segunda-feira, abril 21, 2008

O Diário da Ana

Domingo 21 de Abril de 1974
Foi o casamento da Lena e do Chico.
A sala do registo ficou cheiinha de gente que lhes foi dar um abraço. Eles estavam felicíssimos, o Chico só dizia disparates e as bolandas que aquelas alianças levaram, nem se pode contar… Às tantas uma rolou para debaixo da secretária do conservador e era tudo de rabo para o ar à pesca da dita! A Lena, com os nervos, não parava de rir e o conservador já nos olhava de lado, achando que não se estava a levar a função a sério. Ela estava muito bonita, como se está em Abril tinha um vestido levezinho, muito rodado que parecia um campo de flores. Era mesmo a imagem da alegria.
Depois da «cerimónia» da papelada, os amigos mais próximos foram almoçar com eles. Tinham reservado uma mesa grande, no primeiro andar de um restaurante que eu nem conhecia, e como eu e o João apesar de amigos não somos assim ‘amigos do primeiro grau’, fomos convidados para aparecer no fim do almoço, para comer uma fatia de bolo e fazer um brinde. Ainda conversámos um pouco sobre as prendas que a malta lhes deu, tiveram algumas coisas bem giras: uns copos lindos da Elarca e outros mais banais do Pórtico, um grupo juntou-se para parte do faqueiro escolhido na Unika, e tiveram uma máquina de café de balão ali do Leonel. Fiquei com inveja...
Quando chegámos já havia por ali malta bem ‘entornada’, não sei que marca de vinho foi servido, mas subiu bem! As piadas choviam de todos ao lados, ainda gozavam com a aliança a fugir para debaixo da secretária, e alguém se lembrou do caso da Luísa M. que no próprio dia do casamento foi lavar as mãos que estavam pegajosas do bolo e, com a espuma do sabonete a aliança deslizou-lhe do dedo e foi cano abaixo…! Mas que augúrio. Aquilo deu para alguma má-língua, porque esse casamento da Luísa M. foi um pouco pretensioso: os pais dele tinham uma vivenda com um jardinzito, o senhor do registo deslocou-se lá a casa, foi coisa com alguma pompa. E depois, zás, a aliança vai pelo cano abaixo!
Mas este casamento foi muito normal. Penso que dali, eles e os amigos mais chegados ainda foram não sei para onde, mas eu e o João voltamos para casa. É que amanhã é segunda-feira!

12 comentários:

Anónimo disse...

Ese tipo de "casamento-paródia"que não era bem um "não" à instituição do casamento, mas uma espécie de não levar a sério a formalidade foi bastante comum até se começar a deitar a formalidade às urtigas...E era curioso porque se sossegava a familia,divertia-se os amigos mas continuava a dar-se uma satisfação social, assim a modos de encolher de ombros,já que querem até nem nos custa...e sempre caiem umas prenditas e tal...No caso das alianças a mim sucedeu-me exactamente isso.Deitei-a fora com a água do banho do meu filho,o que qq. psicanalista,dadas as circunstancias acharia de leitura transparenteAB

Anónimo disse...

So tu, AB!!!!! :))))) Este caso que conta a Emiéle (nem sei se real) é ainda mais simbólico psicanaliticamente falado. tipa devia estar cheiinha de dúvidas lol!

Mas é muito verdade, e mais uma vez «o tempo voltou para trás».

josé palmeiro disse...

Tens razão King, só que agora, com muito mais "pompa e circunstância".

Anónimo disse...

Esta 'memória' cai muito bem na actualidade porque realmente hoje andamos num movimento pendular dos 8 para os 80.
Uma grande, mesmo muito grande quantidade de pessoas, liga-se em uniões de facto e toca a andar! Mesmo em famílias um tanto conservadoras já se fecha os olhos e suspira-se mas emcolhem os ombros.
Depois às tantas, dá-lhes uns vaips e decidem fazer uns casamentos como começámos a ver nos filmes anglo-saxónicos. Alugam-se quintas para o efeito, uns caterings de grande requinte e... grande preço, vestidos de noiva que são o ordenado de um ano, limousine para ir para a igreja, convidam-se centenas de pessoas! Quem conheceu estes casamentos íntimos de há 30/40 anos fica boquiaberto.

