O Diário da Ana
Sábado, 20 de Abril de 1974
Há uma certa confusão, Chaban-Demas, está a fazer campanha, mas depois da escandaleira da fraude fiscal que o obrigou a demitir-se de primeiro-ministro, não se sabe que hipóteses ele tem.
Quanto ao Mitterrand, parece que está a fazer uns comícios gigantescos, falam em 17 mil pessoas no Palácio dos Desportos em Lyon! E é o mais popular à esquerda, sem dúvida.
Por outro lado o gaulismo é muito forte. O trunfo Giscard d'Estaing vai ser jogado e tem muito peso, a direita não vai largar mão das rédeas do poder.
Duvidamos muito que ainda seja desta que Mitterrand consiga ganhar, apesar de que isso seria bem importante pelas repercussões europeias com ondas de choque aqui na nossa terra. Mas não devemos ter essa sorte…
O que nos deu ainda muito tema de conversa foi a candidatura da Arlette Laguiller. Para uma mulher se candidatar à presidência, em França, é preciso ter coragem - um país regido pelo código napoleónico até bem tarde e que só em 44 deu à mulher direito de voto...
Mas não esqueçamos que esta Arlette foi uma das principais líderes da grande greve que atingiu muito bancos em França há pouco tempo. Uma mulher de armas!
5 comentários:
Tenho uma enorme "branca", sobre o que por cá se passava nesses anos. A minha realidade era diferente, pois estava em Moçambique e muitas dessas coisas passavam-nos ao lado, como essa que faz hoje parte do diário da Ana.
Pois para aqui é mesmo necessária a documentação.Lembro-me bem sim da eleição de 81 e da festa que os franceses fizeram na Bastilha quando pensavam que o Miterrand era ou não era o que depois acharam que era ou não era.Havia o Alain que estava por cá e apareceu já de mochila a dizer que era hora...Mas em termos da época em que falas o retrato era esse.Consulta aos jornais(não era nada fácil o acesso)para comparar ou tentar adivinhar o caminho das coisas.Hoje é mais deitar os búzios...AB
Claro que como disse noutro sítio, tive para isto alguns «auxiliares de memória» ou seja jornais desses dias.
Depois foi uma ou outra busca mais fácil.
Mas acreditem que era em Abril de 74 que se estavam a preparar as armas. Mas daquela vez ainda foi o Giscard que ganhou, o Mitterrand estava guardado para depois.
Quanto à Arlette, confirmei que ainda concorreu agora!? Com o Sarkozy! Também declarou que era a última vez. Tem concorrido a todas! Criatura teimosa.
É uma experiência invulgar passar aqui depois da Emiéle!
Só pode ser porque hoje é Domingo!!!
É evidente que a política internacional, sobretudo a europeia era bem importante para nós. Também não tinha ideia de que se estivesse a afiar as facas ali em França nessa altura. O que nos fica mais é o Mitterrand mais tarde, até porque ele esteve lá muito tempo, e ... foi uma certa desilusão.
Mas está muito bem dares este toque.
Com certeza que sem se sonhar que faltavam poucos dias para Portugal dar uma volta, era natural que nos preocupássemos com a França.
(um conselho a quem quer seguir a série dos diários ou outra coisa destas de Abril, é clicar ali na coluna da direita na categoria Abril. Aparecem por ordem e é mais fácil, expurgado dos outros posts mais 'actuais')
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