O Diário da Ana
Sexta-feira, dia 5 de Abril de 1974
Hoje encontrei-me com a Luísa à saída do trabalho e fomos as duas tomar um café ao Vává. Por acaso não encontrei ninguém conhecido, o que foi bom para se conversar com calma, que era só o que me apetecia.
Estava tão cansada que só queria era espairecer um pouco. Depois demos um salto ao Drogstore, ali na Av. de Roma, mais para ver as montras e preços não era para comprar nada que não tenho que chegue para fantasias! É interessante este sistema de muitas lojas juntas como vemos lá fora e agora se começa a ver por cá também. Desde o «Apolo 70», inaugurado há 3 anos, que nos começamos a habituar ao sistema.
De qualquer forma, depois aproveitámos e decidimos andar um pouco a pé e descemos a rua para dar um saltinho à «Barata», ver o que havia de novidades. É irresistível quando passamos por ali ver o que o Sr. Barata guardou para nós. Aquele homem é formidável, se não fosse ele estávamos reduzidos a ler o que já foi ‘peneirado’ pela censura. Abençoado!








9 comentários:
Eheheheheh!!!
Esta dos «Centros Comerciais» foi cá uma destas mudanças!...
De facto quem ia imaginar a praga que vinha aí?!
O Apolo 70 (ainda no rescaldo das viagens espaciais, imagino) tinha a livraria e o cinema que eram coisa muito atractiva. A livraria está lá, mas que eu saiba, o cinema foi-se...
Mais um.
Olha que, reflectindo no que fala a Ana no dia em que escolheu o cinema, podemos dizer que TODOS foram reciclados com pouquíssimas excepções. Mas no caso em que falas foi a primeira vez que um 'centro comercial' acoplou um cinema.
Ora bolas, esqueci-me de falar no Barata. Figura importantíssima, sem dúvida. A "Barata" e a "111" no Campo Grande eram uns focos de resistência, que não é por demais relembrar.
Ena que recordações!
Só mesmo à sexta-feira.
Fico cheio de força ao encontrar gente com as mesmas referências, passados todos estes anos e todos estes tormentos.
A recordação desse itinerário que descreves, era a volta obrigatória, dos fins de semana. Bem recordado o cinema do Apolo 70, sala simpática e que passava bons filmes. Depois as livrarias, autenticas universidades, que muito nos ajudaram na formação do carácter e decisivas na nossa vida.
A «111» e o Brito foram decisivos para muita gente.
Claro que o Brito depois de virado para a Galeria e para as artes, enriqueceu (parece que já há uma Fundação ou coisa assim) e alguma coisa se perdeu, deste idealismo todo.
Mas esse percurso de começar no Vavá e acabar na Praça de Londres, Mexicana, etc, quem o não fez?...
Olá Ana!!! Tás boa?
Um passeio pela Av de Roma em Abril era bem bom. Paragem na Barata como referes, e depois no Café Londres ou Mexicana.
Desanuviava um tanto. E já viram como a gente andava a pé?... Que bem sabia as conversas enquanto se desciam e subiam ruas...
(seria só por sermos novos?)
*suspiro*
Não é que tenha saudades desses tempos.
Mas tenho cá umas saudades da minha juventude, caramba!!!!!!
Esse passeio era dos mais curtos...e ir ao Vává e não encontrar ninguém conhecido,fosse a que horas fosse, é que é mesmo uma "sorte" de Emiele ,ou azar, conforme as perspectivas e o assunto a tratar...E faltou neste percurso (já que iam à Barata) o famosa "Branco e Negro",café/bar,com piano, o pioneiro entre os pioneiros ,onde se cantava ao vivo, qual Karaoke qual quê!E o Las Vegas para quem fosse para baixo ou no sentido inverso para o lado da "Sul-America o "Sheik"cervejaria que virou churrasco brasileiro onde se reuniam depois da meia-noite e depois de uma primeira rodada de VáVá, os chamados "democratas da meia-noite",que juntavam cineastas e jornalistas com umas "cadelinhas" à mistura e, quando ainda não tinha acabado a conversa ,e já havia serradura e vassouras, ala para a "Alga"que só lá para as 4 é que fechava.Quanto ao Brito há uma Fundação,sim,no palácio Anjos, em Algés, onde está sediada a colecção.Talvez tenha enriquecido (não tanto assim)mas também as artes lhe devem muito.Palolos,Menez e tantos outros em quem ninguém ainda acreditava,foi o Brito que lhes deu oportunidades a que nenhum outro se atreveu.Hoje é diferente, mas o Brito também já cá não está e uma galeria vive muito do "faro"e a experiencia por afinidade nem sempre funciona...Quanto ao Londres não me lembro exactamente quando desapareceu ,em que data mas era importantissimo.Quem não se lembra do Joly Braga Santos a reger orquestras lá naquela mesa do fundo?E o António Vitorino,já de bengala(deve ter nascido com ela) a reger também as senhoras de rolos na cabeça e lenço por cima, que desciam a tomar café, vindas dos lados da Av.de Paris e Madrid e mais umas compritas?E o Alvaro,a cantar a Traviata inteirinha( tenho saudades tuas,amigo)e a recitar Shaw ou Wilde conforme o mood do dia?(na altura em que a Emiele fala ele estava na Guiné e escrevia aerogramas porque tinha ouvido no aquartelamento uma canção da Piaf "tu me fais tourner la tête"e tinha-se lembrado...de mim,porque era uma canção que eu cantava muito.E a Tropicana?E o Bowling?E aqueles marinheiros americanos que se envolveram numa cena de pancadaria às 3 da tarde e levaram com uma bola de 7,5k em plena "Face"que o Ruizinho não era para brincadeiras? AB
O Brito já cá não está nem a Menez nem o Palolo(bem podia ter ido buscar outros exemplo)....AB
Aqui este «Diário da Ana» pretende ser só uma espécie de pontapé de abertura (passe a imagem futebolística) para as recordações que vocês aqui quiserem deixar. É certo que me lembrei deste percurso, por ser muito real, por um lado, e por pretender deixar outro para depois (Saldanha, Monte Carlo, etc, Av. da República e da Liberdade) passeio também muito usado, e que dava para horas de conversa...
Realmente a Ana a Luísa bem podiam ter andado mais um pouquinho e ie à Praça de Londres, passar pelos cafés que vocês citaram. Mas assim permiti que falassem disso, e aqui os comentários são tão importantes como o post.
De facto quer o Brito quer o Barata já pertencem mesmo ao passado. Ficamos com um nó que custa a desaparecer. E como a AB realça, o Brito teve um papel notável para os jovens (...) pintores da altura. Há quem lhe deva muito.
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