O leopardo
Este fim-de-semana saí de Lisboa como de costume, mas na pressa da saída esqueci-me de enfiar no saco o livro que estava a ler. Bem, há males que vêm por bem e, como não sei estar sem ler, deitei mão ao que tinha por ali e dei por mim a reler «Uma Campanha Alegre».
Passaram mais de cem anos desde que aquelas palavras foram escritas, mas que espanto verificar como ainda estão actuais! Encontrei um texto, datado de 1871, que não posso transcrever para aqui porque ainda são umas quatro páginas, mas começa assim:
A Câmara Municipal de Lisboa, segundo se afirma, compenetrada da necessidade iniludível de melhorar as condições da cidade, trata com toda a solicitude de fazer a aquisição de um leopardo. Diz-se ainda que depois procurará alcançar, para completar a obra de regeneração municipal, araras do Brasil»
Proponho que leiam todo o texto que tem uma graça enorme, mas o certo é que para mim, se trocarem a palavra leopardo por túnel, até parece que aquilo foi escrito agora.
Lisboa tem muito trânsito. Todos estão de acordo que é até demais. Perante isso, não se pensou em dissuadir os automobilistas de andarem de carro fornecendo melhores alternativas e criando parques de estacionamento na periferia; não senhor, a ideia brilhante foi a de os trazer de um modo mais expedito directamente para o coração da cidade.
Vi por aí que um inquérito ou sondagem ou lá o que é, concluiu que os lisboetas estão todos contentes com o seu novo túnel. A alma humana é de facto misteriosa e não presumo de a entender. A mim não me perguntaram nada, mas a minha resposta seria exactamente ao contrário. Com os milhões que se gastaram naquela «coisa» teria sido bem melhor para a qualidade de vida em Lisboa que se tivessem criado parques de estacionamento na periferia ( e devia dar para alguns, já que se gastaram muitos milhões!) e melhorado os transportes públicos.
OK, preferiu-se o leopardo. Eça, traça um quadro interessante das necessidades de Lisboa naquela época e conclui:
«E perante esta situação, o município, penetrado da sua responsabilidade e resolvido a dotar a cidade de condições habitáveis – o que lhe dá?
Um leopardo»
Passaram mais de cem anos desde que aquelas palavras foram escritas, mas que espanto verificar como ainda estão actuais! Encontrei um texto, datado de 1871, que não posso transcrever para aqui porque ainda são umas quatro páginas, mas começa assim:
A Câmara Municipal de Lisboa, segundo se afirma, compenetrada da necessidade iniludível de melhorar as condições da cidade, trata com toda a solicitude de fazer a aquisição de um leopardo. Diz-se ainda que depois procurará alcançar, para completar a obra de regeneração municipal, araras do Brasil»
Proponho que leiam todo o texto que tem uma graça enorme, mas o certo é que para mim, se trocarem a palavra leopardo por túnel, até parece que aquilo foi escrito agora.
Lisboa tem muito trânsito. Todos estão de acordo que é até demais. Perante isso, não se pensou em dissuadir os automobilistas de andarem de carro fornecendo melhores alternativas e criando parques de estacionamento na periferia; não senhor, a ideia brilhante foi a de os trazer de um modo mais expedito directamente para o coração da cidade.
Vi por aí que um inquérito ou sondagem ou lá o que é, concluiu que os lisboetas estão todos contentes com o seu novo túnel. A alma humana é de facto misteriosa e não presumo de a entender. A mim não me perguntaram nada, mas a minha resposta seria exactamente ao contrário. Com os milhões que se gastaram naquela «coisa» teria sido bem melhor para a qualidade de vida em Lisboa que se tivessem criado parques de estacionamento na periferia ( e devia dar para alguns, já que se gastaram muitos milhões!) e melhorado os transportes públicos.
OK, preferiu-se o leopardo. Eça, traça um quadro interessante das necessidades de Lisboa naquela época e conclui:
«E perante esta situação, o município, penetrado da sua responsabilidade e resolvido a dotar a cidade de condições habitáveis – o que lhe dá?
Um leopardo»
6 comentários:
Perante o que contas, só posso dizer: Que bom teres-te reencontrado com a Campanha Alegre!
Oh! É pena não dar para deixar aqui todo o artigo, que a amostra é formidável! Não tinha título? Quero ver se o encontro.
É claro que essa história do túnel começou a ser disparate (a tal série de disparates «à la Santana») e continua sendo disparate. Como aqui dizes, qual o benefício em atirar com mais carros directamente para o Marquês ou A. Augusto de Aguiar? O que se ganha?...Desengarrafamos de um sítio para ir engarrafar noutro. E os níveis de poluição a crescer.
lol!
O leopardo é o máximo! E as araras?!.....
Realmente mudam os tempos mas as asneiras mantêm-se!
Olha Joaninha, agora não tenho aqui esse volume, mas acho que não tinha título. Vou ainda ver se encontro, porque penso que tenho também em Lisboa as obras completas do Eça.
O texto é engraçadíssimo!!!!!
Já de há uns anitos para cá que é o meu livro de cabeceira...AB
É, AB, os anos (ou séculos) passam e parece que desta vez nem as moscas mudam muito...
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