sábado, julho 14, 2007

Afinal as reclamações valem a pena

Tudo muda e ainda bem!
Há pouco tempo, era costume ouvir pessoas muito queixosas sobre diversos aspectos da sua vida onde se tinham sentido maltratadas, ao ser-lhes sugerido que protestassem, sobretudo protestassem por escrito, atalharem logo «Não vale a pena!» A queixa aos amigos ou conhecidos era uma queixa levezinha, aliviava, mas ‘a outra’ dava trabalho, era difícil, complicado e era melhor ‘não-se-meterem-nisso.
Contudo os tempos estão a mudar. O Gabinete do Utente da ARSN, tem recebido tantas queixas de frieza no atendimento dos médicos, que decidiu enviar uma circular que está a provocar polémica. Parece que a circular lembra aos ilustres clínicos que…
os doentes são pessoas .
Ena!
Aconselha os senhores doutores a cumprimentar os doentes, a sorrir (imagine-se!), a tratar os doentes pelo título quando o têm ou então por senhor ou senhora, e evitarem termos “pretensamente carinhosos como avozinho, querida ou minha filha". Afinal, «não trates os outros como não gostarias de ser tratado»
Que revolução!!!
Pelo que diz a notícia muitos dos distinguidos com estes conselhos assanharam-se. Mas que ofensa! Como se tal nunca acontecesse…
Parece que o ‘motivo próximo’ foi a pobre da informática. Com um monitor à frente, como biombo, parece que os médicos (alguns) deixaram até de olhar para o doente, ficando hipnotizados pelo monitor. Isso dizem os doentes, é claro, opinião diversa devem ter os médicos.
Não posso falar disto por experiência própria. Mas temos de reconhecer que não é de agora, da Era Informática, que a relação médico-doente tem que se lhe diga. Quem não conhece médicos que perante um doente, de qualquer idade, o trata de imediato por tu? Se nos responderem que a nossa sociedade é demasiado formal – e é certo – então seria natural que aceitassem o retorno, e o doente lhes respondesse também na segunda pessoa. Quem o faz?
E o tom arrogante, autoritário, superior, com que se fala ao doente não lhe explicando de um modo acessível o que se passa com ele, - muitas vezes deixando-nos a dúvida se não erraram a profissão e não deveriam ter tirado veterinária - quantos casos não conhecemos?
Eu sei, eu sei, não devo generalizar. Possivelmente nem é a regra, são umas tantas excepções. Mas elas existem, como sabemos, e desta vez o facto de começar a existirem reclamações pode servir para se virar uma página importante dessa relação tão delicada que é a do doente-médico.
Oxalá!


12 comentários:

Anónimo disse...

Clap, clap, clap!!!
Giro post.
Olha, tenho um amigo que usou essa lei da reciprocidade. wuando um dos doutos e soberbos médicos o tratou por tu, ele respondeu-lhe na mesma «Mas o que é que tu achas? Por mim, sinto isto e aquilo, mas se tu preferes tal e tal» e o outro ficou de boca aberta acabando por perguntar, já noutro tom «Mas, conhece-me?..» ao que o meu amigo, serenamente respondeu «Não me estava a lembrar, mas fiquei com a ideia de que tu me conhecias bem»
Foi formidável!!! :)

josé palmeiro disse...

Antes de passar às considerações, o meu aplauso ao comentário da Joaninha, soberbo!
Agora nós, concordo com o que dizes, com um pequeno senão, e não é contigo, é com o prospecto da ARSN, aos seus médicos: "o tratamento pelo título, se o houver". QUer parecer-me, que senhor ou senhora, era o mais indicado, seguido pelo nome do paciente, como é óbvio.
Deixa que te diga, de passagem, que tudo isso tem um pouco de biunívoco, é o toma lá dá cá, como tão bem foi ilustrado pela Joaninha, muitos abusam, mas cabe-nos a nºos, que pagamos, e muito, pô-los na ordem, sem medo, sem ofender, mas com firmeza.

cereja disse...

Ah! Comecei por cima e tinha-me lamentado que isto hoje estava muito parado... Eu tenho muito mimo de vocês e estou mal habituada, é claro! Afinal o Zé Palmeiro já por cá andava! BOA!

Esta questão de cortesia, pareceria ser tão óbvia que não devia merecer reparos, mas é evidente que o não é! O tal prospecto da ARSN peca de facto um pouco por excesso, mas eu entendo onde querem chegar - chamar a atenção para que não são eles os únicos que têm um título e personalizar um pouco a tratamento. Quando falam com a enfermeira também costumam dizer «a senhora enfermeira» não é? Nada disto devia ser motivo de reparo porque se inseria no respeito pelo outro que cada ser humano merece.

