Palavras e gestos
O fim-de-semana passado acompanhei uma prima numa visita a uns seus familiares próximos que estavam num «Lar».
Era longe de Lisboa e, talvez por isso, tinha condições que não vi em nenhum dos que conheço por aqui. Reconheço que fiquei bem impressionada.
Era uma casa grande, de um único piso, com um grande espaço verde à volta, e vista para os campos que rodeavam aquele conjunto. Lá dentro tinham aquecimento central, estava muitíssimo limpo e arrumado, e não cheirava a nada, nem a desinfectante como em certos lares. O quartinho dos familiares da minha prima tinha duas camas, um grande roupeiro, e uma casa de banho privativa, era quase uma suite! Na sala de jantar as mesinhas eram para 4 pessoas, com toalhas cor de cereja, cortinas alegres, muita luz, e nas diversas salas de estar havia grandes televisões com imagens nítidas. Havia cabeleireiro, biblioteca, ginásio, serviço de enfermagem.
Enfim, se aquilo se destinasse a passar um ou dois meses de férias, não havia nada a dizer, a nuvem escura naquele quadro era o não se saber (ou pior, saber-se!) se alguma vez se sairia dali…
Mas uma coisa ficou a chocalhar na minha cabeça. Quando algum dos empregados de lá se dirigia a um dos “clientes” dizia carinhosamente -«Olhe, minha querida…» tal e tal, ou até «Diga lá, meu amor..» patatá, patatá.. Já tenho reparado nisso. Em Hospitais, em Lares, em Centros de Dia ou Paroquiais, onde quer que estejam pessoas de idade, estas são tratadas como crianças por quem cuida delas. Não é por mal. Acredito que, sinceramente, seja um tratamento que consideram carinhoso, mas é na minha opinião muito infantilizante e acentua o facto de que não sabem o nome da pessoa a quem se dirigem. É certo que numa casa com tanta gente é capaz de ser difícil saber o nome de todos, mas nem que tivessem na camisola, um discreto pregadorzinho com o nome, sempre era mais agradável ouvir «Diga lá, D. Maria do Céu… » ou «Olhe, Sr. Carlos...» do que o apodo carinhoso de 'querido' ou 'amor', que é completamente vazio naquela situação.
Mas se calhar são manias minhas…
Era longe de Lisboa e, talvez por isso, tinha condições que não vi em nenhum dos que conheço por aqui. Reconheço que fiquei bem impressionada.
Era uma casa grande, de um único piso, com um grande espaço verde à volta, e vista para os campos que rodeavam aquele conjunto. Lá dentro tinham aquecimento central, estava muitíssimo limpo e arrumado, e não cheirava a nada, nem a desinfectante como em certos lares. O quartinho dos familiares da minha prima tinha duas camas, um grande roupeiro, e uma casa de banho privativa, era quase uma suite! Na sala de jantar as mesinhas eram para 4 pessoas, com toalhas cor de cereja, cortinas alegres, muita luz, e nas diversas salas de estar havia grandes televisões com imagens nítidas. Havia cabeleireiro, biblioteca, ginásio, serviço de enfermagem.
Enfim, se aquilo se destinasse a passar um ou dois meses de férias, não havia nada a dizer, a nuvem escura naquele quadro era o não se saber (ou pior, saber-se!) se alguma vez se sairia dali…
Mas uma coisa ficou a chocalhar na minha cabeça. Quando algum dos empregados de lá se dirigia a um dos “clientes” dizia carinhosamente -«Olhe, minha querida…» tal e tal, ou até «Diga lá, meu amor..» patatá, patatá.. Já tenho reparado nisso. Em Hospitais, em Lares, em Centros de Dia ou Paroquiais, onde quer que estejam pessoas de idade, estas são tratadas como crianças por quem cuida delas. Não é por mal. Acredito que, sinceramente, seja um tratamento que consideram carinhoso, mas é na minha opinião muito infantilizante e acentua o facto de que não sabem o nome da pessoa a quem se dirigem. É certo que numa casa com tanta gente é capaz de ser difícil saber o nome de todos, mas nem que tivessem na camisola, um discreto pregadorzinho com o nome, sempre era mais agradável ouvir «Diga lá, D. Maria do Céu… » ou «Olhe, Sr. Carlos...» do que o apodo carinhoso de 'querido' ou 'amor', que é completamente vazio naquela situação.
Mas se calhar são manias minhas…
9 comentários:
É horrivel, já tinha reparado, é o cumulo da hipocrisia Mas encontrei "melhor": numa bicha de urgências estava uma empregada de um lar, chamadoidade de ouro...
