas – como, de resto, seja o que fôr que se queira aprender - para mim é uma matéria fascinante, e que me interessa profundamente. Mas o «arrumar» os acontecimentos mais recentes da História com a justificação de que não são do nosso tempo, é coisa que me deixa sempre espantada.
É uma frase que tenho ouvido muitas vezes quando se fala de acontecimentos da história próxima. Naturalmente que a nós choca-nos quando é resposta em relação ao «25 de Abril» mas é bom ter a ideia de que este não é um fenómeno português, passa-se por todo o lado, porque tenho ouvido isso referido a jovens americanos, franceses, ingleses: Não sabem nem querem saber o que se passou há 50 anos.
Se a questão fosse quem descobriu o caminho marítimo para a Índia, ou quais os príncipes da ‘ínclita geração’, poderíamos talvez ouvir que não eram muito bons em História mas só se quisessem ser engraçados diriam que «ainda não tinham nascido».
Eu não sei se consigo ser imparcial, porque gosto de História. Fico sempre de boca aberta quando oiço a desculpa de que «aquilo é só decorar» porque, se bem que se tenha de fixar algumas coisas – como, de resto, seja o que fôr que se queira aprender - para mim é uma matéria fascinante, e que me interessa profundamente. Mas o «arrumar» os acontecimentos mais recentes da História com a justificação de que não são do nosso tempo, é coisa que me deixa sempre espantada.
Para mim a chave dessa posição está na motivação. Os factos da história-política não interessam. Os mesmos jovens (ou adultos, porque não?) que dizem que «não sabem porque não tinham nascido», nos assuntos que lhes interessam sabem tudo até muito bem! Se lhes falarem dos anos em que o seu clube de futebol ganhou o campeonato, ou de grupos que pratiquem o tipo de música que mais apreciam serão capazes de “recordarem” acontecimentos bem mais antigos do que as suas vidas.
O que falta no interesse pela História é a motivação. E muito particularmente a História próxima.
E porque será?…
O que falta no interesse pela História é a motivação. E muito particularmente a História próxima.
E porque será?…
14 comentários:
Os adultos também, a frase nem é só de miúdos. Oiço dizerem com um ar enjoado - «isso ainda eu não tinha nascido» encolhenco os ombros.
Também fico a pensar como é que funciona a cabeça dessas pessoas...
É normal.
Então tu não gostas de matemática?...
Eles não gostam de História.
Opções.
Claro que é a motivação.
E posto isso, o que se pode fazer?...
Olha a série do «Conta-me como foi» tem ajudado bastante.
E há filmes de época que também.
Se assim não for não sei como será.
A gente estranha chegar aqui e só agora entrarem os posts...
E estranhamos também estares 'longe' do dia a dia que costumas comentar, mas entende-se se tiraste umas férias.
E tem a sua piada que este estilo faz com que escrevas posts mais longos. Também não me queixo.
(já vi que por aqui há quem goste de História e quem... nem por isso)
É que, como dizes, há a ideia de que os acontecimentos muito recentes não fazem parte da História, e são uma espécie de coscuvilhice...
Eu,como jovem adulto e que adora História acho que os acontecimentos recentes estão ainda envoltos numa nuvem ideológica que por vezes só confunde quem não era nascido na altura. Dou um exemplo recente.A esquerda parlamentar recusou prestar homenagem,com um minuto de silêncio,ao Cónego Melo por este ter realizado actos terroristas nos anos seguintes à revolução. Até aqui tudo de acordo. O pior é que mesma esquerda parlamentar regozijou-se com a não condenação de outro grupo terrorista,as FPs-25 .O que quero dizer é que por vezes aborrece-me que se perca tempo no parlamento com estas discussões quando há tanta coisa bem mais importantes e presentes do que estes fait divers ideológicos.
Há uns meses atrás nos prós e contras,os oradores perderam 1hora a discutir a nomenclatura da Guerra Colonial/do Ultramar ou da Libertação.
Estou, na tua onda.
Faço aqui relevo da ilustração que escolheste. Quantos reconhecerão nela, os, não muito velhos "Tipos" de tipografia? Refiro que ainda se usam, tal como os linotipos, já mais recentes, mas também obsoletos.
Já tive algumas épocas dificeis na vida, uma delas, não tão curta assim, foi devida a ter sido aluna do meu pai em História (e Filosofia e Org. Política mas esta última tinha graça dada por ele). Coméntários à parte, um belo dia o Chico-Esperto-Repetente da turma respondeu ao meu pai "Não sei Stôr, ainda não tinha nascido". O meu pai irritou-se, para dentro, e disse-lhe com ar displicente "Que você não nasceu é óbvio, você existe e, se vier a manifestar alguma vontade e mérito pode ser que um dia seja dado à Luz". (Hoje seria o fim da sua carreira académica)Motivação? Sim, será mas não fica por aí. Há um enorme desinteresse porque "não tem aplicação prática" e depois há as santas cabecinhas...abençoadas
Uma coisa é pensar como dizia o O'Neill que "a água nasce nas torneiras".Outra é não interessar muito o passado para interpretar o presente.Outra ainda é conhecer o passado e fazer as suas próprias escolhas independentemente desse passado.Quanto ao gosto pela história em relação com a "coscuvilhice" escandalize-se quem quiser mas que tem a ver tem.Conheço muitos historiadores que confessam isso mesmo e eu que não sou de História mas gosto imenso,como já se deve ter percebido, acho que devo ter um interesse especial por "saias de baixo".AB
Alexzinha, o engraçado é que o nosso parentesco não é pelo lado dos respectivos pais, mas fomos as duas alunas do nosso e nas mesmas disciplinas! Para mim foi complicado porque sou caprichosa e queria ser a melhor aluna dele e tive colegas excelentes que me fazia suar...
Estou a imaginar a história que me contas, no tom que o teu pai sabia usar. Mas como se vê, essa gracinha já vem de longe como o brandy Constantino...
AB, uma coisa não anula a outra. Podemos gostar de «coscuvilhice» e saber uma espécie de fait-divers históricos, e interpretar o que se passou de modo a entender como tudo se relaciona.
Li que se vai reeditar a "História dos Descobrimentos" do Magalhães Godinho, que está esgotada há muito (e eu perdi o meu livro num daqueles empréstimos que nunca nos devolvem...) e lembrei-me de que no último episódio do «Conta-me como foi...» o professor insistia de ponteiro em punho que os descobrimentos tinham sido motivados para expandir a fé cristã... Pois.
parece que há pessoas que se orgulham em exibir a sua ignorancia!
tristes espíritos, devem ter umas vidinhas tristes!!
Não sei se é "orgulho em exibir a ignorância", Saltapocinhas, mas lá que parece uma certa arrogância, parece. O tom, é de «não-sei-nem-me-interessa».
Eu não disse que nada anulava nada,Só acrescentei uns pózinhos...Qt. à coscuvilhice está "quási" provado.Mas há algum mal nisso?AB
Ai AB, eu não disse que tu disseste!!!! Estou só a dar a minha opinião. Um dos livros que li como um romance foi a História de Inglaterra de André Maurois, e a ver bem, é mesmo um romance. Mas aprendi História também. (nem sei porque me lembrei disso, mas acho que foi por de facto o ter lido como um verdadeiro romance!)
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