Ainda o bullying
Como disse ali em baixo, de vez em quando recebo até emails sobre temas que abordei por aqui, e uma das perguntas que chegam mais é porque uma vez escrevi sobre bullying.
É um tema que não interessa a toda a gente, como é natural. Pode interessar a pais que tenham filhos considerados mais frágeis, emocional ou fisicamente, pode interessar a professores que percebam que existem situações dessas entre os seus alunos, pode interessar a psicólogos ou assistentes sociais que trabalham em escolas, e claro que interessa muito às próprias vítimas embora eu suponha que adolescentes não venham parar a um blog com as características do Pópulo.
Mas há também muita e muita gente que passa completamente à margem deste problema – quando frequentou a escola, nunca assistiu a nada nem percebeu que tal se passasse, e depois de adulta a sua vida decorre em meios tão distantes do meio escolar que só pode saber que algo vai mal quando isso chega à comunicação social. E, quando chega à comunicação social é porque vai MUITO mal!
O que a mim me choca é que estes actos podem abranger um leque de idades muito aberto. Evidentemente com proporções diferentes como não pode deixar de ser, mas a essência do bullying, - «actos de violência intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo, sobre outro, incapaz de se defender» - vai desde a pré-primária até… a algumas praxes académicas.
E cito a pré-primária porque, mesmo que pareça que é uma brincadeira, pode ser muito sério. O grupo, com leader, existe desde idades muito precoces. Todos nós recordamos um menino que admirávamos mais, porque era mais engraçado, mais bonito, mais valente, teria aquilo que quando somos mais velhos chamamos «carisma». E do que esse menino gostava todos os outros gostavam também, porque queriam ser seus amigos, gostavam dele. E está feito o grupo, mesmo entre crianças pequenas. Se outro menino qualquer tem o azar de cair em desgraça perante esse grupo seja por que motivo for - é estrábico, é gordo, gagueja, é muito alto – inicia-se o movimento de bullying. Fazem troça dele, não o querem para brincar, empurram-no, imitam-no em gozo, e até o podem agredir achando tudo isso muito engraçado. E «o grupo», grudado por uma grande solidariedade tem uma força desmedida, para o enfrentar é preciso uma força igual que um único indivíduo nunca tem.
E essas situações repetem-se nas comunidades escolares ao longo de toda a vida académica. Claro que quanto mais crescidos maior a violência, que pode ser física e levada a extremos perigosos. Mas é importante ter presente que pode existir (e existe) uma forma de bullying sem agressão física e igualmente doloroso, é o mais praticado por raparigas. Quando há uma que cai em desgraça e passa a ser constantemente ridicularizada e troçada pelas colegas isso é bullying.
Nem falo agora aqui do ciber-bullying que também existe! E tudo isso pode deixar marcas que durem toda a vida.
Tenho conhecido vários casos, mas quando comecei agora a escrever tinha presente um rapaz que conheço, actualmente terá uns 28 anos. Não sei de ninguém com uma auto-estima tão baixa! Ele, aos seus próprios olhos, não vale nada, não acredita que seja capaz de ter uma vida como qualquer outra pessoa, porque olha em seu redor e vê todos melhores do que ele. Contou-me que no seu 8º ano tinha sido transferido de escola, e foi parar a uma turma onde se tornou o bobo de todos. Ele é franzino e era aluno razoável, e a turma era de repetentes, uns matulões que detestavam a escola. Ele era portanto «diferente». As marcas do que sofreu então, nunca desapareceram, ainda por cima porque nunca se queixou em casa que o pai não ajudava a confidências, era também muito severo com ele e não admitia “mariquices”.
A insegurança que então se gerou nunca mais passou, hoje precisa de uma ajuda especializada da saúde mental.
Não, o bulling existe mesmo e deve ser detectado e corrigido.
É um tema que não interessa a toda a gente, como é natural. Pode interessar a pais que tenham filhos considerados mais frágeis, emocional ou fisicamente, pode interessar a professores que percebam que existem situações dessas entre os seus alunos, pode interessar a psicólogos ou assistentes sociais que trabalham em escolas, e claro que interessa muito às próprias vítimas embora eu suponha que adolescentes não venham parar a um blog com as características do Pópulo.
