quinta-feira, março 06, 2008

O costume de andar a pé

Há estudos por tudo e por nada. Nunca, que me lembre, os hábitos e comportamentos foram tão estudados. Todos os dias temos conhecimento de mais um estudo, mais uma avaliação, mais uma sondagem.
[Ainda hoje passei os olhos por um, interessante aliás, que me afirma para os jovens “é mais fácil escrever que falar sendo que por escrita se entende as mensagens de telemóvel ou o Messenger. Esta conclusão mereceria que pensássemos sobre isso, mas é a outro estudo que me quero referir.]
Diz-nos ele que os Portugueses são os europeus que menos andam a pé
Acredito. E não só isso. O correcto seria dizer os que se mais deslocam sem ser pelos seus meios ou esforço, os mais “motorizados”, porque pelos vistos a bicicleta também aqui entra pouco. Cada um de nós anda menos de um quilómetro a pé por dia.
Isto deixa-nos a pensar.
Ainda por cima conjugado com o facto de «continuamos a optar pelo transporte individual, preferindo levar o carro para o trabalho em vez de irmos de comboio, autocarro ou metro».
Como em todas as estatísticas, estas conclusões devem ser olhadas com cautela, porque é claro que ainda há muita gente que anda bastante a pé, mas o que trás como corolário que deve portanto haver outros tantos que nunca gastam meias solas…
O certo é que para quem vive numa cidade, sobretudo grande cidade, esta conclusão não espanta muito. Reparamos que há quem se meta num automóvel para percorrer um quarteirão, e quem entre num autocarro para sair na paragem seguinte que muitas vezes é pertíssimo.
Porquê?
Tudo deve ter uma explicação. Quem é mais velho sabe reconhecer que não há dúvida que se perdeu o hábito de andar a pé. Muitas vezes observa-se a situação caricata de se ir de carro até a um ginásio, para depois se fazer lá meia hora de “passadeira”! Eu sei de casos. Assim como é conhecido que à porta das escolas ou infantários há quase sempre um engarrafamento às horas de entrada ou saída porque as crianças vão para a escola de carro.
Como disse estou a falar da minha visão de uma cidade como Lisboa, aceito que na província as coisas sejam diferentes, contudo… Devo dizer que os amigos que tenho a morarem na província também usam o carro para percorrerem distâncias que não são nada de os deixar sem fôlego.
É de pensar. O prazer de andar a pé, porque pode ser um verdadeiro prazer e não “um exercício”, o que lhe roubaria parte da graça, está a desaparecer?
Este estudo diz-nos que sim.
Desta vez a nossa observação concorda com ele, e parece-me que é caso para nos deixar preocupados, este excesso de sedentarismo. Não é bom para nada, nem para a carteira, nem para o ambiente, nem para a saúde.
Mas como se invertem os hábitos?

8 comentários:

Anónimo disse...

Nos teus relatos da secção do Era uma vez... tens contado de passeios que se davam com avós, e do bom que isso era.
A verdade é que a cidade onde se podia andar a pé (a Lisboa de há 50 anos) é de outra galáxia, e hoje esses passeios no meio do barulho, do cheiro dos escapes, da confusão, não fazem o menos sentido.
Mas se esse estudo abrange mais do que Lisboa e Porto (e deve ser assim) já me deixa admirada.
Contudo, deve bater certo. Como dizes, mesmo na província, vemos os jovens de motorizada quando não podem ter carro, e até velhotes com aqueles carrinhos que nem precisam de carta, mas muitas vezes andam neles. Para mim é uma questão de estatuto que está a alastrar de um modo inaudito. Não ter carro, é um desprestígio! E já que o temos, então temos de mostrar que andamos nele.
Oh tempos!!!!

Anónimo disse...

é um ciclo vicioso, estás a ver.
Há muito trânsito porque não se anda a pé, a andamos a pé porque há muito trânsito.
De resto a bicicleta em Lisboa nunca foi um hábito, e só se algum dia virar moda - tudo pode acontecer...

josé palmeiro disse...

