No tempo do “24 de Abril” para se entrar no funcionalismo público para além das habilitações próprias para o cargo a que concorria, atestado de saúde, prova de que não estava tuberculoso, era ainda necessário um documento. Atenção, não se esqueçam que antes de se pensar nesse contrato se tinha de consultar a informação da polícia política para saber se a pessoa que ia ser administrativo ou professor por exemplo, tinha já sido investigado pela PIDE. Antes do mais teria de ter esse aval. Mesmo assim, mesmo que nada constasse, o candidato tinha de assinar um documento em como jurava pela sua honra que não processava nenhuma ideologia que fosse contra as normas do estado, o que em gíria se chamava a “declaração anti-comunista”. Claro que o valor de um documento obtido dessa forma era muito relativo não era nenhum, mas de qualquer modo ter de o assinar era vexatório.
Comentário
Este meu depoimento é pessoal, como é evidente. A Emiéle pediu-me um comentário a este ponto e falo por mim e pelas pessoas que conheci e meus familiares. Essa chamada em gíria 'declaração anti-comunista', era uma declaração pomposa, em que declarávamos estar integrados no espírito da constituição (não me lembro bem agora os termos) e «repudiar activamente os ideais comunistas». Uma espécie de vassalagem. É evidente que quem não o quisesse fazer, não se candidatava a funcionário público seria o que nos respondiam. Contudo é de sublinhar que, certas profissões como professor ou médico, por exemplo, eram exercidas quase exclusivamente no sector público. O ensino privado era dominado pela Igreja, sobretudo, e um médico para exercer apenas em privado tinha de já ter um nome… Eu assinei essa declaração, cheio de raiva, raiva não porque fosse comunista mas porque sentia a violência moral e hipocrisia daquilo!
A.S.N.
3 comentários:
O António Barreto neste último programa referiu isto e até leu a declaração toda. Tenho ouvido quem está sempre «do contra» agora, dizer que era natural, uma defesa do Estado e ninguém era obrigado. Mas é o que lembra aqui o teu 'comentador', certas profissões para se exercerem no privado ainda era pior! Os colégios eram de jesuitas ou de freiras onde uma pessoa de esquerda tinha ainda mais dificuldade. A importância do Colégio Moderno, do pai do Mário Soares, é que muita gente de valor ensinou ali por não ter entrada no Ensino regular. E havia professores que ensinavam na parte portuguesa do Liceu Francês, por exemplo, como solução porque o estado não os aceitava.
É esse ponto que também é importante, não é dizer que quem não queria não trabalhava no estado, simplesmente. Está a esquecer-se que a entrada já era condicionada por uma «boa» (?) informação da PIDE. E, para além disso, tinha de haver este compromisso.
Esta já o sabia do teu post do ano passado. Por acaso, com este comentário e o da Joaninha entendi melhor as omplicações.
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