terça-feira, outubro 09, 2007

Meninos sem família

Dantes chamavam-se orfanatos, «asilos da infância desvalida». Desde que lemos os livros de Dickens que temos imagens marcantes de crianças sem família a quem a sociedade não sebe bem o que fazer. Hoje as coisas são diferentes, e ‘a sociedade’ preocupa-se. Pelo menos de vez em quando. Todos sabemos, uns melhor do que outros, que há meninos por aí, à guarda de instituições. Se não se chamam já «asilos da infância desvalida» o que lá está não é muito diferente – dar uma resposta, a possível com os meios de que dispõem, a um número de casos que parece gigantesco.
Há mais de 12.000 crianças e jovens nesta situação! E, só 22% estavam em acolhimento familiar, ou seja, se a minha matemática não me engana, 78% vivem em instituições. É evidente que não se imagina que a solução seja uma adopção. Adoptar é um acto seriíssimo, com consequências psicológicas para todos os intervenientes. Mas, com o dinheiro que se gasta em manter uma criança numa instituição (que é muitíssimo mais do que quem não sabe pode imaginar!) não seria possível desenvolver uma política de implementar as colocações familiares? Numa altura onde a questão do emprego se põe de um modo tão grave, não acredito que não houvesse muitas famílias com boa estrutura psicológica dispostas a receber uma ou duas crianças se o Estado lhes pagasse… parte daquilo que gasta com a sua manutenção numa instituição. Era uma questão de gestão. E os técnicos que lá trabalham (educadores, psicólogos) poderiam, no tempo que nesse caso já teriam, dedicar-se a apoiar essas famílias e a controlar o que se iam passando com essas crianças. Não parece muito difícil.

9 comentários:

Farpas disse...

Não parece mesmo nada dificil... Tem "piada" teres falado deste tema hoje, ontem estive a conversar pelo msn com um amigo meu que é capitão do exército e está neste momento no kosovo, ele tinha no msn uma fotografia de um miúdo com um cartaz que dizia "Jam Jetim" e eu perguntei-lhe pelo cartaz, o que era aquilo, não é mais do que "Sou órfão", segundo me disse centenas de crianças andam com cartazes daqueles na rua na esperança que alguém as acolha nas suas casas... triste não é?

Anónimo disse...

Guardei este post para o fim dos meus comentários, que é o mais sério dos que escreveste hoje.
A questão é importantíssima.
Em tempos vi um episódio de uma série «A Juíza» onde uma criança era separada da mãe por esta não ter meios para a sustentar e iria para uma família de acolhimento. Claro que a pessoa que a ia acolher recebia uma quantia do estado para criar a criança. A dita juíza decidiu que a «família de acolhimento» iam ser os tios da criança, e ordenou que por ordem do tribunal a mãe «fosse obrigada» a viver em casa da irmã!!! naquele caso, com o que a família de acolhimento recebia, a mãe e a criança poderiam subsistir até ela arranjar trabalho.
Salomão não faria melhor.
e por cá acontecem muitas vezes coisas parecidas - retiram-se as crianças das famílias por estas não terem dinheiro ou trabalho, mas gasta-se mais nas casas de acolhimento com o que se gastaria com o apoio às famílias...

Anónimo disse...

Olha Farpas eu tenho umas cruzes para suportar .Uma amiga minha descobriu que a guerra do Kosovo era assim a modos que uma invenção...Mas passando a coisas mais sérias eu não sei calcular qual e quanto custa uma solução que não passe pelo depósito em instituições...não sei mesmo, mas os números são tão assustadores...AB

josé palmeiro disse...

Situação complicadíssima. Não sei que solução dar, nem sequer opinar sobre o assunto, tanta coisa se joga, nesse tabuleiro.Mas que não encontro soluções milagrosas, não encontro.

Anónimo disse...

É uma questão bem complicada e de uma grande delicadeza.
Eu sei muito pouco, mas tenho familiares que dizem o que tu aqui sugeres - o internamento numa instituição, ao contrário do que se pensa, sai muito caro.

Anónimo disse...

Venho aqui «molhar a sopa» que isto é tema dos meus interesses.
O que os comentadores anteriores não devem saber (pelo que tenho lido do que escreves, tu sabes Emiéle) é o preço que custa manter uma criança em Instituição se forem cumpridos os requisitos obrigatórios. Não é a parte material, a cama ou a comida, o os custos são dos salários de quem lá está. Notem que tem de haver monitores durante 24 horas, portanto pelo menos 3 por dia, ou seja 3 salários que mesmo que sejam baixos, contam! Depois tem de haver técnicos para acudir ao que se vai passando, educadores, psicólogos, auxiliares de enfermagem. Depois há cozinheiros, pessoal de limpeza e lavandaria. E administrativos para tratar dos papeis. Uma casa que recebe crianças tem de ter um staff que sai caríssimo, e isso dividido pelo número de crianças faz com que cada criança saia 'cara'. Se estiver numa família, mesmo que receba a visita de um psicólogo, ou educador de vez em quando, é apenas isso que conta. Ou seja, o resto do que se gasta pode ser recebido pelos pais de acolhimento.

josé palmeiro disse...

Gui, entendi perfeitamente tudo o que foi dito. A tua explicação é também bastante elucudativa, ao ponto de,no final dizer: "Se estiver numa família, mesmo que receba a visita de um psicólogo, ou educador de vez em quando, é apenas isso que conta. Ou seja, o resto do que se gasta pode ser recebido pelos pais de acolhimento." Ora aqui está o busilis da questão, "o resto que se gasta pode ser recebido pelos pais de acolhimento". Será? Ou não será?
À partida, deveria o Estado definir e, acima de tudo, depois cumprir com essa permissa, pois caso contrário, as dúvidas que escrevi primeiro, manter-se-ão.

Anónimo disse...

Um pergunta: depois os técnicos teriam tempo para se dispersarem tanto?

cereja disse...

O FJ levanta uma questão importante, que o comentário da Gui (correctíssimo!) não leva em conta. Realmente, para se «poupar» no salário desses técnicos de modo a poder enviar as crianças para as famílias de acolhimento, isso significava atirar gente para o desemprego. É complicado.
Porque no essencial, a Gui tem realmente razão, sai mesmo caro manter como deve ser um lar de crianças.
Posso contar uma história: há uns dois anos a directora do Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, negociou com um BOM COLÉGIO PRIVADO a recepção de algumas das crianças dos seus lares. Claro que foram escolhidas as que mostravam um bom rendimento escolar, e pelos estudos dela, ficaria ao mesmo preço, ou mais barato ter os meninos nos Salesianos ou S. João de Brito, internados, do que num dos seus lares...
Ficamos sem palavras, não é? Cá para mim há como base uma má gestão de recursos.