Filhos ou enteados e ... filhos
Este tristíssimo caso da menina desaparecida que nos pôs todos a falar, (e a dizer cada coisa!) faz-nos também pensar em aspectos importantes.
Aquele em que muita gente fala, é o facto do relevo dado a este triste caso - parece que estamos a assistir à série «Sem rasto» - em comparação com outros igualmente tristes mas cujos protagonistas são pessoas que se colocam cá no fundo da pirâmide social. Eu acho muitíssimo bem que se façam todos os esforços que se estão a desenvolver para encontraram a menina, não queria nunca nivelar por baixo, exactamente ao contrário, desejava era que se nivelasse por cima e, para outros casos idênticos, se desencadeassem operações semelhantes. Sabemos que assim não é.
Outro aspecto curioso, foi-me recordado ontem à noite. Estive a ver no Sic-Notícias, o programa Opinião Pública creio eu, mas já entrei a meio e não sei o nome do jurista presente. Sei que em determinada altura ele citou a nossa legislação, explicando que em Portugal o facto de uns pais deixarem um filho sozinho é um crime punido por lei. Ouvi aquilo e senti um choque. É que se fizesse um levantamento dessas situações não haveria tribunais nem cadeias que chegassem para os milhares de casos que por aí há.
Todos conhecemos não apenas os horários de trabalho mas sobretudo o tempo perdido em transportes por que os trabalhadores em Portugal têm de passar. E conhecemos, por outro lado, os horários das escolas ou infantários. Quantos milhares de crianças têm a chave de casa para esperarem pelos pais que voltam do trabalho mais tarde?... Quantas não ficam em frente da TV enquanto a mãe vai a correr à loja comprar aquilo de que precisa para o jantar? Quantas ficam com um irmão pouco mais velho «a tomar conta delas» enquanto a mãe faz mais uma hora numas limpezas?
Mas será que não se conhece o país onde vivemos?
Possivelmente no meio rural, em terras pequenas, pode haver uma vizinha que «vá
dando uma olhadela» pela casa de cada um quando a mãe tem de sair, mas na grande cidade e seus subúrbios (sobretudo aí) esse abandono acaba por ser uma forma de sobrevivência. Porque para além da presença da mãe as crianças também precisam de sopa no prato, sapatos nos pés, uma cama onde dormir, além da água, gás, electricidade. Isso custa dinheiro. Para o ganhar nem sempre se pode estar ao pé dos filhos e os poucos serviços de apoio à família (??!) também têm os seus horários. Horários que não coincidem com os de um Centro Comercial, por exemplo.
É crime deixar uma criança sozinha. Sem dúvida. Bom, mas então o que propõem os senhores legisladores?
Aquele em que muita gente fala, é o facto do relevo dado a este triste caso - parece que estamos a assistir à série «Sem rasto» - em comparação com outros igualmente tristes mas cujos protagonistas são pessoas que se colocam cá no fundo da pirâmide social. Eu acho muitíssimo bem que se façam todos os esforços que se estão a desenvolver para encontraram a menina, não queria nunca nivelar por baixo, exactamente ao contrário, desejava era que se nivelasse por cima e, para outros casos idênticos, se desencadeassem operações semelhantes. Sabemos que assim não é.
Outro aspecto curioso, foi-me recordado ontem à noite. Estive a ver no Sic-Notícias, o programa Opinião Pública creio eu, mas já entrei a meio e não sei o nome do jurista presente. Sei que em determinada altura ele citou a nossa legislação, explicando que em Portugal o facto de uns pais deixarem um filho sozinho é um crime punido por lei. Ouvi aquilo e senti um choque. É que se fizesse um levantamento dessas situações não haveria tribunais nem cadeias que chegassem para os milhares de casos que por aí há.
Todos conhecemos não apenas os horários de trabalho mas sobretudo o tempo perdido em transportes por que os trabalhadores em Portugal têm de passar. E conhecemos, por outro lado, os horários das escolas ou infantários. Quantos milhares de crianças têm a chave de casa para esperarem pelos pais que voltam do trabalho mais tarde?... Quantas não ficam em frente da TV enquanto a mãe vai a correr à loja comprar aquilo de que precisa para o jantar? Quantas ficam com um irmão pouco mais velho «a tomar conta delas» enquanto a mãe faz mais uma hora numas limpezas?Mas será que não se conhece o país onde vivemos?
