quarta-feira, maio 14, 2008

Ganhar

Em conversa com uma amiga veio a talhe de foice uma atitude do seu mais novo que a tinha encanitado. Não fixei muito bem o que era, um destes concursos de TV para os quais os espectadores votam. Como ele tem telemóvel, costuma votar. Não que lhe interesse especialmente, mas como é convidado a votar, e como o apresentador diz apontando o dedo «você é que decide», ele lá acha que decide, e pronto, manda um voto a 50 cêntimos para ajudar o canal a arredondar os seus lucros.

Até aqui tudo bem, ou mal, mas enfim não era a questão. O que a irritou é que da última vez, sendo duas concorrentes quase iguais, ganhou uma delas que não foi aquela onde ele tinha votado. Expressão contrariada, e desabafo: «Se imaginasse, tinha votado na X» ou seja na vencedora.

A mãe não entendia. «Mas não votaste por ser melhor?» «Não, elas eram iguais, votei na que pensei que ia ganhar» Isto era incompreensível para a minha amiga, se ele já achava que a) ela ia ganhar e b) eram do mesmo valor, então para que votou?...

Eu creio que isto se passa muito. O que pode explicar que haja quem mude de clube de futebol quando ele perde ou, ainda mais, de partido (embora aí talvez por outros motivos).

O desejo de partilhar um pouco da glória de quem vence, de pensar “apostei num vencedor, eu sou como ele”.

O que se aposta é na vitória propriamente dita, não nas razões porque é justo que haja uma vitória.

E o complicado é que o filho da minha amiga - que não chegou a conseguir entender a crítica da mãe - não é exemplar único.




4 comentários:

josé palmeiro disse...

Pois é, foram criados e educados para isso e agora aqui os temos, com essas mesmas reacções.
Há uma dificuldade imensa em aceitar as derrotas, o que torna mais fácil a aceitação e colagem ao vencedor, seja ele qual for e sem questionar a forma como conseguiu vencer. Ao ler o teu escrito, dei por mim a pensar como ficariam "as gentes", se a Vanessa não tivesse ganho o penta-campeonato da Europa. Certamente de heroína, passaria imediatamente a uma coitada que nem no seu/nosso país, conseguia ganhar, fosse o que fosse.
Estranho estes valores que se incutem nas mentes, mais ou menos brilhantes...

Anónimo disse...

Olha!!! Estou a cruzar-me com o Zé. ele deve ter começado pelo princípio, como deve ser!!
É uma questão séria a que dizes. e tem tudo a ver com os estereotipos culturais e sociais.
Mas agora nem dá para dizer mais nada (também estou com pressa, eu!)

Anónimo disse...

Tenho o modelo cá em casa!!!
Tal e qual como aqui contas, seguem certos líders no liceu, ou apoiam alguns actos, porque vão à frente, porque são vencedores. É tão importante ganhar-se e os que perdem são tão ridicularizados que ninguém quer vestir essa camisola. A mim incomoda-me mas não sei lutar contra essa corrente.

Anónimo disse...

Temos de ter cuidado em não generalizar, não é?
Não sei se esse modelo é assim tão frequente. A Mary diz que sim. Eu não conheço lá tantos...
Mas entendo o que queres dizer, sim senhor. O desejo de que 'já que não somos nós ao menos somos abrangidos pelo gosto da vitória'.

Entende-se.