As palavras não são inocentes
De vez em quando «há modas» na forma de se dizerem certas coisas.
Ontem num noticiário, ouvi alguém ‘esclarecer’ em relação a qualquer alteração nas taxas moderadoras, que «os utilizadores» etc e tal.
Os utilizadores.
Os utilizadores???
É isso. Agora deixou de haver doentes, passamos a ser «utilizadores dos serviços de saúde», compreendem?
As conversas passam a ser do tipo:
- Bom dia, D. Lurdes? Está melhorzinha?
- Ah, nem me fale! Tenho andado muito utilizadora dos Serviços de Saúde! Ando aqui que nem posso… E o seu paizinho?
- Olhe, vá lá, vá lá…! Ultimamente tem andado menos utilizador. Mas olhe quem tem andado a utilizar mais é a D. Amélia, sabia..?
- Não! Coitadita.
Dá um aspecto muito interessante à situação, muito mais técnico e até asséptico se assim me posso exprimir. Quais doentes, quais quê! utilizadores é que nós somos. E na mesmo linha vem o termo «taxa moderadora» pela sua ambiguidade. Moderadora? Mas o que é que ela modera? Ficamos na dúvida se essa verba modera os gastos que a Saúde faz, se modera o recurso a esses serviços por parte dos doentes, perdão dos utilizadores.
8 comentários:
Sabes que já tinha pensado nisso?...
Irrita-me de um modo parvo, essa maneira de falar.
Qual utilizador qual quê????!!!!
Dá ideia de que a pessoa utiliza porque «lhe dá para aí», mas se tivesse juízo o melhor era dedicar-se a outras actividades...
Quanto à taxas moderadoras, mas tu tens dúvidas de que o que querem «moderar» é exactamente o facto de as pessoas recorrerem aos hospitais e Centros de Saúde?! Está na cara!
É que essa dos utilizadores tenho andado com isso atravassado! Agpra que tive tempo para escrever, lá me saiu o protesto! Porque, como dizes, parace que se «utiliza» um serviço de saúde como quem vai ao cinema...
Não me tinha dado conta dessas novas nomenclaturas. Quando tenho necessidade de "utilizar" esses serviços, é porque estou realmente doente, logo, sou doente e não há outro vocábulo que o substitua.. Relativamente às taxas, estou, ainda, isento, mas dada a razão e só por isso, preferia pagá-las.
Quando falam dos utilizadores referem-se aos magotes de pessoas que se dirigem diáriamente aos Centros de Saúde, para conviver, passar um bom bocado, ter a oportunidade de falar com um médico que irá sem dúvida perceber as suas dúvidas, existênciais e outras....., o problema é que os serviços são tão agradáveis que estamos a assistir de facto a um acesso maciço de utilizadores, entre, donas de casa, reformados, desempregados, trabalhadores em part-time, hipocondríacos, etc.
É como as taxas moderadoras, também só servem para racionalizar este uso irracional!
Eu pelo menos já fui várias vezes ao centro de saúde, à consulta de urgência, e ao hospital, e não foi fácil convencer os médicos que estava alí mesmo porque não me sentia bem e não porque tivesse optado por passar um bom bocado por aquelas bandas.....enfim, nestes serviços, até prova em contrário, o doente é falso!
Leonidas, isto de vir atrás de ti só tem vantagens!
É que começo a pensar em adoptar a frase «faço mimhas as palavras do orador antecedente»
Tiveste muita graça!
Mas, Zé Palmeiro, eles dizem que 40% dos ditos «utilizadores» estão isentos. Fico a pensar como raio é que Portugal tem assim tanta criança, doente crónico e pessoas com ordendo mínimo...?
Não é bom sinal (porque iso das crianças, sabemos que não o é!)
Nada «INOCENTES» nenhuma delas!
Bom post, este. Chama a atenção para um pormenor qu a gente por vezes nem nota!
Para cobrar dinheiro serve melhor utilizador do que doente. E o pior ainda é quando formos "promovidos" a clientes.
Tal e qual, FJ.
Mas isso só prova a minha teoria: é que as palavras escolhidas não são nada «inocentes»!
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