segunda-feira, maio 14, 2007

«Conta-me como foi»

Já falei aqui, por alto, numa série que a RTP anda a transmitir nas noites de Domingo. A uma boa hora, após Marcelo e os Gatos Fedorentos, cerca das 10 da noite transmitem «Conta-me como foi». Se a ‘ideia’ é espanhola para o caso é secundário, esta é uma série portuguesa, com actores portugueses e sobre Portugal.
Não tem a ver com o conceito de telenovela porque cada episódio conta uma história que não depende de outras, embora haja vantagem em se seguir a sequência até para se compreender melhor a personalidade de cada personagem.
Tanto quanto consigo observar a reconstituição é muito cuidadosa. Passada nos finais dos anos sessenta, a vida de uma família de pequena burguesia é cuidadosamente reconstituída através dos olhos de uma criança da época, homem de 40 e tal anos hoje.
Uma linha condutora é a dificuldade económica em que vivem: o pai, pequeno funcionário que acumula com um segundo emprego no fim do dia, a mãe doméstica mas que costura em casa, a filha de 20 anos que não estuda já porque trabalha numa cabeleireira e entrega o seu ordenado à mãe, e o filho mais velho que se esforça para entrar na Universidade e assim adiar a ida à guerra. É interessante também a existência no agregado familiar de uma avó, que auxilia nas tarefas domésticas e ajudou a mãe a criar os filhos. O episódio de ontem teve 3 pontos de interesse:
Primeiro, a descoberta pelo pai de uma carteira, não identificada, cheia de dinheiro (quase 50 contos), na casa de banho de um café, o que permitiu ao casal sonhar durante 2 dias. Estava mesmo a ver-se que ia aparecer o dono da carteira, mas foi interessante os sonhos que foram aparecendo – passar uns dias de férias no Algarve, comprar uma máquina de lavar, oferecer uma guitarra ao filho. Eram 'sonhos' na época para uma família daquele nível socio-económico.
Segundo, os costumes e a moda. Estava-se no Verão e as estrangeiras iam à praia de biquini, que também fazia despertar o interesse das mulheres portuguesas. A jovem Isabel comprou um a prestações e vestiu-o, perante a tolerância dos pais e escândalo do namorado.
Terceiro, crise académica de 68 vista de longe. O jovem estudante desta família faz exame de admissão a Direito e passa mas é envolvido pelos incidentes na Cidade Universitária. A família fica inquieta e o pai aconselha-o a ter cuidado e não se meter em nada ou ainda vai para a tropa antes de tempo! Como já se está no Verão de 68 prevejo que já falte pouco para o fatal acidente de Salazar e a chegada do Marcelismo.
Aconselho a acompanharem esta série. Os mais velhos para recordarem, os mais novos para aprenderem.


4 comentários:

Anónimo disse...

Tal e qual!
Estou a gostar imenso da série. Deviam depois fazer um DVD com ela - fazem tanta porcaria ao menos uma obra asseada como esta, vinha a calhar.

josé palmeiro disse...

Penitencio-me por ainda não ter visto, mas esta coisa de aqui ser menos uma hora, troca-me as voltas todas. Ainda não me habituei. Mas, vou estar atento, até porque foste demasiado convinçente.

cereja disse...

Zé, palavra de amiga, olha que vale realmente a pena! Aposto o que queiram que vais gostar, ou conheço-te muito mal (e acho que não..) :)

kaynha disse...

Quem estiver interessado em participar na petição para a edição em DVD da série "Conta-me como foi" é favor visitar:
www.petitiononline.com/seriertp/petition.html

obrigada