Este post vai de certeza apanhar muitas opiniões.
Já vi que o Luís Manuel se enganou e deixou o comentário da tua gracinha dos gadjets...
Um Lar chamado «Idade de Oiro», de facto parece mesmo cinismo! Só se o ouro for a quantia que devem despender para lá poderem entrar, que existem alguns (muitos, muitíssimos!) onde o ordenado que se ganha enquanto estamos a trabalhar não dá nem para metade daquilo que lá se deve deixar!
Eu também já tinha reparado nisso, e não apenas nessas situações. Até em ambiente familiar, há tendência a tratar um velho como uma criança. Imagino-me a chegar a uma certa idade e ver um palerma com idade de ser meu neto a dizer em vós açucarada «a queridinha vai tomar a sua papinha, tá beeeem?»
Felismente que na situação que me calhou em sorte, quando a minha mãe, esteve num lar, as coisas se não passaram assim. Era na provincia, todos se conheciam e os nomes eram os usados.
É mesmo uma hipocrisia e essa então do lar se denominar "idade de ouro", só mesmo no sentido que a Joaninha lhe atribui.
Mas tudo isso passa pela formação profissional de quem neles trabalha. Será que os milhões gastos nessa actividade, não resultaram? Onde está a avaliação que o governo deve fazer, aos dinheiros que emprega?
Sabem que isto não acontece só nos lares...Costumo dizer que tive a noção de que estava a envelhecer quando os chauffeurs de táxi me deixaram de tratar por menina quando me deixavam em casa a horas tardias e quando numa loja chique a empregada me chamou"querida"para de seguida me perguntar se eu tinha reconhecido a cliente que estava a entrar e que era uma conhecida actriz de televisão...claro que esta "querida" ficou sem vontade de me chamar tal coisa mais vezes...mas no cabeleireiro que não o habitual também já me aconteceu...portanto se calhar acham que é deferencia.AB
Agora "idade do Ouro" é qualquer coisa!E se calhar tem a ver ,sei lá ,não havia uma série televisiva,aliás engraçadissima chamada "Golden Girls"?Cá por mim, quando for grande, gostava de ser como a protagonista mais velha dessa série que tinha perdido toda a censura verbal mas não a inteligencia.AB
Não é só nos lares, como a Emiéle até referiu quando falou em Hospitais, acho que é por todo o lado.
Contudo, nos lares, onde os clientes são os mesmos todos os dias, era o mínimo de cuidado não esquecer o nome de quem tratam. Talvez como tu dizes, o nome na lapela (afinal os profissionais também o devem ter).
Acredito que como diz a AB, se imagine que é uma deferência, mas estou mais de acordo em que é um modo de infantilizar as pessoas. Como disse a Joaninha na frase final, se algum dia me dissessem isso creio que ia o prato pelo ar!
De manhã tinha escrito um outro comentário e devo ter-me esquecido de o «mandar publicar».
É que este é um tema que tem muito interesse para mim e já tenho reflectido nisso.
Creio que há as duas vertentes. Há o «querida» ou «amor» que pretende ser simpático. Nota-se nas vendedeiras das praças, que chamam aos gritos «Venha cá minha queriiiida!!!». Não há condescendência aí.
Depois, há esses casos do tratamento aos velhos, e com toda a franqueza, também acho que aí é uma protecção que tem a ver com a infantilização da pessoa. Detesto. Nós falamos em hospitais e lares porque é onde se vêm mais destas pessoas, mas penso que por todo o lado a situação é essa. Não há de todo a noção de que é uma espécie de falta de respeito no sentido mais profundo da palavra!
Ah Joaninha o "querida,amor" das peixeiras não tem nada a ver...tens toda a razão.E, claro, a infantilização ou o paternalismo ou condescendencia como lhe queiram chamar é uma espécie de "rebaixamento" da condição pessoal isso sem nenhuma dúvida.AB
É um aspecto importante, este do RESPEITO pelas pessoas, tenham elas a idade que tiverem. O certo é que eu acredito que os técnicos que dizem a uma velhinha, "minha querida" "meu amor", até têm carinho, não digo que não, mas não sei bem se têm respeito. E, em certa altura da vida, as pessoas ressentem-se muito com isso. Claro que há casos e casos. Depois de AVCs, ou quando começa um Alzheimer, ou em situações mais especiais, é natural que se use um tom mais 'autoritário' para fzer cumprir instruções importantes. Mas sei bem, por familiares meus, que detestam sentir que «mandam neles», aliás como eu também detestaria...
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