Mónica (em Campanhã) disse...

como médica e como pessoa aplaudo o post e o documento da ARSN. é triste que haja médicos que se sintam ofendidos e sugiram que a o documento da ARSN não é pertinente; significa isso que não reconhecem a realidade, que não estão atentos aos seus pacientes, às histórias que estes contam dos seus trajectos pelo SNS e, quiça, a si próprios.

cereja disse...

Olá M em Campanhã!
Fico contente com a aprovação. Como em todas as profissões, os bons profissionais só têm a lucrar quando se mostra que há colegas que cometem erros. Falo por mim, quando me contam atitudes erradas de colegas de profissão, posso não os «enterrar mais» por alguma lealdade, mas nunca os defendo cegamente. E sou bem capaz de dizer «olhe, no caso dele, eu não teria feito assim!» quando é verdade.
Como eu aqui disse, não quero generalizar, e sei bem que isso seria injusto. Mas, a quem não servir a carapuça desta circular da ARSN, só tem de não a enfiar, tão simples como isso.

Anónimo disse...

Então é «este» o post de que fazes referência mais acima?
É tão verdade que nem sei como há quem o negue ou se ofenda! tenho vários amigos médicos. Vários! E familiares também. Não tenho rigorosamente nada contra a classe, mas temos de ser honestos e reconhecer que é a pura da verdade que muitas vezes oscilam entre aquele paternalismo de que ali se fala («avozinha», «tiazinha») ou a rudeza e secura da questão atirada como quem tem muita pressa e coisas bem mais interessantes para fazer do que estar ali. E podem imaginar como se sente um doente, muitas vezes à espera e nervoso, quando ouve na sala ao lado um grupo de médicos na galhofa por um motivo qualquer?... se calhar imagina-se que não se ouve, mas olhem que se ouve muito bem!!! Que tenham de descontrair, é perfeitamente aceitável, mas tenham o respeito de o fazer num local onde os doentes não os oiçam!

Anónimo disse...

Vocês já disseram tudo, mas apetece-me vir aqui concordar!
:)

Anónimo disse...

Pois eu já tive um número muito parecido com o do amigo da Joaninha...E o "doutor" ficou muito entupido...Mas mais tarde falando do assunto com um amigo meu também médico,este diz-me com ar convicto:" Mas tu tens um problema com a autoridade"Não acham o máximo?AB

cereja disse...

Não quero repetir o que disseram, mas sei de histórias iguaizinhas às da AB e Joaninha, tal e qual. A conclusão que o amigo médico da AB tirou é realmente espantosa!!!
Imagino-te, eheheheh!!!!

Anónimo disse...

Já dei uma olhadela ao blog - pelo menos os posts de hoje, que isto é muito grande. Vim cá ter pelo link que refere lá em cima no post "Espantada e Lisonjeada' - fui um dos presenteados com o email do Rosalvo.
O que posso dizer? Apoiar a sua frase dita em comentários «os bons profissionais só têm a lucrar quando se mostra que há colegas que cometem erros», porque é assim mesmo.
É idiota negar algo de que temos conhecimento, mesmo que digamos que nós não praticamos esse sistema.
Interessante o blog e muito variado.

Anónimo disse...

Idem.
:)

Anónimo disse...

Parece impossível mas fiquei a pensar no assunto deste post e na desumanização das relações em áreas onde elas deviam estar em primeiro plano.
E já agora, também me apetece contar que já por duas vezes, recebi o atendimento mais espantosamente despersonalizado por parte de uma Assistente Social, que é possível imaginar!!!
Tinha pedido uma entrevista para estudar a hipótese de auxílio a um meu familiar. Foi marcada com antecedência mas no dia nem esperei lá muito. A senhora, também sentada em frente de um teclado, bombardeou-me com perguntas das mais minuciosas enquanto ia preenchendo folhas e folhas de um questionário. Precisou de saber tudo, tudo, tudo. Da vida passada, da presente, as habilitações, os bens, as doenças, as relações com vizinhos, a sua personalidade, todas as despesas possíveis e imagináveis, a rotina diária, nem imaginam! Foi uma entrevista de mais de uma hora sempre muito técnica. No fim informou-me que não ia fazer NADA, que devia ser a família a «organizar-se» para encontra uma solução.
Foi tal e qual assim. Da outra vez, com outra sujeita igual, e a meio da conversa atalhei a querer saber se podia vir a ter alguma resposta e como ia ser tudo igual deixei a conversa a meio.