quarta-feira, abril 16, 2008

O Diário da Ana

Terça-feira, 16 de Abril de 1974
Ontem, depois de jantar fomos tomar café com ‘os Franciscos’ ao Monte Carlo.
Como já é costume, foi chegando mais malta: uns já lá estavam e aproximaram-se; o Pedro, tinha jantado ali ao lado no Monumental mas depois veio ver quem estava no Monte Carlo, viu-nos e ficou; um grupo de malta que tinha começado a noite ali pelo Monte Branco, veio comprar revistas e também ficou connosco; juntaram-se as mesas, e foi um arraial e uma noitada daquelas!
O que é giro naquele café, onde todos nós quando andámos na Faculdade costumávamos estudar, é que nem é preciso a gente combinar, está sempre por lá malta amiga, e mesmo quando não estão ao princípio da noite a pouco e pouco vão chegando. É um ponto de encontro que não é preciso marcar-se…
Fomos lá para o fundo, antes dos bilhares, onde se estava mais à vontade para juntar as mesas e fazer a “nossa festa” particular.
Contou-se cada história de chorar a rir! Claro que há uns tipos mesmo com pancada!!! O Fonseca lá conseguiu ler-nos um capítulo quase todo do livro que anda a escrever – e a gente sem paciência para o ouvir… Apareceu ainda muita da malta do cinema e as fofocas foram imensas, mesmo dando-se desconto de algum excesso de imaginação, ouvi histórias fabulosas. Doidas de todo! Uma imaginação delirante, e estávamos com um bom humor do tipo non sense, que algumas das conversas que ali se travaram dariam excelentes rábulas para o Solnado!
E imagine-se só, que às tantas entra o Quim (acho que já com os copos) e quando viu a nossa mesa, lá ao longe, com o seu vozeirão enorme: «então essa revolução, é p’ra quando?» Só ele! Tivemos de rir, não se podia fazer mais nada.
Nem sei o que seria Lisboa sem os nossos cafés!

8 comentários:

Anónimo disse...

Ai, Emiéle, os nossos cafés!!!
Tenho de voltar mais tarde e com mais tempo, que o tema pede comentário.

Anónimo disse...

Esta é para mais logo com outra disposição....(espero)AB

Anónimo disse...

:))
Bem, depois destas duas 'negas' tenho eu de não fugir ao assunto! (também me apetecia...)
A minha ideia e recordação é que havia vários 'círculos'. E também divididos por várias épocas.
A Brasileira, Café Chiado, Martinho, Gelo, Nicola, enfim os cafés da Baixa, tiveram a sua época. Muitos perduraram, outros foi mais a geração do meu pai que os frequentou.
Depois temos o que podiam ser cafés de Bairro, O Canas no Campo de Ourique, na zona do Campo Grande e Alvalade, o Tatu, o Vavá, ou essa maravilhosa zona do Saldanha que também foi a minha.
E aí na minha memória havia grupos por cafés. O grupo do Monte Branco, que aqui citas, a gente do Monumental, e os do Monte Carlo.
(mas a minha memória tem de ser espevitada, penso que misturo algumas coisas...)
Que tempos esses em que se estudava em cafés com uma bica a tarde toda para pagar a mesa!

Anónimo disse...

Atenção, nada de mal entendidos, quando falei em «fugir ao assunto» queria dizer «voltar cá mais tarde», só isso.
Quando os temas são muito sugestivos sentimos que se nos pomos a escrever nunca mais acabamos...

josé palmeiro disse...

