O primeiro poder
Começou por se lhe chamar o quarto poder, mas sejamos honestos e devemos reconhecer que cada vez ele se tem «chegado mais à frente» e não será errado chamar-lhe hoje o primeiro poder. Falo dos media, a ‘informação’ ou a sua manipulação, e a força de que dispõem na opinião pública, sobretudo a nível de televisão.
Eu, um tanto saloiamente, considerava que este fenómeno era sobretudo português. Estúpida! Bastava lembrar-me da guerra do Iraque em directo, ou do ataque às Torres Gémeas, para perceber o poder formidável que tem a TV.
Desta vez o choque veio de um país de onde não o esperava: a Holanda.
Também lá fazem essas aberrações dos reality shows. OK, são os meus valores que andam antiquados, e o facto de me dar volta ao estômago esse tipo de espectáculo só prova que ando por aí num universo paralelo…
Falou-se de que iam mostrar uma coisa que pareceu abominável e, de um ponto de vista ético, muito chocante: alguém, doente terminal mas com órgãos em bom estado, «escolheria» a quem daria os seus rins (creio que eram rins) assim que falecesse. Para se «candidatar» a essa oferta havia uns «concorrentes» a necessitar desse transplante e um seria escolhido.
A seu tempo foi explicado que aquilo não era real ou pelo menos uma parte não o era: a doente terminal era uma actriz, contudo os candidatos à doação eram realmente pessoas a necessitar desses órgãos.
O problema pode ser gravíssimo, e acredito que o seja. Diz-se que em Portugal, por exemplo, até existem dadores, mas não há capacidade para se recolherem os órgãos ! E, numa altura em que a medicina conseguiu esse feito notável de poder transplantar órgãos e dar vida a quem há uns anos só poderia esperar por morrer, é triste que esse meio de salvação ainda não funcione a pleno, ou por falta de dadores ou por falta de meios.
Mas o que impressiona é que se recorresse a um reality show para agitar a consciência das pessoas.
Sabemos que em Portugal, desde há bastante tempo, quando há um motivo de queixa ou escândalo, em vez de se ameaçar «olha que vou fazer queixa à polícia» o mais comum, e com bons resultados, é «olha que eu vou à SIC (ou TVI)». Ou seja a autoridade foi deslocada e de que maneira. O próprio Poder sabe isso – quando se marca declarações importantes para a hora dos telejornais, é naturalmente reconhecer que eles (telejornais) são mais importantes do que os senhores que vão falar.
Não sei se isto é «normal». Mas, o caso passado agora na Holanda veio abalar bastante aquilo que eu pensava. Não sei se não será um caso do «se não os podes vencer junta-te a eles», e começar a fazer reality shows sobre problemas graves de que até aqui só os chatos do costume insistiam em chamar a primeiro plano.
Talvez resulte.
Eu, um tanto saloiamente, considerava que este fenómeno era sobretudo português. Estúpida! Bastava lembrar-me da guerra do Iraque em directo, ou do ataque às Torres Gémeas, para perceber o poder formidável que tem a TV.
Desta vez o choque veio de um país de onde não o esperava: a Holanda.
Também lá fazem essas aberrações dos reality shows. OK, são os meus valores que andam antiquados, e o facto de me dar volta ao estômago esse tipo de espectáculo só prova que ando por aí num universo paralelo…
Falou-se de que iam mostrar uma coisa que pareceu abominável e, de um ponto de vista ético, muito chocante: alguém, doente terminal mas com órgãos em bom estado, «escolheria» a quem daria os seus rins (creio que eram rins) assim que falecesse. Para se «candidatar» a essa oferta havia uns «concorrentes» a necessitar desse transplante e um seria escolhido.
A seu tempo foi explicado que aquilo não era real ou pelo menos uma parte não o era: a doente terminal era uma actriz, contudo os candidatos à doação eram realmente pessoas a necessitar desses órgãos.
O problema pode ser gravíssimo, e acredito que o seja. Diz-se que em Portugal, por exemplo, até existem dadores, mas não há capacidade para se recolherem os órgãos ! E, numa altura em que a medicina conseguiu esse feito notável de poder transplantar órgãos e dar vida a quem há uns anos só poderia esperar por morrer, é triste que esse meio de salvação ainda não funcione a pleno, ou por falta de dadores ou por falta de meios.
