sábado, novembro 24, 2007

Uma história exemplar

Só conheci a história através da crónica de Nicolau Santos no Expresso, e a história parece, não direi uma fábula uma vez que essas são passadas com animais, mas qualquer coisa como um conto moral.
Porque o certo é que muitas vezes se desabafa amargamente, quando ouvimos alguns senhores, sobretudo aqueles que tratam da tal macroeconomia, falar das pessoas como números e opinar que se tem de cortar nos salários ou outras ideias dessas
«Sempre queria ver, se tu que estás aí a falar tivesses que viver com o dinheiro que achas que é muito demasiado pagar a um trabalhador!...»
Ora parece que alguém levou essas palavras à letra, fez a experiência e...
um patrão não conseguiu viver com o salário de um seu operário .
Foi na Itália, um empresário curioso, decidiu viver - ele e a mulher que recebeu o salário idêntico - um mês com aquilo que pagava aos seus trabalhadores. Não chegou. E imagino mesmo que ele nesse mês se restringiu às despesas básicas, tivesse andado de transporte público, não fosse jantar com amigos, nem frequentasse espectáculos especiais. Pelo que ele disse «o dinheiro acabou a 20» e, fazendo as contas, decidiu dar-lhes um aumento de 20%. Pensando bem, o aumento até devia ter sido de 30%, se o dinheiro lhe acabou a 20 ainda faltava um terço do mês… Contudo, quando se negoceiam aumentos de 3%, 4%, e se discute ferozmente até às décimas, ouvir falar de um patrão que aumenta 200 € em 1000, é impressionante!
E também é interessante o argumento desse senhor "
quero que eles estejam bem, para aumentar os meus lucros" explicando que quando vivem debaixo do stress da falta de dinheiro o seu trabalho tem pior qualidade.
Também penso que sim.
E é formidável ouvir um gestor dizê-lo!

16 comentários:

josé palmeiro disse...

Tudo óbvio. Só quem vive com uns míseros euros, tem a noção do que custa viver.
Gostaria que não fosse história, mas sim realidade, e a ser assim, que o exemplo desse industrial se propagasse pelo mundo fora. Dava todos os meus votos à iniciativa privada, já não era preciso o estado, para nada. Um Mundo onde não houvesse desigualdades e sem chefões, que tudo sugam, abem da nação.

Anónimo disse...

Todo o artigo do Nicolau é formidável.
Fui procurar e está AQUI
Reparem nas histórias que conta sobre o fisco e o modo de actuar quando quem deve é um contribuinte ou é ele próprio!
E para terminar a piada sobre «a Madeira livre».
Diz que «os dados oficiais do Ministério das Finanças mostram que cada madeirense recebeu em 2007 do tão injuriado continente, através de transferências da Lei das Finanças Regionais, a módica quantia de €867,7, um valor que tem tido um crescimento exponencial nos últimos 21 anos»
Ah, é???
Safados dos gajos do continente! Mais uns 133 euros e arredondavam a conta para mil. Sempre era um número mais limpo.

Anónimo disse...

Mas Zé Palmeiro, esta foi uma história real. Claro que foi apenas UM único patrão a ter esta atitude, mas aconteceu mesmo!

Anónimo disse...

Pois é, amigo Zé, nem acreditaste que fosse a sério, foi? :)
Olha Joaninha quando passei pelo Pópulo, mais cedo, o link da Emiéle só apanhava um pouco da artigo, mas agora está lá todo. Tiveste tanto trabalho, tadinha... Deves ter passado por cá mais cedo, como eu!
A História é realmente interessantíssima. E deveria haver maneira de tornar essa experiência obrigatória.

Anónimo disse...

É assim, Emiéle, reconheço que de economia não sei nada ( a não ser fazer «as minhas economias» acrobacia difícil...) mas sempre me deu volta ao estômago ouvir uns senhores «buéda importantes» como diriam os putos, lá os donos do Banco de Portugal ou quejandos, que se transportam de motorista privado, que quando estão doentes vão mas é à América ou à Alemanha, que mandam os filhos estudar para universidades dos Estados Unidos pelo menos, cujas mulheres se vestem em costureiros italianos ou outros do estilo, e depois falam de salários como sendo uma coisa completamente abstracta. São valores. São números. Que ainda por cima aparecem multiplicados por centenas ou milhares (o número de trabalhadores...). Não pensam em 700€, pensam em 70.000.000€ e isso parece imenso - porque é o valor total do trabalho que se está a pagar. Por verem a floresta deixam de ver a árvore. Esta História é excelente.

Anónimo disse...

Está muito bem apanhado!
Acredito que muitos dos empresários e patrões tenham a ideia de que os seus trabalhadores têm muito menos necessidades do que eles próprios e o que lhes pagam chega muito bem. É bom, por os pés na realidade.

Anónimo disse...

Tal como disseste é quase uma fábula. Sem querer ofender os comentadores anteriores a mim, mas olhem que até connosco se passa qualquer coisa de semelhante, com o que se passou com aquele patrão. Eu, acho que ganho pouco para as minhas necessidades - e nem são tantas como isso - mas não consigo imaginar de todo como é viver-se com o Salário Mínimo Nacional!!! Se tivesse de o fazer, não saberia o que havia de "cortar"??!! Ia viver para um quarto alugado? Mas mesmo isso já é quase metade do SMN. O que comia? Como pagava os transportes?
Mas há quem o consiga fazer.
Quando penso isso, deixo logo de me queixar e considero que vivo Muito Bem! :S

Anónimo disse...

