quarta-feira, outubro 17, 2007

Compras trazidas a casa

Há muitos, muitos tempo (parece a cantiga do José Cid «…era eu uma criança») quando se faziam compras nas mercearias havia umas personagens, os marçanos, que enfiavam as mercadorias nuns cestos muito grandes e acarretavam com aquela traquitana escada de serviço acima, até às portas das freguesas. Fazia parte da cortesia da loja.
Claro que isso passou. Hoje, quem vai às compras, depois terá de as trazer para casa.
Quando eu vivi em Macau, fui agradavelmente surpreendida, quando reparei que também existia esse serviço de transporte ao domicílio sem nenhum encargo. Avisaram-me como se fazia e era muito cómodo: levava escrito num cartão a minha morada e, depois de meter as compras no carrinho do Supermercado, ao chegar à caixa, pagava e apresentava a morada. A ‘operadora da caixa’ desencadeava o processo e a verdade é que se eu fosse directamente para casa, dentro em pouco batiam-me à porta com as minhas compras direitinhas. Fácil e de graça.
Cá em Lisboa, os supermercados desde há uns tempos também já têm essa modalidade. É certo que não é tão fácil como em Macau – o serviço é pago a não ser que ultrapasse uma certa quantia, que nalguns deles para os reformados é mais baixa. E têm horas de distribuição, o que é bom porque podemos estar prevenidos, mas se estamos com muita pressa pode ser uma dificuldade. De qualquer modo foi um grande passo em frente!
Eu aderi ao processo desde há bastante tempo. A verdade é que as compras do mês eram um momento trágico, subir com 20 sacos uma escada sem elevador dava para ficar de mau humor uma série de tempo… Achei o sistema, pagando ou não, uma melhoria.
Mas fico sempre impressionada, quando me batem à porta, e vejo um único indivíduo, muitas vezes magrito, rodeado dos tais 20 sacos que devem pesar muitas dezenas de quilos!!! A verdade é que a imagem que a gente tem do «moço de fretes» - da literatura do século passado – é de uns tipos robustos, que arrastam pianos escada a cima, e são só músculo. Mas estes rapazes que aceitam as distribuições dos hipers, muitas vezes andam bem longe dessa imagem. Já me têm pedido um copo de água, que eu corro a buscar ainda assim não me desfaleçam ali.
Exploração de mão-de-obra? Não quero ir tão longe, mas …


9 comentários:

Anónimo disse...

Ainda aqui volto mais tarde que agora não me dá, mas tá muito bem visto este post.
Sempre pensei que os rapazes que trazem as compras são «apanhados» numa empresa de trabalho temporário entre os desgraçados que não encontram mais nada.
Talvez esteja enganada...

josé palmeiro disse...

Engraçado, ires buscar estas lembranças. Foi o primeiro trabalho do meu pai quando, ainda com dez anos, faria onze dois meses depois, e acabada a instrução primária, foi para Lisboa trabalhar. Como são as coisas!
Quanto ao serviço, em si, nada tenho a apontar a não ser o facto de ser executado por gente, de tal forma marcada pela desgraça que, para sobreviver, lá vai fazendo um trabalho, mal pago, provávelmente sem qualquer protecção social e à espera que, quem já pagou, se compadeça e dê mais qualquer coisinha, em tom misericordioso.

Anónimo disse...

às vezes penso se haverá transmissão de pensamento, se como no anúncio «eu sou tu» e acabo a dizer olhando para a Emiéle: Mudasti!!!
É que este tema tem andado na minha cabeça.
Também mando vir as compras a casa, e se por vezes aparecem uns rapazes jeitosos, desempenados, com 'bom ar', ( e nesse caso muitas vezes até vêm 2 de cada vez) muitas outras vezes aparecem-me realmente uns homens, alagados em suor, com um ar cansadissimo, e muito apressados parecendo que recebem à peça...
Como sou muito avessa a gorjetas, faz-me impressão e parece-me pouco digno quer para quem recebe como para quem dá, de início agradecia com muitos sorrisos, dava o tal copo de água a que te referes e que pediam muitas vezes, mas ficava por aí. Um dia, por sugestão da minha mulher a dias, dei-lhes um euro. Percebi então que estavam realmente à espera disso... os olhos brilharam-lhe e desfizeram-se em gentileza.
Quanto é que pagarão a estes sujeitos?...

Anónimo disse...

há uma série de serviços que deviam existir ao domicilio.
e o nosso país está muito atrasado neste aspecto.
não falo só por uma questão de comodidade.
há quem esteja doente, há quem preste cuidados a estes doentes, há pessoas com dificuldades de locomoção, há idosos...
nos dias que correm os familiares e amigos nem sempre conseguem dar resposta a estas necessidades.
por outro lado, qualquer pessoa se sente mais autónoma, se puder, pagando a quem o faça, em vez de estar a sobrecarregar um familiar ou amigo.

cereja disse...

Não tinha visto essa perspectiva, M&M. Foi um escrito egoisticamente pessoal...
Ainda por cima, é mesmo certo que muitos dos hipers, até levam as coisas a casa das pessoas se mostrarem o cartão de aposentados e... fizerem despesa até um certo plafond.
Claro que quem nem sequer pode sair de casa, tem as coisas mais difíceis. Porque nem estou bem a ver que tenham conhecimentos para encomendarem por net. Talvez com a ajuda de algum neto...

Anónimo disse...

Penso que isso depende dos Hipers em questão. Para algumas ruas, só mandam um tipo que conduz e leva as compras o que dá uma confusão do caraças! Enquanto ele sobe tem de deixar o carro sem ninguém o que é péssimo. Mas outros vão aos pares e a coisa funciona bem melhor.
De resto, como se sabe isto hoje em dia é tudo com contracto a prazo, somos um país da prazo!
Depois queixem-se de que os trabalhadores estão desmotivados. Pudera. sabem que no fim do mês se vão embora...

Anónimo disse...

Sei que a minha mãe de vez em quando usa esse serviço. Também vive em prédio sem elevador e a coisa não é fácil. E como a rua é estreita (só tem um sentido e tudo) tenho ouvido comentários dos que aqui fizeram, a dificuldade de um homem só dar conta do recado.
Pelo que me disseram lá em Macau, os tipos iam nuns riquexós tipo bicicleta, de modo que era mais fácil. (era assim, Emiéle?)

Anónimo disse...

Bom,de vez em quando mando trazer a casa.Se é no Corte Inglés vêm aos pares,tudo muito arrumado em caixas de forma a ser mais fácil o transporte,os "entregadores" teem bom aspecto trazem uma espécie de Farda etc,etc.No entanto dant o Pingo Doce aqui da area tinha uma pequena motoreta com um atrelado fechado e um homem mais embebido em alcool que uma torcida de candeeiro.Depois deixou de ter o homem e o serviço.Mas imaginar que haveria uns entregadores tipo "John Chauffeur Russo"ou estivadores de luxo podia fazer toda a diferença de facto(menina Èmiele..ai,ai..)AB

Anónimo disse...

Afinal só cá voltei hoje :)
Ehehehehe!!! O comentário da AB tá óptimo! Uns «cavalheiros» a fazer de moços de fretes?!...
Mas voltando ao que se disse, não sei se a Emiéle se abastece no mesmo que eu. Se for entendo o que diz. A mesma empresa tanto tem os tais cavalheiros, fardados e tudo - ou pelo menos com nome na lapela - como depois tem outros tipos que quase parecem uns sem-abrigo... qualquer coisa não tá bem!!!