Mas o que impressiona é que se recorresse a um reality show para agitar a consciência das pessoas.
Sabemos que em Portugal, desde há bastante tempo, quando há um motivo de queixa ou escândalo, em vez de se ameaçar «olha que vou fazer queixa à polícia» o mais comum, e com bons resultados, é «olha que eu vou à SIC (ou TVI)». Ou seja a autoridade foi deslocada e de que maneira. O próprio Poder sabe isso – quando se marca declarações importantes para a hora dos telejornais, é naturalmente reconhecer que eles (telejornais) são mais importantes do que os senhores que vão falar.
Não sei se isto é «normal». Mas, o caso passado agora na Holanda veio abalar bastante aquilo que eu pensava. Não sei se não será um caso do «se não os podes vencer junta-te a eles», e começar a fazer reality shows sobre problemas graves de que até aqui só os chatos do costume insistiam em chamar a primeiro plano.
Talvez resulte.
7 comentários:
Antes de mais, um Bom Domingo! Depois, enaltecer o belíssimo escrito que nos deixaste, pela oportunidade, pela reflexão e porque não, pelos "TOMATES", ou o Pópulo não fosse um blog, com eles, sobre este candente problema, que nos aflige e interroga. Somos, como também dizes de uma outra geração, mas esta corrida vertiginosa ao PODER, não encontra paralelo, em coisa alguma. Ri-me, com riso amrelo, quando referiste que: "Olhe que eu vou buscar as televisões, de preferência as privadas, mais aptas e com menos burocracia, para o assunto, até porque eu próprio já passei por uma história semelhante, ou melhor, tive que resolver, uma intervencão de uma cadeia televisiva. É a voracidade do tempo, num tempo em que os valores, foram todos substituídos, não sei bem porquê, mas não por VALORES!
O poder desse antigo 4º poder, tem crescido desmesuradamente. Tinha também a ideia de que na nossa terra, dado a iliteracia reinante, o poder da tv era exagerado, mas tens razão em lembrar que os grandes canais CNN e semelhantes, dominam realmente o mundo. É mesmo verdade que «vendem» aquilo que querem muito bem embrulhado, e o mundo compra!
Quanto à Holanda acho que aquilo é uma caldeirada, mas olha que os reality shows por algum motivo têm um nome anglo-saxónico, decerto é porque foram eles os pais da criança! Vê lá em Inglaterra a força que têm!
De resto, talvez tenhas razão: fazer reality shows nos Centros de Saúde como a história que contaste antes, com pais que não conseguem creches para os filhos, jovens com formação mas sem emprego, etc…
:))))
Ese é que foi um «empate técnico»!!!! Eu e o Zé Palmeiro comentamos no mesmo exacto minuto!
é o máximo de pontaria...
:)
Ainda me estou a rir a lembra de um tipo que dantes vinha cá a dizer que eu e a Emiéle éramos a mesma pessoa, agora vai dizer que eu e o Zé somos também o mesmo!!! Ainda por cima estamos sempre ou quase sempre de acordo! lol!!
Ora cá venho eu pela hora do almoço, à minha ronda...
Cá por mim, Emiéle, é mesmo o que dizes: «se não os podes vencer junta-te a eles»
Nesta altura do campeonato, a força dos media é incontestada. Só que é uma arma e como tal pode ser também usada para o lado bom.
Custa a crer que existiu um mundo sem televisão.
Mas ele existiu! era mais pequenino. Tinha o tamanho da rua do bairro.
A televisão abriu uma janela e deixámos a rua e o bairro. E o mundo ficou do tamanhito do nosso sofá. Adormecemos a olhar para a janela, cansados de publicidade e ficção. Desprezada, a televisão passa ao ataque para conseguir acordar-nos.
Mas se nos habitua a não distinguir ficção e realidade com os reality shows, qual será realmente o seu poder?!
Já é difícil hoje imaginar um mundo sem a TV! O programa que a RTP anda a dar «Conta-me como foi...» começa com a compra de uma televisão por uma família. qwuando era a preto e branco. Quando só tinha um canal.
Hoje parece que foi numa outra vida. E tens toda a razão Nise, o mundo era mais pequenino e parecia mais humano. Hoje para «nos acordarem» desse sono em frente da TV inventam tudo o que lhes passa pela cabeça, mas como dizes muito bem, se a realidade e ficção se misturam qual a vantagem, afinal...?
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