O Diário da Ana
Sábado, dia 6 de Abril de 1974
Uff… que semana tão cansativa esta, do ponto de vista de trabalho! Parecia que nunca mais acabava.
Hoje, quando cheguei à hora do almoço já não podia mais. A manhã não me rendeu nada porque só pensava em descansar nesta tarde livre!
Quem me dera a semana-americana, e conseguirmos ter dois dias inteiros de descanso por semana! É verdade que a malta mais velhota já considera que isto de se gozar a semana-inglesa e termos o sábado à tarde livre, é formidável, mas eu digo-lhes sempre que há muitos países que já conseguem que se trabalhe apenas 5 dias por semana! Quem me dera! E acredito que ainda lá chegaremos.
Mas pronto, agora é descansar, pôr a casa em ordem e arranjar-me para irmos ao cinema. A Luísa ainda pensou que ia ter de ser uma segunda matiné por causa dos miúdos, mas lá conseguiu deixá-los a dormir em casa da mãe e assim vamos mas é à noite com mais vagar.
E claro, sempre se vai ao Tivoli afinal. 'Ganharam' eles, mas que dúvida! Homens!!! (e nós a colaborar, tá visto…)








11 comentários:
Foram só 30 anos mas parece um século! Lembrem-se que mesmo as férias como hoje as concebemos, não existiam para as classes mais baixas. Por isso os imigrantes falarem de 'vacanças', era uma palavra que quando tinham ido não tinha equivalência nas suas vidas. Hoje (e ainda bem!) não se imagina um ano sem elas.
E esse fim de semana, como hoje o gozamos com estes 2 dias, também ainda estava no imaginário de ... um dia!
Tem graça, estares a seguir o mês com os dias da semana que foram na altura, e que não coincidem com os nossos de 2008. Às veses até podia ter sido...
Mas esta decalagezinha tem a sua piada. E dá realismo ao Diário.
Trabalhava-se ao Sábado de manhã ou de tarde,naquelas Galveias segundo o turno(a biblioteca abria à noite também).Com a fúria e a ignorancia deliberada de vários procedimentos cautelares,que me garantiriam no futuro (mas o que era o Futuro naquela altura?)a reintegração, saí pela porta grande com um processo pendente por"passar"dentro dos livros,aos leitores, folhetos a incentivar a sublevação à guerra colonial.Fui acolher-me onde muitos outros, que ou não podiam dar aulas ou tinham qq.ferrete do regime tinham ido:a publicidade.Tinha entrado em Janeiro numa agencia nacional com participação de Companhias como a Cental de Cervejas, a Sacor,a Império.Em Março tinha passado o periodo de experiencia e estava efectiva como copiwriter.Em Abril deu-se o que se deu.Toda a actividade parou,a multinacional que pretendia associar-se retirou(voltaria depois),houve as nacionalizaçõrs e tudo o que se passou a seguir naquela empresa refletiu duma forma quási metaforica todo o PREC.E desenhou-se imediatamente todo o lado negativo da coisa-os golpes baixos, as lutas de poder,a informação aos Partidos ,a constituição de um sindicato onde só havia patrões,enfim até a futura constituição de uma central de propaganda,que só diferiria do SNI por estar do lado oposto.Parou toda a actividade dita publicitária e esse estado de estagnação durou praticamente 4 anos.As comissões de trabalhadores sucediam-se e a coisa só começou a acalmar com a celebre campanha da austeridade "Temos que viver com aquilo que temos"frase incluida num discurso de Soares,campanha essa que me deixou cicatrizes(não é metafora é mesmo real)-passadas 3 noites sem dormir, em que tudo o que se "criava"ia em navette para a Assembleia da Republica, via Manuel Alegre ou Jõao Soares Louro,caí de borco e bati com a testa numa estante.Tive como companheiro dessa saga o escritor Armando Silva Carvalho e até com cubanos trabalhei porque eles tinham feito campanhas semelhantes...Foi ao mesmo tempo um tempo febril e decepcionante,e às vezes ia ao Franginhas desabafar com o Ary que tinha uma forma muito peculiar de resolver essas questões na agencia dele-muito simplesmente desaparecia...De qq. forma foi uma escola para as minhas futuras guerras que viriam logo logo a seguir...AB
Obrigado, AB.
Que importante podermos ler estes testemunhos. Calcula-se o que seria um tempo desses numa zona sensível como era a publicidade! Se hoje é o que é, nesse tempo então...!!!!!
Tal e qual.
Se eu ainda estudava, mas via que para os meus pais o sábado era um dia quase como os outros. Saiam à mesma hora e apenas aproveitavam a tarde ou para os trabalhos de casa ou para compras, descansar mesmo era só ao Domingo.
Aliás as escolas também abriam ao sábado de manhã. Nem se pensava que pudesse ser de outra forma.
Hoje pensamos como é que se fazia.
Ou se era muito mais organizado, ou havia muito menos distracções.
Porque se hoje em dia nos tirassem meio dia de descanso era uma grande confusão.
Claro que muita e muita gente trabalha hoje em dia ao fim-de-semana, mas são trabalhos por turnos, que cada vez se vê mais. E com o desemprego que existe, aproveita-se tudo. Contudo, mesmo quem trabalha ao fim de semana depois compensa com outros dias de descanso, ou se o não faz sente-se explorado, não é?
Naquela altura isso não era exploração, era a lei geral.
Depois de ler a AB e os demais companheiros e companheiras, fiquei sem voz. Volto mais logo.
Tempos de luta intensa, como a AB, tão bem documenta e de um fervilhar constante, com avanços e recuos próprios de uma época e de uma situação em que nada ainda estava definido, mas que o dia seguinte seria necessáriamente diferente e não o "ram-ram", em que tinhamos vivido até ali. Eu, por exemplo, estava em Moçambique, onde as coisas se precipitavam, tal como cá e não era só a ansia da liberdademas essa mesma acrescida de uma certeza, a independência estava próxima e a criação de um estado soberano, também. Nós, os portugueses, viviamos o momento de formas diversas, pois também eram diversas as razões por que lá, nessas paragens, nos encontrávamos.
Eu, só prespectivava o momento de regressar ao meu país, para junto dos meus e viver esses momentos de euforia, porque havia sonhado há tantos e tantos anos.
O que eu desejava era exactamente os testemunhos que estão a aparecer. Este "Diário" era o motor de o relembrar uns tempos, que já são história. E dizer à malta mais nova que não foi há tanto tempo assim, porque muita gente ainda aqui pode dar testemunho.
King - ficamos à espera. O que é que fazias em Abril de 94?...
:D
Emiéle, no recado que mandas ao King, não esqueças de tirar vinte anos.
:))))
Isto deve ter sido um acto falhado!
Zé, eu devia estar a desejar que 74 tivesse sido apenas há 14 anos!!!!
Ou estaríamos todos mais novos, também o que não era mau.
:)))
Enviar um comentário