O Destak e a Elle
O que terá em comum um jornal gratuito, distribuído nos transportes públicos, e uma revista de moda, conhecida em todo o mundo, com dezenas de anos de existência?
Quando em Portugal apareceram o Destak e o Metro, foram recebidos com surpresa e alguma desconfiança. Um jornal de graça, que é isto? (E ainda por cima os primeiros números, como é normal, tinham muito poucos anúncios…) Muita gente ficou desconfiada à espera do ‘truque’, que aliás foi de imediato ‘desmascarado’: aquilo não era um jornal, seriam umas folhas de anúncios com umas notícias diárias a servir de isco. Bom. Contudo, passado um certo tempo, podemos fazer um balanço: a) negativo – o mau aspecto que dá o chão juncado desses jornais depois de lidos, dada a deseducação da nossa gente b) positivo – a grande quantidade de pessoas que vemos hoje nos transportes com um jornal aberto, hábito de leitura que parecia ter desaparecido.
Bom, mas o certo é que esses jornais, bastante atacados pelos jornais «a sério», são pagos pela sua publicidade podendo assim chegar gratuitos a quem os lê.
Há uns 15 dias comprei o número de Outubro, em tamanho pequeno, da Elle. Todos conhecemos a revista. Papel muito bom, todas as páginas a cores, paguei 1,80 € e parecia barato se comparado com um livro por exemplo - nunca compraria um livro de 240 páginas com tantas fotografias por este preço!
Eu disse que eram 240 páginas, não foi? Bem, é aceitável, que uma percentagem dessas páginas fosse publicidade, afinal é também o que se passa num jornal. Mas depois de «lida» a revista verifiquei que a questão estava posta ao contrário, uma parte – aí uns 5% - dessas páginas é que eram notícias porque a revista é quase na totalidade publicidade, às claras ou encapotada. E publicidade que, ao contrário dos jornais pobrezinhos, nós pagamos.
Metade da revista é o que chamei publicidade às claras, anúncios de uma ou duas páginas a produtos, perfumes, jóias, roupas. OK. E depois, 45% do resto são aparentes ‘notícias’ com referências elogiosas a criadores de moda, ou ao uso de produtos, ou comidas e bebidas, ou… Estão a ver? A entrevista à Catarina Furtado, por exemplo, a capa. São 6 páginas, uma de texto e 5 de fotografias suas, vestida pelo costureiro X, penteada pelo cabeleireiro Y, usando a jóia criada por Z.
Não é publicidade…?
Mas esta foi paga por nós.
Quando em Portugal apareceram o Destak e o Metro, foram recebidos com surpresa e alguma desconfiança. Um jornal de graça, que é isto? (E ainda por cima os primeiros números, como é normal, tinham muito poucos anúncios…) Muita gente ficou desconfiada à espera do ‘truque’, que aliás foi de imediato ‘desmascarado’: aquilo não era um jornal, seriam umas folhas de anúncios com umas notícias diárias a servir de isco. Bom. Contudo, passado um certo tempo, podemos fazer um balanço: a) negativo – o mau aspecto que dá o chão juncado desses jornais depois de lidos, dada a deseducação da nossa gente b) positivo – a grande quantidade de pessoas que vemos hoje nos transportes com um jornal aberto, hábito de leitura que parecia ter desaparecido.
Bom, mas o certo é que esses jornais, bastante atacados pelos jornais «a sério», são pagos pela sua publicidade podendo assim chegar gratuitos a quem os lê.
Há uns 15 dias comprei o número de Outubro, em tamanho pequeno, da Elle. Todos conhecemos a revista. Papel muito bom, todas as páginas a cores, paguei 1,80 € e parecia barato se comparado com um livro por exemplo - nunca compraria um livro de 240 páginas com tantas fotografias por este preço!
Eu disse que eram 240 páginas, não foi? Bem, é aceitável, que uma percentagem dessas páginas fosse publicidade, afinal é também o que se passa num jornal. Mas depois de «lida» a revista verifiquei que a questão estava posta ao contrário, uma parte – aí uns 5% - dessas páginas é que eram notícias porque a revista é quase na totalidade publicidade, às claras ou encapotada. E publicidade que, ao contrário dos jornais pobrezinhos, nós pagamos.
