Quem vê caras...

É muito interessante que mesmo quando acreditamos que não temos preconceitos… acabamos a tropeçar neles!
Já vos contei que nestes meus dias de férias (que ando a pensar prolongar de modo a incluir segunda, porque afinal ‘isto’ não me tem corrido como tinha desejado) tenho mantido a porta do Pópulo aberta porque quando venho às compras entro num estaminé(zinho) que tem net, e dou largas ao vício.
OK, tudo normal e para mim até foi uma surpresa quando descobri este local, uma vez que se trata de uma aldeia com poucas lojas apesar de já ter um terminal de multibanco, coisa notável e sintoma de civilização.
E tem acontecido, que até ontem, sempre que precisei de utilizar a ligação à net, era só pedir. De vez em quando o outro terminal estava a ser usado por um jovem numa pesquisa qualquer, mas eu tinha sempre um livre.
Mas ontem não!
Estavam os dois ocupados, e por pessoas «acima da meia idade». Fiquei parva! Troquei um olhar com o gerente daquela coisa, e por gestos ainda inquiri se me sabia dizer se demorariam muito. Ele encolheu os ombros, mostrando as mãos, no gesto universal do «sabe-se lá!».
Fui fazer tempo, fazer compras, beber café, ler o jornal, dar uma volta, regressei uma hora depois – lá estavam os dois! Olhei sem disfarçar – cabelos brancos, entroncados, pele tisnada, podiam ser camponeses – tudo me parecia estranho para uns utilizadores da net naquela zona.
Fui dar mais uma volta e, quando regressei de novo, um deles estava de pé a fazer contas. Fez-se luz: o tipo estava a falar em inglês!
Afinal quem vê caras pode ver corações, se situar as pessoas no seu habitat. Era a zona saloia mas, apesar do aspecto, não era nenhum residente da aldeia que estava ali naquelas pesquisas. Ah, bom! O rio voltou ao seu curso, a correr da nascente para a foz!