quinta-feira, abril 12, 2007

24 de Abril: A Censura no Cinema ou no Teatro

Antes do 25 de Abril, quem tinha dinheiro e amava a cultura, muitas vezes ia “lá fora” para um banho de cultura. Uma das delícias era poder assistir a um filme do princípio ao fim sem ‘cortes’. Porque cá em Portugal, os filmes exibidos tinham de apresentar também o dístico “visado pela comissão de censura” para poderem ser exibidos nas salas de cinema. E, atenção, não eram apenas as mensagens que se podiam considerar mais «políticas» que apanhavam com a tesoura dos senhores censores, ( aliás havia filmes inteiros que nunca cá entravam porque toda a história não era considerável de aceitar) eram também as imagens mais ousadas de conteúdo sexual. O recato era grande, um beijo ainda se admitia mas se fosse muito prolongado era “reduzido” em tamanho e os gestos mais eróticos eram pudicamente apagados


Comentário:
De novo dou a palavra à Inês
O teatro popular, ou revista à portuguesa, era rigorosamente censurado. O povo não tinha o direito de rir ou fazer rir…
Então o texto do espectáculo, por menor que fosse o público destinatário, era previamente enviado à Câmara Municipal, que aprovando-o o remetia ao Governo Civil, que aprovando-o o enviava à Presidência do Conselho para censura.
Os cortes da Censura truncavam os textos até os deixarem incompreensíveis, sincopados ou mortos!

Ou:
Fomos a Lisboa munidos de bilhete para ver Maurice Béjard. Junho de 68.
Não houve espectáculo. Lembro-me vagamente, que os artistas não chegaram a sair do aeroporto. O espectáculo fora cancelado proibido.

Porque
«6 de junho de 1968.
no coliseu dos recreios, a companhia de ballet XXe siècle apresentava o seu Romeu e Julieta. No fim do espectáculo, "o Coliseu vem abaixo. Os aplausos não cessam. (...) O público quer Béjart. Este aparece. Faz um sinal, levanta os braços, imperioso. Silêncio total. Com uma voz que se ouve em toda a sala: "Robert Kennedy foi assassinado... foi vítima da violência e do fascismo... (...) Como todos os que estão aqui esta noite, somos contra as ditaduras... peço um minuto de silêncio" (...) Durante 20 minutos a assistência aplaude freneticamente.", recorda o Diário de Lisboa, já em 1974. Umas horas depois, a PIDE ia buscar Béjart ao hotel. Meteu-o num carro blindado e deixou-o num pequeno posto fronteiriço espanhol, numa estrada deserta, às três da manhã. O caso foi abafado.»

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns à Inês(a ti também, mas tu «és da casa» lol)
Que importantes recordações.
Que bom é «não esquecer» para nunca repetir esses erros.

josé palmeiro disse...

A senda, continua, ainda bem.

cereja disse...

Ilha_man, a minha opinião sobre o Dr. Mota Amaral não é famosa. Assim a modos que um «diácono Remédios» com importância na hierarquia do Estado...
Quanto ao futebol... isso anda por aí apitos de vários metais, ouro maciço, platina, etc e tal.

Anónimo disse...

Essa censura dos espectáculos era a face visível da censura. Era impossível passar desapercebida, mesmo com todos os esforços.
Boa achega esta da Inês Teacher.

Anónimo disse...

A Teacher tem uma série de posts formidáveis. Vais «plagiá-los» todos???