Desleixo ou ganância?
Passei ontem, de novo, pelo cruzamento da rua Alexandre Herculano com a Av. da Liberdade onde um prédio de esquina, enorme, ameaça ruir e está desde a semana passada isolado com barreiras para evitar que se passe junto dele.
É na Avenida da Liberdade, a avenida mais importante de Lisboa!
Recordo a expressão de incredulidade que um meu parente por afinidade, dinamarquês, mostrava sempre que avistava um edifício deste tipo, que abundam por Lisboa – casas que muitas delas foram lindíssimas, em locais extremamente centrais, e que apresentam um aspecto de degradação inacreditável. Ele dizia-me de olhos muito abertos, que nem concebia como numa capital, não se restaurassem e conservassem edifícios deste tipo, na sua terra era coisa que não se podia imaginar. E ainda por cima em locais centralíssimos! Pois nós não precisamos de imaginar, é só dar uma volta por esta cidade. Não se trata de prédios manhosos, em bairros já por si degradados, mesmo que até isso não seja justificação.
Mas o que se continua a ver, é nas chamadas Avenidas Novas, na Avenida da República, ou até na própria Avenida da Liberdade, prédios que foram edifícios de época, com os seus enfeites muito cuidados, com uma arquitectura que até deveria ser protegida, e agora estão com as janelas e porta entaipadas, à espera que caiam por si.
Não consigo entender isto. Como se desperdiça património tão valioso desta maneira?
Os proprietários ‘distraíram-se’, não foram fazendo as obras necessárias e agora não o podem fazer? Ou, uma vez que, como se vê, se situam em locais onde o terreno custa uma fortuna o centímetro quadrado, desejam mesmo a destruição dos prédios para uma venda vantajosa desse espaço?...
Qualquer das hipóteses dá volta ao estômago, e vistos pelos olhos de um cidadão de um país mais evoluído como já referi, inacreditável.
O que faz a Câmara?
14 comentários:
Desleixo talvez, mas muita ganância de certeza.Populo ja calculou quanto vai valer aquele terreno, depois do proprietario ter conseguido a derrocada porque tanto sonhava.
Tenho naturalmente reparado nessa história, até porque o trânsito esteve mais de uma semana alterado por causa da porcaria do prédio!!!
Naquele sítio, eu nem consigo imaginar o valor do terreno. A minha imaginação bloqueia acima de uns tantos zeros...
E, como dizes, na Av da República também se vêm uns tantos e então na zona chamada das Avenidas Novas todas as ruas, todas! têm uma ou duas casas nessas condições. Uma dor de alma!
Já passei por lá também.
Aquilo não é «prémio Valmor» mas que é da época, isso é!
Que pena!
Ponto prévio:Não vou falar nem dos congelamentos de rendas durante anos,nem das heranças dificeis que a Camara invoca oara dizer que não pode intervir,nem das contrapartidas fabulosas que a Camara exige para a reconstrução em terrenos próprios dos proprietários quando se pretendia reconstruir em prédios sem história nem préstimo(Era Sampaio),nem dos e-mails sem resposta(caso de policia,não devem ter chegado,há que investigar a informática)sobre espaços verdes doados para parque público,cuja "requalificação"vai "abrigar 500 fogos em condominio de luxo(está atrasado mas em vias de)nada disso eu vou falar aqui e agora.