Metade da revista é o que chamei publicidade às claras, anúncios de uma ou duas páginas a produtos, perfumes, jóias, roupas. OK. E depois, 45% do resto são aparentes ‘notícias’ com referências elogiosas a criadores de moda, ou ao uso de produtos, ou comidas e bebidas, ou… Estão a ver? A entrevista à Catarina Furtado, por exemplo, a capa. São 6 páginas, uma de texto e 5 de fotografias suas, vestida pelo costureiro X, penteada pelo cabeleireiro Y, usando a jóia criada por Z.
Não é publicidade…?
Mas esta foi paga por nós.
9 comentários:
Sabes que não tinha pensado nisso?
Burra, eu!
Tem piada que há alguns anos fiz uma crónica no mesmo sentido para a TSF.Só que a revista era a Màxima e ainda não havia cá estes jornais gratuitos.Que de resto eu "descobri"nos EU,concretamente em Washington em que há dois diários pelo menos gratuitos.Mas são "mesmo"jornais,embora um deles seja claramente propaganda governamental.AB
Muito bem analisado. As imagens são tão cativantes nesse tipo de revistas que dá até para esquecer que não se trata duma revista artística de fotografia mas de pura publicidade...Quanto a esse tipo de jornais gratuitos acho que é algo entretanto comum na Europa/países ocidentais. Na NL tb existe Metro e Stip nos comboios e metros. Tb há, como disse a AB sobre os EUA, vários jornais diários locais, regionais,(semi)nacionais que distribuem ao domicílio, uma vez por semana, suplementos ou jornais gratuitos com notícias da zona, anunciando eventos culturais e desportivos, assuntos ou reuniões municipais. Contém tb algumas páginas com promoçòes, saldos a nível de Município. Assim põem realmente mais gente a ler, incluíndo jovens com aversão a leituras em papel e a população mais necessitada, que não costuma comprar livros nem jornais...
coincidências...
este mês também me deu para comprar a elle, vá-se lá saber porquê. há anos que não o fazia.
tenho que dizer que me arrependi de imediato. a revista está reduzida a nada, nada. aqui há uns anos ainda trazia uma grande reportagem interessante, uma entrevista com um escritor, uns artigos de opinião. este mês está reduzida a futilidades. publicidade a produtos e elogios desnecessários a pessoas.
que dinheiro mal gasto. fica-me de lição.
Isso que dizes dos Jornais gratuitos é muito certo. Tirando o incivismo da nossa gente que atira com aquilo para o chão em vez de os colocar num cesto de papeis, não vejo nenhuma desvantagem. Quem comprava o Público não se vai contentar com O Metro, e quem não lia nadinha sempre se acostuma a ler alguma coisa... Qual o mal?!
Quanto às revistas, é sabido, apesar de como aqui mostras nos deitarem areia para os olhos e «embrulharem» a publicidade em papel celofane e pespegarem um belo laçarote. É publicidade e pronto!
Está tudo dito!
É a eterna "Comédia de Enganos".
bem observado!
Quanto ao hábito da leitura, torço para que cresça ainda mais à semelhança dos nossos vizinhos espanhois. Fui a Madrid e confesso que me senti um pouco "deslocada"... eles lêem em todo o lado, nos transportes, no cafe...
neste aspecto, tem a minha admiração.
eu costumo comprar a máxima. e já uam vez lhes escrevi a queixar-me de tanta publicidade, fiz as percentagens e tudo.
Agora parecias o meu marido quando me critica por eu comprar publicidade tão cara!
Mas a máxima costuma ter sempre bons artigos e boas crónicas, é só preciso "achá-las lá pelo meio.
É isso mesmo Lia, estes jornais gratuitos podem ter inconvenientes mas o certo é que levam pessoas que não costumavam ler jornais a lê-los. É o que se passa em Lisboa, é eu confirmo-o com o que vejo nos transportes públicos.
AB, não calculava que tinhas tido esse raciocínio já há anos.
Aliás, quando dei este título ao post, foram dois nomes 'simbólicos'- por «destak» queria eu dizer os jornais gratuitos de Lisboa, e por «elle» queria referir-me a este tipo de revistas, podia chamar-lhe Máxima, Marie-Claire, o que se quisesse.
M&M - também me parece que esta Elle em concreto, exagerou na informação inútil, mas o certo é que a proporção pode não ser a que nós achámos, mas se for 20% de texto útil, já é muito.
Olha que o Saltapocinhos tem razão, minha amiga, pagamos cara a publicidade!!!
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