sexta-feira, março 02, 2007

Uma opinião interessante

Eu gosto de ler os «artigos de opinião». Por vezes leio o primeiro parágrafo e passo para outro texto porque 'aquilo' não me interessa nada, mas é mais frequente lê-los até ao fim, concorde ou não com o que se diz, porque é aí que a pessoa que escreve está mais solta e descomprometida para dizer o que entende, e aprende-se sobre o modo de pensar dos outros.
Ora
este artigo é, na minha opinião, muito interessante, porque vem ao encontro de muito o que se vive hoje em dia cá na nossa terra. O autor fala do Efeito Caluda e o que diz faz todo o sentido! Aquilo a que chama a «cultura do silêncio» que, segundo ele, se por um lado pode querer dizer ‘concordância’ (quem cala consente) também pode significar «medo, cinismo ou apatia».
O certo é que a minha experiência pessoal me leva a concordar plenamente com esta análise. Nos locais por onde tenho andado, e os que conheço melhor, vejo que muitas vezes as pessoas não falam como deve ser, por receio. Quando o autor refere a «necessidade de os gestores serem receptivos às boas e às "más notícias" e fomentarem um clima em que seja natural e desejável que os colaboradores, de modo responsável e construtivo, se exprimam» parecia estar a mandar um recado a muita gente que conheço.
Porque, como é claro, não se está a falar – nem ele nem eu – de um «deita-abaixo» sistemático e destrutivo que alguns trabalhadores com mau feitio também desejam. Isso criaria um péssimo clima e não levava a nada. Mas a opinião de cada um sobre o trabalho onde participa, de um modo sincero e franco, só teria vantagens para o trabalho em si mesmo. Só que o medo não deixa que isto funcione assim…
Por exemplo: existe uma «avaliação de desempenho» que os chefes elaboram todos os anos a respeito dos seus subordinados. Aliás pelo que li, na FP até andam a receber lições de peritos contratados de propósito para isso. E, teoricamente, a inversa deveria existir – a capacidade de uma eficiente chefia, deveria ser avaliada pelos respectivos subordinados. E parece importante: que condições é que o chefe fornece para o trabalho ser bem executado? Mas eu não conheço, apesar de acreditar que exista, nenhum serviço onde essa avaliação se faça em plena liberdade.
Mas o artigo diz mais: «As pessoas que se expressam são rejeitadas e encaradas como "fracos jogadores de equipa". São-lhes atribuídas incumbências de menor qualidade e concedidas menos oportunidades de progressão na carreira. Do mutismo de umas surge o mutismo de outras, gerando-se espirais de silêncio - num clima de ignorância pluralista
Quem não conhece este clima?


4 comentários:

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo. Já agora, tu consegues o que eu não consegui, isto porque, ao escreveres o "post", indicas o link, facilitas o trabalho a quem lê. Eu, pelo contrário, não sei fazê-lo e depois, acontece como há dias, tentei, num post chamar à atenção para três artigos, e não consegui obter a resposta desejada, por não saber linkar.Hei-de aprender!

Anónimo disse...

É mais ainda do que dizes. Na minha roda familiar e de amigos há gente a trabalhar em tudo - empresas grandes, empresas estatais, FP, empresas pequenas, bancos, acho que há uma amostra completa. E o que oiço é isso - é melhor «não levantar ondas», engolir as críticas, porque senão vai sobrar para quem as faz.
E a estupidez disto, é que muitas dessas críticas iriam beneficiar a empresa!!!!

Anónimo disse...

Mas quem quer perder o poder, ou sentir que alguem é capaz de ter uma ideia brilhante? Isso tem de ser ignorado se não o'' chefinho''sente-se agredido e isso há-de ser pago na futura avaliação do espertinho.Por isso o silencio. Para mim é tudo uma questão cultural que herdamos e demorará muito a alterar, já que continuamos a aceitar os '' ditadorzinhos'' incapazes de ouvir os outros porque a ideia deles ainda que reconheçam que estão errados,tem de prevalecer porque ''eu é que mando,'' e nao tem humildade para aceitar,porque isso implica na optica dele perda de poder .

cereja disse...

Zé Palmeiro já te vou mandar um email a dizer como é. A mim também me ensinaram...
Exactamente, Kati, é isso tal e qual. Cada um «marca o seu território» a ai de quem tiver uma ideia melhor do que a sua. Isso pode fazer-lhe sombra, e lá vai o seu poder para o maneta! Portanto a malta aprende a calar e a «remeter-se à sua insignificância» como é bonito.