Possivelmente no meio rural, em terras pequenas, pode haver uma vizinha que «vá
dando uma olhadela» pela casa de cada um quando a mãe tem de sair, mas na grande cidade e seus subúrbios (sobretudo aí) esse abandono acaba por ser uma forma de sobrevivência. Porque para além da presença da mãe as crianças também precisam de sopa no prato, sapatos nos pés, uma cama onde dormir, além da água, gás, electricidade. Isso custa dinheiro. Para o ganhar nem sempre se pode estar ao pé dos filhos e os poucos serviços de apoio à família (??!) também têm os seus horários. Horários que não coincidem com os de um Centro Comercial, por exemplo.É crime deixar uma criança sozinha. Sem dúvida. Bom, mas então o que propõem os senhores legisladores?








9 comentários:
Perante o que escreves e que eu ouvi, o jurista era membro da Ordem dos Advogados, só posso dizer uma coisa, e desculpem-me a forma rude como a digo: Mas que merda é esta, de paí,s em que vivemos, em que só há leis, para o que não deve e para o que deve, não as há?
Posso dar o meu testemunho em como tens imensa razão. Li o teu post em voz alta aqui para uns colegas e todos nos lembramos de casos e casos e casos. Quando falas nas senhoras das limpezas por exemplo, é sabido que quem trabalha em limpezas só pode trabalhar quando os locais estão vazios, ou seja fóra dos horários habituais... E os ditos Centros Comerciais, que estão abertos até às 10 e 11 da noite, claro que os vendedores chegam a casa a umas bonitas horas. Tenho na minha memória uma rapariga cabeleireira, que trabalhava exactamente num cabeleireiro de Centro Comercial, e depois da morte da mãe andava desesperada porque não havia nenhuma ama que lhe tivesse o filho até ás horas a que ela saía. Mas dizia-me a chorar que se perdesse aquele emprego então é que nem comida tinha para dar ao filho.
Esse apoio à família é visto como se vivessemos numa sociedade ideal, que não é a nossa.
Estava à espera que escrevesses alguma coisa deste estilo.
Grande post Emiéle. Nos dois sentidos :)
quem fez essas leis vive na lua e tem criadagem para todo o serviço.
Olá!
'Brigada, Raphael!
Mary, são essas situações que muitos de nós conhecemos mas parece que há ainda quem, como disse o Fernando, viva na Lua e imagine que a sociedade é a ideal. Como começou por dizer o Zé Palmeiro, há leis para castigar quem deixe um filho sozinho, mas não há leis que protejam as mães trabalhadoras quando mais necessitam.
Concordo em pleno com o post e com os comentários.
Ainda há pouco li no Correio da Manhã o advogado da mãe da Joana, a menina que desapareceu/foi assinada também no Algarve, a dizer que no caso da Joana a PJ aparceu 9 dias com meia dúzia de agentes e com uma escavadora.
Plenamente de acordo também.
O caso de que fala o ilha_man é dos mais sintomáticos. E aquele miúdo, o Rui Pedro que desapareceu há tantos anos e se alguma coisa se fez foi com tal segredo que nunca se soube nada. Como dizes, todos torcemos para que este caso acabe bem, apesar de pensar que neste momento a menina já não está em Portugal e só a Interpol poderá actuar. Mas quanto às nossas crianças, estarem sempre acompanhadas é ainda uma utopia. A realidade diz-nos que é impossível, só bebezinhas.
Quando li o teu post à tarde não tive tempo de esvrever nada, mas ainda vim agora à net porque acabo de ver um Forum no RTP-N sobre este tema e um dos convidados Tito de Morais disse tal e qual aquilo que tu disseste aqui! Tal e qual! Sobre o absurdo de culpabilizar estes pais, quando no nosso país há milhares de crianças que pelos horários escolares passam de certeza horas longe dos seus pais, que não podem interromper o seu trabalho, se os filhos têm uma aula do início da manhã e as outras à tarde... Isto disse ele. Tu focaste outras idades mas é o mesmo.
Gostei!
Também o ouvi Joaninha e achei graça porque parecia «o meu eco»! Uma coisa são estas situações terríveis e outras a normal e diária 'desatenção' dos pais que não podem estar em todo o lado ao mesmo tempo. Culpar aqueles pais parece-me quase 'inocentar' o animal que roubou a menina. Assim como um ladrão que roubou uma casa, mas enfim, a porta estava mal fechada, a culpa era dos donos da casa...
Isto é um grande angustia porque quanto mais tempo passa mais difícil se torna acreditar que acabe em bem. E agora que não há fronteiras, basta um dia para se chegar ao outro lado do mundo.
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