Para confirmar que no interior, também é essa a prática, mas o ciclo vicioso que a Joaninha aponta, é mesmo assim, acrescido pelo facto de andar a pé, potenciar os assaltos, fenómeno estendido a todos os lados. Está na mão dos governantes, a todos os níveis, criar estruturas que potenciem a prática do andar a pé e não aumentar a largura das rodovias, encurtando os passeios, se não acabando com eles, e por aí fora.

Anónimo disse...

Quem viaja um pouco tem essa noção.
Por alguma razão se diz, quando viajamos, que só se conhece uma cidade se a calcorreamos em vários sentidos...
É certo que se anda com muito pouco tempo e os transportes ajudam a chegarmos mais depressa onde se quer, mas sem dúvida que se perdeu imenso o hábito de andar. Mesmo no campo, usam as motorizadas. Parece que os músculos das pernas amoleceram...

Anónimo disse...

É uma espiral que não acaba.
A quantidade de carros que por aí há é de pasmar. Qualquer jovem que tira a carta quase de imediato compra um carro mesmo que seja um chaveco por 1.000 euros, velhíssimo. Afinal custa pouc mais do que a carta propriamente dita... Vemos para aí famílias em que cada membro da família tem o seu carro, mais do que divisões da casa!
E claro que depois dão-lhe uso.
Mas quando digo que é uma espiral e que trabalha-se muito para pagar o carro e anda-se de carro para se conseguir trabalhar muito para o pagar...
Eu tenho uma mulher a dias, ganha 6€ à hora, e desloca-se num carro (por acaso até o comprou novo!) explicando-me muito séria, que sem carro não conseguia «fazer» tantas casas... Eu penso de mim para mim, para que é que precisa de trabalhar em tantas casas? Penso que um dos motivos é para pagar o carro e a gasolina...

cereja disse...

Eu às vezes tenho receio de ser demasiado «politicamente correcta» coisa que detestaria. Mas a verdade é que me faz espécie, como é que há alma para uma pessoa entrar num carro, sentar-se, ligar o motor, por o cinto, meter uma mudança, destravar,.... etc, acho que já chega como amostra, para dois quarteirões à frente refazer estas operações todas e ainda por cima ter de procurar um local para estacionar!! Mas há quem o faça!

E, "sem-nick" por acaso não terás a mesma mulher-a-dias que eu? É que a minha é igualzinha!!!! Trabalha em muitos sítios, sempre de carro e explica que sem o carro não podia ir a tantas casas...

Anónimo disse...

Gosto muito de ciclismo, até entrei em provas, mas...perante lisboa, julgo que seria doloroso grande intensificação do seu uso, uma vez que obrigaria a arrasar seis colinas ( mantendo uma para o turismo, claro ).
Depois empobreceria democracias como a rússia, eua, arábia saudita, e outra/os. Cá para mim, entusiasta de metro, obrigado a comboios e ex-amante de carros (na época pré choques petroliferos, raio de opeps e semelhantes ), ficará tudo na mesma até que o que JP se realizar.Mas veja-se o grande aumento de pessoas a praticar marcha,exercício ou, para mim, prazer, com o senão de ser uma espécie de miniatura da corrida, assim como o mini golf está para o golf ( na realidade quase não sei o que é o golf como desporto,com carrinhos e tudo para não andarem mas será o meu quando passar a partir )dos 90 anos.

cereja disse...

O teu caso, FJ não pode servir de exemplo, mexes-te muito e adoras desporto (praticado)
Mas o estudo abrange outras pessoas, e o certo é que se dizem que em Portugal se anda pouco a pé lá terão as suas razões.
Aqui nos comentários já se caiu na mesma posição que tu tomaste - Portugal deve ter sido perspectivado num todo, mesmo que Lisboa tenha colinas há outras terras bem mais planas. Já tenho ouvido que em Aveiro e no Algarve etc se anda mais de bicicleta. Mas não deve chegar para os grandes números. Eu acredito neste estudo (mesmo considerando todas as excepções que possa haver, e acredito que sejam muitíssimas) por aquilo que vejo. Aqui, em Lisboa, reparo em pessoas aparentemente ainda novas e sem nenhuma doença aparente, que esperam um autocarro para se deslocarem pouquíssimos metros - o tempo que estão à espera, chegava à vontade para irem até lá a pé!