«O Caderno» da AB – doenças infantis
Há um léxico das doenças da infância que é tão extraordinário que apetece fazer lenga-lengas com ele.
Ora vejam: zaragatoa, colutório, Vick Vaporub, papas de linhaça, Ceregumil, Bovril,"banhos de luz", mais as purgas anuais e outras invasões purificadoras, pachos de álcool ou de água para baixar a febre - tudo isto de mistura com histórias, passos quasi silenciosos, lamparinas, murmúrios de "coitadinha está acarrada"..."diz AH, AH ! de colher em riste e a maleta do doutor meia aberta, enfim, pensando bem ,nessa lista interminável das doenças da primeira infância não era tão mau assim estar doente...e depois não havia manha que não pegasse o que era um teste fantástico para futuros empreendimentos.
Até à operação às amígdalas, a reprodução mais completa da tortura medieval. A sangue frio tal como no romance do outro. E no Hospital Militar com um médico do qual nunca mais esqueci o nome: Barata Salgueiro. Pois, pois como o da rua.
AB
8 comentários:
Quanto às papas de linhaça (muito quentes)fiquei com uma cicatriz que depois provocou uns grandes remorsos ao meu pai, por uma dessas operações demasiado quentes. Não me lembro que devia ser muito pequena. Mas lá me puseram uma dessas coisas, e o certo é que como a pele de uma criança pequenina é mais delicada, fez mesmo uma queimadura. Nada que me roubasse casamento, mas se já houvesse à época cirurgia estética acredito que o meu pai se endividasse para me tirar a tal cicatriz tal o remorso que sentiu... Dos pachos de álcool, e álcool mentolado, isso lembro-me bem e não era desagradável. Mas já o óleo de fígado de bacalhau (gnhag!!)é um má recordação!
O Bovril, era para reforçar as sopas ou lá o que é, não era nem pior nem melhor que outras coisas.
Onde isso já vai...
:)))
Tal e qual.
Parece uma ladaínha de palavras que deixaram de se usar.
Lembras o terrível «óleo de fígado de bacalhau» que parece que continua a ser muito bom, e o 'colargol' que nos enfiavam com um conta gotas de vidro pelo nariz acima quando se estava constipado ...?
Do óleo de figado de bacalhau não falei de propósito, porque esse é outro departamento.No colégio onde andei ,ao almoço era ministrado o dito cujo.Uma garrafa grande e toda a gente punha a colher a jeito para receber o precioso liquido.Ora bem,a mesa do refeitório era uma mesa em U onde meninos e meninas se sentavam ordenadamente e era forrada a pergamoide cinzento,um material próximo do linóleo ou do plastico que era facilmente lavável.Como o Colégio era um bom colégio, as refeições ,equilibradissimas ,eram acompanhadas por um copo de leite onde se deitava uma gota de café para colorir ,porque a maioria dos miudos embirrava com o dito leite.Eu também, com cor ou sem cor.Com a agravante que ,chegando à mesa morno, o copo se pegava ao revestimento da mesa produzindo um cheiro que me agoniava.Ora em determinada altura fiz um acordo com o colega do lado:eu bebia o óleo de figado de bacalhau dele e ele bebia o meu leite.Portanto eu bebia 2 colheres 2 da mistela, o que diz bastante do meu ódio ao leite morno, com um pinguinho de côr ou sem pinguinho de côr.AB
Vocês têm razão, a maioria dessas palavras nem sei o que quer dizer. Não foi há tanto tempo mas quando leio romances do século passado e falam em 'sangrias' e coisas dessas meto tudo no mesmo saco!...
Banhos de luz? É bonito, mas que raio é? Não pode ter e ver com os «bronzeadores» actuais...
Este campo foi onde as mudanças foram mais profundas. Realmente, mesmo para além das vacinas, hoje há medicamentos para tudo e mais alguma coisa e os remédios tem «sabores» especiais para os meninos. O xarope sabe a morango, ou a tangerina, e os termómetros basta aproximar uns segundos e já está...
Por outro lado, como e Clara/Emiéle contou ali abaixo, pediatra ao domicílio só com seguros de saúde milionários. Temos um clínico geral e quem quiser que vá à urgência...
Nem sei que dizer, tanta a próximidade com o que foi descrito.
Começo por acrescentar as "benzeduras". Uma das vezes que torci um pé, num salto no tanque dos "MOUROS", fui benzido por uma vizinha que ao mesmo tempo que eu depositavao pé numa bacia de esmalte, com água bem quente com sal, ela, com um novelo de lã e uma agulha, ia cozendo e dizento uma ladaínha que seria assim: "Eu te cozo, osso quebrado, nervo torto...", e por ali prosseguia até eu aguentar o sacrifício.
Quanto ao óleo de fígado de bacalhau, era como a AB, mas gostava mesmo e chegava a misturar na sopa, o que para mim era uma delícia. Que me perdoem os que não gostavam.
Recordo também o "algoão iodado", tantas vezes o usei.
Raphael "banhos de luz" eram raios ultra-violeta.Utilisavam-se nas crianças prematuras, que foi o meu caso, até uma determinada idade para ,ao que parece, fortalecer "os ossos".Era divertido, porque as crianças eram despidas ,postas em cima de marquesas e punham-se uns óculos pequeninos, escuros, tipo óculos de piscina e ficavam durante um tempo debaixo daquela luz.AB
Quanto à operação às amígdalas, a história que vem para a semana é como a da AB tirada de um filme de terror.
O que os putos passavam!
De resto conheço mais gente que não tinha assim tanta repulsa ao óleo-de-fígado-de-bacalhau. Eu tenho!!!
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