quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Ele há coisas fantásticas

Este blog arrisca-se a ser muito monótono por andar sempre quase sempre em redor dos mesmos temas.
Mas que querem? Olhem que a culpa não é minha, infelizmente os ditos temas é que se metem à frente de mim, queira ou não queira tropeço neles!

Ontem foi capa do Público em papel, um caso de bradar aos céus. Como só o li durante o dia não deu para tecer considerações sobre o caso, mas a verdade é que também não consegui digerir a história, pelo que mesmo ‘atrasada’ tenho de me referir a ela.
É que neste caso cruzam-se vários dos meus temas de combate – questões hospitalares, violência doméstica e burocracia. Três em um!

Provavelmente leram ontem a história: uma senhora ia no meio da rua quando se cruza com o ex-marido. A criatura ataca-a à cabeçada, de tal modo que ela cai no chão e recorre a um hospital para os primeiros cuidados. Lá, foi atendida e tratada, e ao sair querendo pagar o tratamento disseram-lhe que depois enviariam a factura para casa. Normal. É o que costuma ocorrer.

Um mês depois, recebeu a conta – 8 euros e 70 de taxa moderadora, e… mais cerca de 150 euros (?!)
dos tratamentos. Pelos vistos a senhora tinha de apresentar prova de que tinha sido agredida, porque o Hospital isenta as vítimas de violência doméstica desde que elas o provem! Ora como só depois do agressor ser condenado isso se pode provar, imagina-se a teia burocrática que se desenha.
A senhora lá do serviço de facturação, consola-a explicando que ela pode
começar por pagar e depois entregar os recibos "ao advogado para juntar ao processo, para que, aquando da sentença judicial, sejam pagas pela pessoa que vier a ser responsabilizada". A sério. Não é uma piada de mau gosto é a lei levada à letra.
Esta senhora burocrata faz notar que o seu respeito à lei é tão escrupuloso que «nem sequer isenta de taxa moderadora uma grávida de sete meses, a menos que ela tenha um documento médico a atestar a gestação» Vai-se a ver podia ser uma gravidez histérica, e a secretaria do Hospital seria gravemente penalizada!...
Bem, como isto foi primeira página, como foi muito falado, como até aqui na blogosfera já li alguma indignação, talvez venha uma ordem - que a senhora dos papeis decerto acatará respeitosamente - para que a interpretação da lei seja menos rigorosa.

Mas que até lá a senhora agredida tem uma conta calada para pagar dentro de um mês, isso é um facto.


Não há vergonha, é outro facto.



8 comentários:

Anónimo disse...

Também li, também me indignei, e tinha quase a certeza de que ias falar nisto.
A gente já te conhece, não é?

josé palmeiro disse...

Houve, inclusivamente, uma entrevista a um dos administradores do Hospital de S. Marcos, um tal de "Mesquita Machado", sim também, é o da câmara, do futebol e agora, mais um dos hospitais, mas que grande família, e todos a mandar. Desculpem os parênteses, mas foi para me situar.
Perante tal situação a solução é, não pagar, pura e simplesmente Assim por assim, põe-se tudo em causa.

Anónimo disse...

Não sabia deste esclarecimento que deu o Zé, mas ajuda um pouco a situar a coisa. Há poupanças interessantes e esta é fabulosa!
De resto o que terá sido preciso fazer à senhora que custou quase 30 contos? (digo à antiga para se imaginar melhor)
É que é uma porrada de massa, não é?

Anónimo disse...

Também há coisas (como dizes 'fantásticas') que nos custam a engolir. Este caso, como se tornou mediático, é capaz de ter um final feliz, mas deve haver milhares de outros onde as pessoas pagam e apenas se lamentam na família e os vizinhos...
É uma vergonha!
Então uma pessoa tem de fazer prova de que foi agredida?!!
Mas creio que é assim.
Se houver um acidente na rua, uma pessoa apanha com um carro em cima, mas tem de pagar do seu bolso, até a companhia de seguros decidir se indemniza ou não. Conheço um caso sinistro, de uma menina que passou toda a adolescência em tratamentos e a família a pagar enquanto esperavam pela decisão dos seguros!

Anónimo disse...

Por acaso isto faz-me pensar noutra coisa.A fragilidade dos agredidos perante os outros.E não apenas os agredidos fisicamente mas tb.os outros.Parece que quem começa a levar pancada uma vez vai sempre levando até ao fim.Ele são as mulheres vitimas de agressão sexual qd. são interrogadas na policia,ele são os desempregados qd. vão a entrevistas no Fundo de Desemprego e são tratados a baixo de cão,ele é o desgraçado que se enganou numa porcaria dum impresso e é tratado com o desdém de quem se sente doutor em frente de um analfabeto,ele é o médico que ao ver o doente na mó de baixo o trata com toda a arrogancia exercendo o seu o poder de vida ou morte sobre o outro,o conhecimento dos segredos do corpo que é do outro,ele é o Banco que trata o teu dinheiro como se fosse próprio e te responde com opacidade às mais que legitimas perguntas...enfim vive-se numa sociedade de "winners"onde nenhuma fragilidde é perdoada.Winners que desgraçadamente já perderam tudo o que lhes restava de humanidade.Belos,saudáveis,fortes,ricos,vencedores.Admiráveis!AB

Anónimo disse...

A ultima palavra do comentário era admiráveis.Saiu cortada.AB

josé palmeiro disse...

Tens toda a razão AB. Essas são na realidade, "coisas fantásticas"!

cereja disse...

Sem ofensa, aqui o prémio do melhor comentário vai para a AB!
Tens toda a razão, mulher! é impressionante como o facto da agressão fragilizar tanto a pessoa que é agredida e encher de força o agressor. A todos os níveis.
Este é um ponto a que vale a pena voltarmos.