terça-feira, março 06, 2007

A razão e os distúrbios de Copenhaga

Em Setembro do ano passado estive exactamente no local desta discórdia. Deixei mesmo aqui no Pópulo a minha visão daquele sítio É portanto natural que ficasse perturbada com estes recentes acontecimentos na Dinamarca. Vou seguindo aquilo que dizem os media e procurando ouvir os meus familiares que lá vivem. Ontem estive algum tempo à conversa com a minha prima «dinamarquesa» e o que ela me diz é tal e qual o que eu pensava – como muitas vezes com os extremos se perde a razão.
A dita "Ungdomshuset" (Casa da Juventude) era um espaço alternativo autónomo ocupado há imensos anos e desenvolvendo um trabalho interessante. Parece que a casa foi vendida contra a opinião dos seus habitantes e de muita outra gente. Foi comprada por um privado que por sua vez a vendeu a uma seita religiosa. É fácil de calcular o que os jovens sentiram. Onde depois tudo descambou foi no modo de protestar quando a policia, montando uma operação sofisticada com helicópteros, desalojou os jovens de vez! Não só eles perderam completamente a cabeça como vieram grupos organizados de fora «apoiar» os protestos do modo mais errado. Na linha dos grupos anti-globalização, que da sua contestação originariamente correcta, usam de uma violência errada partindo tudo o que lhes aparece e com esse vandalismo perdem a razão. Segundo a minha prima mesmo as pessoas que são contra a desocupação estão agora contra o que se está a passar. E de realçar que a comunidade de Cristiana pronunciou-se quer contra a desocupação da casa, quer contra as acções violentas de protesto.
Uma pena. Uma falta de senso de parte a parte.
Porque a verdade é que aquela casa, tal como Cristiana, representa a democrática Dinamarca na sua aceitação de modos de vida diferentes, o que não se pode deve perder.

8 comentários:

josé palmeiro disse...

Lembro-me bem dos teus escritos, da época em que lá estiveste, e fiquei entusiasmado e espectante quanto ao exemplo que dali se podia extrair.
Agora, resultante da falta de diálogo e da ansia especuladora dos proprietários, ( nós já vimos semelhante, com a compra do "Império"), tudo redundou em violência, que nada resolve, antes volta o feitiço contra o feiticeiro.
O que aconteceu, remeteu-me para "A Espiral de Violência" de Dom Helder Câmara.

cereja disse...

A expressão é mesmo essa - se me tivesse lembrado seria o título do post. É exactamente virar o feitiço contra o feiticeiro...
Que raiva e que estupidez.

Anónimo disse...

Estava a ver se não escrevias nada sobre isto!! Mas tás desculpada, foste à fonte, assim num directo!
Falando a sério, entendo bem que por um lado a decisão fosse errada de desalojar quem ocupava um espaço e para fins culturais, mas os protestos… valha-me Deus!
Bem gira a foto! Representa o quê? A tal Cristiana?

Anónimo disse...

Mas existe um recanto desses mesmo no meio de uma capital??!!
A minha alma está parva!

cereja disse...

Raphael, podes continuar com a alma parva, porque a foto é mesmo de lá, de Christiana. E situa-se realmente mesmo ali no meio da cidade, assim como se o nosso Campo Grande fosse 10 vezes maior e estivesse povoado por gente que quer viver de um modo muito simples em contacto com a natureza.
De resto, como já disse ao José Palmeiro foi de facto um caso onde o feitiço se virou contra o feiticeiro e acabou por ser impopular uma manifestação que até tinha a sua razão.
(boa referência a Espiral de Violência!)

Anónimo disse...

Nao conheço a Dinamarca , mas estas violencias deixaram-me chocada,porque é muito gratuita..

saltapocinhas disse...

Lembrei-me de ti e do que contaste assim que ouvi a notícia!
Mas não me lembrava de nenhum prédio só do tal espaço onde eles vivem à maneira deles!

cereja disse...

Não, Saltapocinhas, se calhar não contei bem, mas quando eles ocuparam aquilo havia uns «barracões» do exército ou lá o que era, e isso foi mesmo o início daquele 'bairro' porque usaram-nos para fazer um teatro, e restaurante, e coisas colectivas desse tipo - infantário, escola, etc. As casinhas é que foram construidas com desperdícios va+rios e eram pequeninas, uma por família.
De qualquer modo, por aquilo que percebi, este edifício estava encostado a Christiania, mas já fóra do bairro.