Li atentamente o post e achei muito interessante... Depois li todos os comentários... E acho que quem falou realmente aqui foi a/o "tess", fez uma observação realista... nós nunca pensamos nos outros, nos que passam com o salário mínimo e os que nem o tem... isso não importa, né!!! O que importa aqui é nós termos cada vez mais... Se as pessoas pensassem bem no assunto acho que professores e outros sectores da sociedade deixariam de fazer "queixinhas por tudo e por nada"... Desculpem este meu desabafos, mas é que me custa ver tanto egoísmo... olhem à vossa volta... que esse olhar será o remédio para a maior parte dos vossos problemas...

Mar disse...

Mas ó Emiéle, os grandes empresários de sucesso dos países desenvolvidos já descobriram essa fórmula há muito tempo. Basta veres as empresas que têm creches para os filhos dos empregados, salas de estar e de convívio maravilhosas, ginásios e até spa's, tudo em nome da produtividade dos seus funcionários. E resulta!

cereja disse...

Quintal - A Tess (é uma A, creio que diminutivo de Teresa) tem alguma razão sem dúvida, é-nos difícil imaginar como se pode viver com menos de metade do que temos e já nos parece tão pouco. Contudo também não é fácil gerir uma sistemática diminuição de poder de compra como se tem sentido no nosso país nos últimos anos. Não chamaria egoísmo ao desconsolo que se vive, só o será quando se luta apenas por nós e muitas vezes contra trabalhadores iguais a nós. Mas nessa divisão tem o nosso governo sido mestre, em por trabalhadores contra trabalhadores.
Mar - Olá!! Claro que tens razão. Mesmo os países mais desenvolvidos que nós que têm uma política social digna desse nome, se formos a ver, o trabalho lá «rende» muito mais, os patrões não ficam a perder. Aqui a graça, foi ele ter experimentado mesmo como é viver com tão pouco, e o gesto ter sido um aumento imediato.
Joaninha - Obrigada pelo Link, e o King tem razão, numa primeira versão o link do post saiu esquisito...

Anónimo disse...

Eu gosto imenso do Nicolau Santos.E de um outro fiscalista que se chama Tiago e de quem esqueci o apelido e que há dias na 2 dizia com indignação que só num país como POrtugal que se autodenominava de "estado de direito"se tinha progressivamente feito armadilhas legais do ponto de vista fiscal que tiravam aos contribuintes qusi toda a hipotese de se defenderem do ataque das Finanças que aliás não geriam a carga fiscal pela realidade das empresas ou dos contribuintes mas se geriam por "objectivos" o que a coberto da lei dava direito a todos os enganos e consequentes extorsões de que ainda que as pessoas ou empresas tivessem capacidade de comprar os serviços de um advogado fiscalista ou de empresas de auditoria que só por si levam fortunas não tinham tempo útil nos tribunais porque entretanto já as execuções estavam em marcha ou tinham pura e simplesmente falido.Vi-o falar com uma indignação que nunca ouvi em nenhum deputado da oposição no Parlamento...Mas percebe-se...parece que o ar condicionado continua avariandoe os senhores não teem condições...AB

Anónimo disse...

No que diz respeito aos empresários...bom eu trabalhei em multinacionais que qd.tinham directores portugueses era um fartar vilanagem de atropelos para retirar o máximo de lucro para os próprios bolsos enquanto os outros não davam o murro na mesa e mandavam as supervisões ou auditorias que revelavam coisas tão mesquinhas e absurdas como paineis de azulejo para as entradas das vivendas em Loures e quejandos completamente à "fado"e saloice nacional...Mas parece que algures lá no note existe um homem que tem uma organisação extraordinária da empresa como até da própria aldeia onde a empresa existe tendo fundado escolas etc,etc,.È curioso comparar isso com exemplos dos fins do sec.XIX e principios do XX como o Agapito Fernandes ou o próprio Grandella(acabou interditado pelos filhos,assunto de que já falei aqui mais do que uma vez, mas que nunca expliquei muito, mas que é sem dúvida notável.AB

Anónimo disse...

No que diz respeito aos empresários...bom eu trabalhei em multinacionais que qd.tinham directores portugueses era um fartar vilanagem de atropelos para retirar o máximo de lucro para os próprios bolsos enquanto os outros não davam o murro na mesa e mandavam as supervisões ou auditorias que revelavam coisas tão mesquinhas e absurdas como paineis de azulejo para as entradas das vivendas em Loures e quejandos completamente à "fado"e saloice nacional...Mas parece que algures lá no note existe um homem que tem uma organisação extraordinária da empresa como até da própria aldeia onde a empresa existe tendo fundado escolas etc,etc,.È curioso comparar isso com exemplos dos fins do sec.XIX e principios do XX como o Agapito Fernandes ou o próprio Grandella(acabou interditado pelos filhos,assunto de que já falei aqui mais do que uma vez, mas que nunca expliquei muito, mas que é sem dúvida notável.AB

Anónimo disse...

Falta um "r" em Norte e não fechei parentesis a seguir á interdição do homem pelos filhos.

cereja disse...

Os Bairros Agapito e Grandella, são de facto um modelo como esta perspectiva de que o bem estar dos trabalhadores pode trazer benefícios não é nenhuma novidade...
E como no post de cima do «Era uma vez» se toca ao de leve, é curioso que as casas dos 'Bairros Sociais' do século passado, são hoje belas vivendas vendidas e compradas a peso de ouro.

Anónimo disse...

Suponho que o principio dos "bairros sociais"já foi diferente e sempre foram para gente mais diferenciada do que o nome indica...O que é facto é que eram atribuidos por sectores profissionais:Marinha(Caselas,hoje Restelo)Exercito(Calçada dos Mestres)ou funcionários corporativos(Arco do Cego)e por aí fora.No caso Grandella até a localização em Benfica foi pensada para ou de comboio ou através da Ribeira de Alcantara as mercadorias chegarem ao seu destino com mais facilidade.AB