sábado, junho 09, 2007

As palavras não são inocentes

De vez em quando «há modas» na forma de se dizerem certas coisas.
Ontem num noticiário, ouvi alguém ‘esclarecer’ em relação a qualquer alteração nas taxas moderadoras, que «os utilizadores» etc e tal.
Os utilizadores.
Os utilizadores???
É isso. Agora deixou de haver doentes, passamos a ser «utilizadores dos serviços de saúde», compreendem?
As conversas passam a ser do tipo:
- Bom dia, D. Lurdes? Está melhorzinha?
- Ah, nem me fale! Tenho andado muito utilizadora dos Serviços de Saúde! Ando aqui que nem posso… E o seu paizinho?
- Olhe, vá lá, vá lá…! Ultimamente tem andado menos utilizador. Mas olhe quem tem andado a utilizar mais é a D. Amélia, sabia..?
- Não! Coitadita.
Dá um aspecto muito interessante à situação, muito mais técnico e até asséptico se assim me posso exprimir. Quais doentes, quais quê! utilizadores é que nós somos. E na mesmo linha vem o termo «taxa moderadora» pela sua ambiguidade. Moderadora? Mas o que é que ela modera? Ficamos na dúvida se essa verba modera os gastos que a Saúde faz, se modera o recurso a esses serviços por parte dos doentes, perdão dos utilizadores.

8 comentários:

Anónimo disse...

Sabes que já tinha pensado nisso?...
Irrita-me de um modo parvo, essa maneira de falar.
Qual utilizador qual quê????!!!!
Dá ideia de que a pessoa utiliza porque «lhe dá para aí», mas se tivesse juízo o melhor era dedicar-se a outras actividades...
Quanto à taxas moderadoras, mas tu tens dúvidas de que o que querem «moderar» é exactamente o facto de as pessoas recorrerem aos hospitais e Centros de Saúde?! Está na cara!

cereja disse...

É que essa dos utilizadores tenho andado com isso atravassado! Agpra que tive tempo para escrever, lá me saiu o protesto! Porque, como dizes, parace que se «utiliza» um serviço de saúde como quem vai ao cinema...

josé palmeiro disse...

Não me tinha dado conta dessas novas nomenclaturas. Quando tenho necessidade de "utilizar" esses serviços, é porque estou realmente doente, logo, sou doente e não há outro vocábulo que o substitua.. Relativamente às taxas, estou, ainda, isento, mas dada a razão e só por isso, preferia pagá-las.

Leonidas disse...

Quando falam dos utilizadores referem-se aos magotes de pessoas que se dirigem diáriamente aos Centros de Saúde, para conviver, passar um bom bocado, ter a oportunidade de falar com um médico que irá sem dúvida perceber as suas dúvidas, existênciais e outras....., o problema é que os serviços são tão agradáveis que estamos a assistir de facto a um acesso maciço de utilizadores, entre, donas de casa, reformados, desempregados, trabalhadores em part-time, hipocondríacos, etc.
É como as taxas moderadoras, também só servem para racionalizar este uso irracional!
Eu pelo menos já fui várias vezes ao centro de saúde, à consulta de urgência, e ao hospital, e não foi fácil convencer os médicos que estava alí mesmo porque não me sentia bem e não porque tivesse optado por passar um bom bocado por aquelas bandas.....enfim, nestes serviços, até prova em contrário, o doente é falso!

Anónimo disse...

Leonidas, isto de vir atrás de ti só tem vantagens!
É que começo a pensar em adoptar a frase «faço mimhas as palavras do orador antecedente»
Tiveste muita graça!

Mas, Zé Palmeiro, eles dizem que 40% dos ditos «utilizadores» estão isentos. Fico a pensar como raio é que Portugal tem assim tanta criança, doente crónico e pessoas com ordendo mínimo...?
Não é bom sinal (porque iso das crianças, sabemos que não o é!)

Anónimo disse...

Nada «INOCENTES» nenhuma delas!
Bom post, este. Chama a atenção para um pormenor qu a gente por vezes nem nota!

Anónimo disse...

Para cobrar dinheiro serve melhor utilizador do que doente. E o pior ainda é quando formos "promovidos" a clientes.

cereja disse...

Tal e qual, FJ.
Mas isso só prova a minha teoria: é que as palavras escolhidas não são nada «inocentes»!