Anónimo disse...

Ah, esqueci-me ainda desse ponto: mesmo quem não liga nenhuma à religião vai casar pela igreja porque ... é mais bonito!
Esta gente é doida, é o que digo!

Anónimo disse...

Vinha acrescentar o que afinal a Joaninha já disse: a mim choca-me um pouco, ver pessoas que nunca foram católicas nem tiveram essa educação, fazerem grandes cerimónias porque o espectáculo é mais bonito.
Um show!
E se há coisa profundamente íntima e pessoal é o casamento.

A não ser a simpática união de facto, ao menos esses do nosso tempo: irmãos e amigos, almoçarada e toca a andar!

Anónimo disse...

Aqui a coisa não tem nada a ver com o 25 de Abril, mas sim com a diferença dos costumes.
Aliás uma das coisas que devia fazer as nossas avós levantarem as mãos ao céu, é a desmistificação do branco.
As noivas hoje vestem uns lindos vestidos compridos brancos, como quem veste um vestido de noite, ou de festa, não tem nada a ver com o rigoroso sentido do branco dessa época.
Virgem????
Muitas vezes são os filhos que levam as alianças!.... As nossas avós desmaiavam!

Anónimo disse...

Eu que sou mais desta época, mas essa cena dos casamentos onde se gasta milhares de contos, não consigo aceitar. Aquilo que descreves é muito mais natural e agradável.Uma festarola, onde a malta bebe uns copos, se diverte, e vá lá os noivos sempre abicham umas prenditas, mas sem exagero.
Faz o meu género.

cereja disse...

Venho só dizer que embora nestas histórias eu faça uma certa misturada, e alguma «composição» essa situação da noiva que foi lavar as mãos e a aliança foi cano abaixo é verdade! Divorciaram-se bastantes anos depois (ainda 'aguentaram' um casamento mais do que muitos outros)

Anónimo disse...

Está tão natural...
É um «Retorno ao passado». Tenho reparado que consegues tocar em quase todas as teclas quer do dia-a-dia quer de uns acontecimentos menos comuns, e cada dia é diferente!
(não quero ser desmancha prazeres, mas também podias falar nalgumas separações... olha que não foram poucas!)
Tiveste piada quando ao falares das prendas que os noivos receberam [ e realmente havia umas máquinas de balão para o café mas mais sofisticadas, o balão debaixo era achatado e apoiava-se na armação da lamparina. Eu tive uma!!!] disseste que até ficaste invejosa. Claro! Também eu muitas vezes! Dou a prenda mas penso: e eu!?
:)))))

cereja disse...

Obrigada MN. E aos outros todos, claro, mas a MN foi a última e ainda por cima a elogiar, tem de levar agradecimento!
Eu tenho de facto tentado dar a esta conversa um tom coloquial e natural. E dentro do possível tocar os pontos onde a vida de hoje á mais diferente, seja por que motivo for.
E sem dúvida que a «moda» hoje são os casamentos de estadão. Nada mais diferente dos nossos.

Anónimo disse...

Bem, eu estou um tanto a meio caminho, não faço parte desses casamentos como diz a AB "casamento-paródia", sem a menor formalidade, mas também não entendo como uma família pode começar a sua vida já endividada por uma festa que dura um dia - por mais importante que considere que esse dia seja!
(e ainda por cima é um modo de pensar; para mim o que é importante é o início do namoro, o ter a certeza de que se gosta de outra pessoa muito a sério, o resto é folclore)
Mas as «empresas de casamentos» facturam e á grande. Por algum motivo o fisco agora se virou para aí - é que encarregar-se de um casamento dos «modernos» é tarefa que leva um ano ou mais!...
E depois, muitas vezes um ano depois já se descasaram! Ora!