O Diário da Ana
Quinta-feira, 18 de Abril de 1974
Ontem tive uma noite pacata, mas estava a precisar muito. Quando digo pacata, é sozinha em casa com o João! Já tinha imensas das chamadas ‘tarefas domésticas’ atrasadas, e também imensa coisa para ler, que daqui a pouco não dava vazão à pilha de livros e jornais que se vai acumulando…
Embora seja coisa que deteste, essa coisa dos trabalhos de agulha, a D. Lurdes tem deixado no cesto as meias que encontra com buraco, as camisas com um botão a menos, uma camisa de noite com a costura a descoser, e já fazia volume. Não é nada de muito grave, mas perde-se tempo com isso, e para falar com franqueza…embirro com a costura. Mas, pronto, como as coisas não aparecem feitas e não vamos deitar umas meias fora por estarem rotas, teve de ser. E também estive a arrumar a dispensa, e gavetas que bem precisavam.
Mas com as coisas em ordem, o João pôs um disco no pick-up e estive a acabar de ler o último Jorge Amado - Tereza Batista cansada de guerra – que ando para acabar há uma série de dias e o João estava desejoso que eu lho passasse. Depois peguei nas últimas Searas Novas, que já andavam para ali há bastante tempo. A Seara começou a editar uma nova colecção «Que país?» e nós já comprámos o primeiro que saiu agora: ‘Investimentos Estrangeiros em Portugal’ do Salgado de Matos. Estivemos os dois a pensar em como apesar de tudo se nota alguma (pequena, mas apesar de tudo existe) abertura nalguns temas. Quer o Rogério Fernandes quanto ao Ensino, quer o Pereira de Moura na Economia, têm lançado umas ideias que agitam as águas.
Tenho é saudades de um bom romance, escrito em português. Desde 68, que foi um excelente ano, com o ‘Delfim’ pelo Cardoso Pires e ‘As Mãos de Abraão Zacut’, do Sttau Monteiro, os autores portugueses têm estado muito calados. Há dois anos o Namora publicou ‘Os Clandestinos’ e o Cardoso Pires atreveu-se àquela piada do ‘Dinossauro Excelentíssimo’, mas o panorama está pobrezinho quanto a literatura.
11 comentários:
Bom,depende das perspectivas do que é ou não um bom romance...Mas onde é que encaixas "A noite e o riso"do Nuno Bragança que é de 69 a Maina mendes da Velho da Costa que é do mesmo ano,o "Capitão Nemo e eu" do Alvaro Guerra que é de 73 as Agustinas que então foram saindo e que são as melhores dela(para mim) e uns tantos mais?AB
Bom,depende das perspectivas do que é ou não um bom romance...Mas onde é que encaixas "A noite e o riso"do Nuno Bragança que é de 69 a Maina mendes da Velho da Costa que é do mesmo ano,o "Capitão Nemo e eu" do Alvaro Guerra que é de 73 as Agustinas que então foram saindo e que são as melhores dela(para mim) e uns tantos mais?AB
E como só te referes ao romance nem falo do "escandalo""Novas cartas"....AB
Quando se chega depois da AB, acontece isto com ferquência, ficamos com todo dito. Eu ia pelo mesmo caminho, mas ela foi tão precisa, que já o não faço. Realço o Nuno Bragança e "A Noite e o Riso", um romance tão importante, como esquecido, aliás como o autor que apesar da excassa produção, pois morreu muito novo, teve e tem, uma enorme importância, no panorama literário português.
Por essa altura - finais de 60 - andava a descobrir o Augusto Abelaira, de quem se fala tão pouco!
Não sei se ainda está,Meri,a exposição rectrospectiva do Abelaira na Biblioteca Nacional.È muito interessante porque contém todos os documentos,cartas,manuscritos(foi depois um fanático do computador dizia mesmo que já não conseguia um texto sem ele)desde a infancia.A exposição foi organizada com o espólio que a filha Silvia pôs à disposição e a colaboração da última companheira Maria Artur Botequilha.AB
OK, OK, OK, OK, OK, OK.......
Mea culpa!
Acontece que para este Diário tive o apoio de alguns «auxiliares de memória». Como podem imaginar não me lembro exactamente, por exemplo, que filmes passavam e em que cinemas nesse mês. (antes de 25 é claro; depois, ficou famoso o Couraçado Potemkine no Império...)
Outros factos recorro-me realmente à memória-
Ora para ter uma ideia do que podia ter sido publicado "recentemente", andei pelas minhas estantes a ver datas de edição, etc. Alguns autores, Lobo Antunes, Saramago, sabia que eram posteriores. Dos outros, também conferi que quanto a alguns a última obra que tinham publicado já era antiga (exemplo do Abelaira, exactamente, tinha publicado a Enseada Amena em 66, 8 anos antes o que era muito). E infelizmente as buscas na net devem ter sido mal feitas porque não adiantei muito...
E portanto esqueci-me de verificar tudo o que a AB refere, e bem. Nuno de Bragança e Maria Velho da Costa sobretudo foi mesmo porque a prateleira estava fóra da vista! Uma parvoíce, mas pronto, não vai dar para reescrever.
.....
Mas como espero que quem por aqui passe venha ver os comentários talvez a lacuna se componha. :(
Oh Emiéle, eu seria incapaz de saber bem quais os livros que tinham sido publicados em 74, fica descansada, cá por mim podias inventar!...
Mas ninguém notou uma coisa que eu notei aqui neste escrito de hoje e é um facto - por essa altura, realmente alguma pressão diminuiu, e começaram a aparecer alguns estudos, como os que citas, Rogério Fernandes por exemplo, lembro-me muito bem, e de facto sobre economia também aparecerem uns textos 'avançados' para o que se estava habituado. Parecia que a sombra diminuia um pouco.
Estas «memórias» em forma de Diário imaginário estão tão naturais que quase me imagino nessa época!
Passando por alto a questão da literatura (também calculo que seja muito difícil saber o que se publicou exactamente essa altura) identifiquei-me bastante com a Ana, porque a costura também me atrapalha imenso!!! Até tenho jeito manual, mas só o enfiar a linha naquele buraquinho minúsculo da agulha!! Sempre achei que as costureiras eram de uma grande habilidade.
Isto saiu anónimo, porque não tenho blog e pedem o URL.
Mas posso assinar:
Maria João
Exmo(a). Senhor(a),
Solicito que sejam apagados todos os comentários assinados com o nome "vitório rosário cardoso" uma vez que foram publicados por um "clone", que tem como intenção de denegrir e difamar.
Este caso já está a ser seguido pelas autoridades policiais competentes.
Atenciosamente,
Vitório R. Cardoso
Dear Sir/ Madam,
Please delete all comments signed with the name "vitório rosário cardoso" because are not published by the original author but by a "clone" that only aims to damage my reputation.
This case is already followed by the police authorities.
Thank you for your attention,
Vitório R. Cardoso
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