terça-feira, abril 24, 2007

24 de Abril - Direito de Associação

Existia, é claro.
As pessoas podiam associar-se...
aos organismos “abençoados” pelo Estado. Nalguns casos eram mesmo forçados a isso – à Mocidade Portuguesa, por exemplo, que era uma organização a que todos os jovens deviam pertencer. A Legião, também tinha as portas abertas a quem se lhe quisesse juntar. Mas já os Sindicatos, isso dependia… Havia umas Associações sindicais de “faz de conta”, que pretendiam manter os trabalhadores calminhos e obedientes. Um Sindicato a sério, que quisesse defender os direitos dos trabalhadores era um perigoso inimigo e tornava-se impossível constituir um. Também havia Associações culturais, sempre cuidadosamente vigiadas, se a Polícia Política desconfiasse que tinham ideias diferentes das oficiais eram rapidamente encerradas. Portanto, de facto pode dizer que não existia de modo nenhum o legítimo “direito de associação”. Havia o futebol, porque enquanto se pensasse na bola, não se pensava noutros temas que podiam ser perigosos.


Comentário
O que conheci melhor e sobre o que posso testemunhar foram as Associações de Estudantes, mas muitas outras não eram olhadas com bons olhos, tal como os cine-clubes por exemplo. Tal como dizes sobre os Sindicatos, naquela altura havia os «bons» e os «maus». Os estudantes universitários podiam reunir-se em associações tais como o Centro (não me lembro o nome completo!) onde militava por exemplo, no seu tempo, o Freitas do Amaral ou estudantes bem-comportados. Mas Associações plenamente livres, eram boicotadas e impedidas de se organizar. Quando falo nos cine-clubes estou a falar a sério, eram actividades culturais é claro, mas se pretendiam analisar filmes sérios, ou fazer séries que levassem em conta aspectos polémicos, já a polícia política metia a sua colherada e por vezes encerrava-os em definitivo.
J. C.



3 comentários:

Anónimo disse...

Fazes bem em explicar que podia haver «associação» desde que fosse em seu favor.

josé palmeiro disse...

Sem querer ferir quem quer que seja, é o que hoje se vai passando, com as associações existentes. Só têm futuro as agregadas ao poder. Foi aliás assim que o fascismo fez ao movimento associativo que vinha da 1ª República e que era muito forte e florescente.

cereja disse...

É. Como se diz até parece que «a História se repete». De qualquer modo ainda estamos longe da situação aqui relatada, felizmente! Mas é pena que muitas vezes o próprio movimento sindical 'afasta' quem deveria cativar.