Só falo da minha desconfiança nos arquitectos.Ufa! Cuidado com eles, que ,quando se metem a interpretar as cidades ,com sorte, interpretam bem Sydney ou qq.uma japonesa,mas a Avenida ,as nossas avenidas,a nossa Baixa, ante e pós incendio,por muito Siza que seja (essa do nome passar a marca nem sempre preconiza o melhor) e desde os tempos dos "hinos" à Falagueira ,eu que sou alentejana vi logo que o homem era do Porto...e aqui fica o desabafo e se mais dúvidas houver aumente-se mais o IMI que a (já terão pago ao Ghery o esboçozito?)procissão ainda vai no adro oh movimento de cidadãos,com reformulação de empréstimo.Contentem.se com o Terreiro do Paço fechado ao Domingo para delicia do chef Vitor Sobral(que diz que não dá lucro)e gozem muito...e já agora jogo tipo Wally,vejam lá se descobrem as colunas do cais das ditas,que levaram sumiço uma após a outra e tem reposição num cinema perto de si mas cadê?(sou pelo acordo fonético e vocabular).AB
Vai ter de se começar por algum lado. Já agora gostaria de saber porque é que na Dinamarca (porque falaste nela, mas creio que em qualquer outro país do primeiro mundo classe A) não se vêm casos destes. No coração da cidade, em locais que no conjunto deviam ser património, se encontram tantas e tantas casas devolutas e a cair. Que acordo poderia a autarquia fazer com os proprietários de modo a evitar este triste espectáculo? se ainda estão habitados, que obras se podem fazer? Se estão vazios (e é esse o caso dos que estão emparedados) estão à espera de quê?
Olha que nem a propósito!
Vejam AQUI!
O quê? Há prédios a cair em Lisboa? Ou são voçês que são "más línguas"?
Corrupção, mas quem é que falou nissoSó boatos, nem querem ver o esforço enorme que este governo anda a fazer para se governar!
Já é tempo de sermos justos, nada de boatos, só factos, e esses, abundam no nosso país, só as avestruzes, não vêem!
Este é um tema não direi 'fracturante' mas um tanto delicado. A AB deixou um lamiré, e eu (não sendo proprietária) sou amiga de quem o seja, prédios herdados já em mau estado e com rendas 'simbólicas', habitados muitas vezes por inquilinos que tem um ordenado bem superior ao dela! Por isso sei que a questão é complexa, sobretudo para quem tem prédios habitados, não podendo despejar os inquilinos nem actualizar convenientemente as rendas... Mas o caso dos prédios devolutos, já é outra coisa. Acredito que possa haver questões de heranças, mas têm de resolver isso, porque afinal são casos de interesse público.
Eu já tenho pensado em fazer um levantamento assim à pai Adão, só por aquela zona entre o Saldanha e a Av de Berna. São dezenas e dezenas de prédios fechadíssimos e ao abandono.
Verdadinha Mary.Quando há uns anos e a propósito do Mercado 31 de Janeiro, vulgo mercado do Saldanha, vi a projecção da Fontes Pereira de Melo feita por dois grandes nomes aqui da praça ia-me dando o badagaio!(eu disse que era pelo acordo vocabular,mas bilateral).AB
a tua camara faz o que todas fazem: nada!!
e ainda querem dar mais poderes às câmaras!!
É complicado Saltapocinhas... Seria suposto que as autarquias mais perto de nós teriam mais atenção aos nossos problemas, não é? Pois, mas...
A história das rendas é complicadíssimo, realmente. Também conheço histórias como vocês, de senhorios cujas casas não lhes dão nenhum rendimento, e queriam era ver-se livres delas. Mas estes casos, quando elas estão desabitadas há anos e anos, qualquer coisa não está bem! E aquela a que me refri e deu o mote ao post, naquele sítio o terreno deve valer uma fortuna.
emiele,
Não longe da minha residência habitual em Portugal, lembro-me de ver ao longo dos anos um verdadeiro palacete, perto da Boca do Inferno, completamente ao abandono. Surpreendi-me com o que já por lá está agora a ser feito. Grandes mudanças e certamente muitooooooos Euros.
Claramente, é assim que penso, a identificação de edifícios devolutos por parte das autoridades competentes deveria levar a:
1. identificação dos proprietários;
2. evolução do imóvel;
3. perspectivas futuras;
4. perspectivas dos proprietários relativamente ao imóvel;
5. apoio de alguma instituição pública no sentido dos proprietários, caso não tenham essa capacidade, encontrarem soluções para a viabilização dos mesmos;
6. o voluntário abandono deveria levar à expropriação a preços de mercado justos subtraíndo-se ou o custo da demolição e remoção dos escombros ou a recuperação do imóvel de modo a cumprir com o mínimo das normas de segurança urbana.
Tenho dito! LOL!
E disseste bem!
(muitas vezes dá realmente vontade de deixar estas coisas todas para trás e zarpar para outros mundos, como vocês fizeram!)
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