Mas há também muita e muita gente que passa completamente à margem deste problema – quando frequentou a escola, nunca assistiu a nada nem percebeu que tal se passasse, e depois de adulta a sua vida decorre em meios tão distantes do meio escolar que só pode saber que algo vai mal quando isso chega à comunicação social. E, quando chega à comunicação social é porque vai MUITO mal!
O que a mim me choca é que estes actos podem abranger um leque de idades muito aberto. Evidentemente com proporções diferentes como não pode deixar de ser, mas a essência do bullying, - «actos de violência intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo, sobre outro, incapaz de se defender» - vai desde a pré-primária até… a algumas praxes académicas.
E cito a pré-primária porque, mesmo que pareça que é uma brincadeira, pode ser muito sério. O grupo, com leader, existe desde idades muito precoces. Todos nós recordamos um menino que admirávamos mais, porque era mais engraçado, mais bonito, mais valente, teria aquilo que quando somos mais velhos chamamos «carisma». E do que esse menino gostava todos os outros gostavam também, porque queriam ser seus amigos, gostavam dele. E está feito o grupo, mesmo entre crianças pequenas. Se outro menino qualquer tem o azar de cair em desgraça perante esse grupo seja por que motivo for - é estrábico, é gordo, gagueja, é muito alto – inicia-se o movimento de bullying. Fazem troça dele, não o querem para brincar, empurram-no, imitam-no em gozo, e até o podem agredir achando tudo isso muito engraçado. E «o grupo», grudado por uma grande solidariedade tem uma força desmedida, para o enfrentar é preciso uma força igual que um único indivíduo nunca tem.
E essas situações repetem-se nas comunidades escolares ao longo de toda a vida académica. Claro que quanto mais crescidos maior a violência, que pode ser física e levada a extremos perigosos. Mas é importante ter presente que pode existir (e existe) uma forma de bullying sem agressão física e igualmente doloroso, é o mais praticado por raparigas. Quando há uma que cai em desgraça e passa a ser constantemente ridicularizada e troçada pelas colegas isso é bullying.
Nem falo agora aqui do ciber-bullying que também existe! E tudo isso pode deixar marcas que durem toda a vida.
Tenho conhecido vários casos, mas quando comecei agora a escrever tinha presente um rapaz que conheço, actualmente terá uns 28 anos. Não sei de ninguém com uma auto-estima tão baixa! Ele, aos seus próprios olhos, não vale nada, não acredita que seja capaz de ter uma vida como qualquer outra pessoa, porque olha em seu redor e vê todos melhores do que ele. Contou-me que no seu 8º ano tinha sido transferido de escola, e foi parar a uma turma onde se tornou o bobo de todos. Ele é franzino e era aluno razoável, e a turma era de repetentes, uns matulões que detestavam a escola. Ele era portanto «diferente». As marcas do que sofreu então, nunca desapareceram, ainda por cima porque nunca se queixou em casa que o pai não ajudava a confidências, era também muito severo com ele e não admitia “mariquices”.
A insegurança que então se gerou nunca mais passou, hoje precisa de uma ajuda especializada da saúde mental.
Não, o bulling existe mesmo e deve ser detectado e corrigido.
12 comentários:
Lembro-me de teres falado nisto e nem foi só uma vez, aquela vez para onde nos deixaste o link, creio que falaste mais vezes.
Dantes não tinha nome, ou este nome, mas sempre existiram atitudes destas dos que se sentem mais fortes contra os que são mais fracos e não aprenderam a reagir. E, já tinha ouvido rumores de que até na primária e talvez Jardim de Infância começavam a haver práticas desse tipo. Os putos muitas vezes são cruéis, a gente sabe. E também é verdade que não se gosta dos meninos «queixinhas». Mas um professor ou pai atento deve sentir o limiar do que é a «queixinha» e a dor verdadeira e sem resposta. É estar atento.