É mesmo uma realidade a que se não pode fugir. Todos, os desta altura, teremos histórias para contar dos cafés e dos bares que ferquentámos. Era como o King diz, por zonas, e eu como Veterinária era ali, ao lado do Liceu Camões, tinhamos os nossos cafés como os de outras faculdades tinham os deles, se bem que , como estávamos muito bem situados, às vezes invadiamos as zonas dos outros. Lembro-me muito bem do Rialto e da pastelaria Açoreana, parecia que estava a adivinhar. No Rialto, parava um velhote, que era um gosto vê-lo. Chegava e, como tinha a mania das limpezas, gastava imensos guardanapos de papel a limpar a mesa e a cadeira em que se sentava, depois era o ritual da limpeza dos braços e da cara. Um espectáculo, inesquecível. Boas lembranças!

Anónimo disse...

Bom entre a malta que aqui comenta eu devo ser um dos mais novos. Acentuo "que comenta" porque tenho muitos amigos que vêm ao Pópulo mas nunca dizem nada. Muitas vezes depois falamos do que aqui se leu...
No caso desta «memória» tenho todo o respeito e reconheço que são realidades diferentes, mas Emiéle, hoje também se estuda em cafés ou pelo menos espaços públicos.
Vai espreitar o rés-do-chão do Twin Towers, logo junto à entrada. Há lá um espaço com net sem fios e vais encontrar dezenas de estudantes em frente do portátil, com os manuais em cima da mesa, a estudar a sério! (falo 1º deste porque é o que conheço melhor e um que frequentei; mas no Saldanha junto aos cinemas também vês muita gente a estudar, com portátil ou não)

Anónimo disse...

Bem cá volto.Se há sitio onde me incomoda ainda hoje ir é à Zara do Saldanha.Não consigo deixar de "ver"algumas épocas do Montecarlo,a cara do chefe de sala,as diferentes populações segundo a hora do dia ou da noite distribuidas diferentemente pelos diferentes espaços e os eternos "sem retorno" lá do sitio ,que encontravamos sempre.Ao Montecarlo não se ia para uma mesa, mas para uma cadeira de uma qq. mesa ,onde já estava"sempre"gente, e gente era a nossa gente...e a nossa gente, era muita e variada e, se me metesse nas homenagens, nunca mais daqui saia e de há uns dias para cá não ando particularmente para amar...O King tem razão qt. aos circulos e às épocas.À Emiele faltou-lhe aqui uma referencia essencial,mais desta mesma época de que ela fala.Chamava-se S.Remo e tinha uns bifes com um molho que faz favor!!!!Reabriu o Gelo e anteontem fui lá.Fora as fotos de alguns frequentadores,que nem os mais importantes ,de frente para a enfiada de balcões nada de assinalável na nova cara.O Pacheco está claro,e o Cesariny mas existe uma excelente caricatura do "grupo do Gelo" com António Maria Lisboa e tudo e só uma mulher a "fininha" que retrata bem a época dos surrealistas e que não encontro agora(pensava que estava no Zé Augusto França mas não o acho)que é a grande época do Gelo e que bem podia figurar nas paredes...Olhem meninos uma bica e um bagaço para a mesa do canto e "inté".Ou preferem uma "mil nove e vinte"?AB

cereja disse...

aphael, tens bastante razão, há tendência a não transpor o modelo que foi o doutra época para agora, e em certa medida ele vive naquilo que descreves. Eu também conheço esses espaços, e são em certa medida os sucedâneos daquilo que foram os cafés como locais de estudo. Mas é diferente, o espírito é diferente.
AB, realmente escapou-me o San Remo! De qualquer modo só quis deixar uma pincelada do espírito que se vivia, estava à espera (e com razão, como se viu) do complemento dos vossos comentários...
Tal como dizes, e eu tentei dar uma ideia, à volta de uma ou duas mesas reunia-se um enxame de cadeiras e cada um que chegava juntava-se ao grupo. Nas mesas da entrada e sobretudo durante o dia, a população era outra, os casais do bairro que iam ali tomar o café o o bolo.
Zé Palmeiro, tens toda a razão nas divisões dos cafés-de-estudo conforme as Escolas. Havia essa zona que referes, também a da Escola Politécnica, e eu falei no Campo Grande porque era mais a minha zona.