Eu disse isto, mas se calhar não é nada fácil isso de "estar atento", porque é preciso que a criança que está mal dê algum sinal. E por vergonha, muitas vezes eles calam-se...
Não andava por cá, quando em 2005, falaste do assunto, mas li agora e estou completamente de acordo com o que lá disseste.
A referência ao Jardim de Infância é completamente acertada, digo-o, porque toda a minha vida convivi com essa realidade, dada a profissão da minha mulher e da minha própria experiência de cerca de trita anos a lidar com gente de todas as idades na biblioteca de que era responsável.Sem me alongar mais, direi que o último parágrafo do comentário da Mary, diz tudo. Eu só lhe acrescentaria que o "estar atento", não é só para os professores, é para toda a comunidade, exactamente para detectar os silêncios a que as crianças assim tratadas, se remetem.
Mais uma vez, este post merece um comentário maior do que o tempo que tenho agora
Inté!
de manhã senti que não tinha tempo, como a Joaninha, e agora se calhar também não vou dizer muito. Mas tenho realmente a ideia de que mesmo sem esse nome, a atitude sempre existiu. Porque a verdade é tal como chamas a atenção, sempre houve lideres, e os lideres têm de ter 'seguidores' ou não lideravam nada... E claro está que os tais seguidores têm de agradar, e um dos caminhos é hostilizar as pessoas de quem o lider não gosta.
Depois é todo um encadeado.
Isso passa-se entre adultos como sabemos, e não é de estranhar que se passe entre gente miúda onde o espírito de grupo é ainda mais forte.
Não tinha ideia de que pudesse ir até à primária ou ainda mais abaixo, mas neste intervalo do almoço puxei a conversa com quem sabe da poda, e confirmaram o que tu dizes - em muitas escolas, e até escolas privadas e caras, há situações de intimidação que nem se imagina. E as vítimas nem piam por vergonha.
Olha, hoje aprendi uma coisa.
Bem, escrevi o post, exactamente por um lado por ter recebido um email de umas moças que estavam a estudar o bullying (e c+a chegram ao blog) e por outro por o tal rapaz que ficou fixado no seu 8º ano e ainda tem pesadelos com isso.
Mas o tema tem imenso que dizer, e é mesmo verdade que noutra dimensão também funciona entre miudagem muito pequena, para nosso espanto.
é um problema a que procuro estar atenta, para que não aconteça!
e existe entre os pequeninos sim, embora com estes eu veja mais aquelas crianças que dão tudo o que têm para pertencer a um grupo e menos outro tipo de agressividade.
Saltapocinhas, eu podia quase por as mãos no fogo em que tu estarias atenta a coisas dessas.Aquilo que digo passa-se ou em escolas grandes (e até há infantários que são muito grandes, demasiado para o meu gosto) ou quando os adultos estão demasiado preocupados com os seus próprios problemas que se «distraem» e não reparam no que se passa à sua volta. E é um dos casos onde é muito importante a colaboração da família e da escola, haver confiança mútua.
O caso de que falei, do miúdo que agora é crescido mas ficou marcado, ele nem ao pai dizia nada porque... também receava a reação do pai, que não suportava 'mariquices'. Assim não se chega lá.
Olá, é a primeira vez que converso via net, mas, hoje dei conta de uma situação de bullying no JI onde trabalho... é aflitivo e não sei se conseguirei resolver o problema!
Não sei se esta Maria é a «Maria» que costuma comentar aqui no blog, mas parece-me que não.
A verdade é que este post já é 'velhinho' e deves ter chegado cá pelo google. Vou ver se te respondo daqui a pouco, está bem?
(neste meu blog conversa-se muito pela net ):)
Bom Dia, Maria (do dia 28, 23 e 42)
Estive a reler de novo o comentário. Creio que JI se refere a Jardim de Infância, não é? O tema tem tanto que dizer que não dá para o espaço de um comentário, e não posso responder via email porque este sistema não nos dá acesso a email. Vou escrever um post para a semana com a minha opinião, está bem?
Só venho deixar um esclarecimento.
Tens razão esta não é a "Maria", que conhecemos, mas é outra, com a mesma importância.
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