quarta-feira, março 14, 2007

Livros, Colombo e Maomé

Conta a História que desafiados a colocar um ovo em pé, vários fidalgos da corte espanhola não o conseguiram mas Cristóvão Colombo com uma pequena pancada achatou uma extremidade e assentou-o na mesa. Era muito fácil, era, mas… ninguém se tinha lembrado!
Também é conhecida a outra antiga história – estava Maomé a pregar e pediram-lhe um milagre, pediram que um monte se aproximasse dele. Ele gritou a ordem sem sucesso, e depois afirmou «Deus foi misericordioso! Se ele tivesse ouvido as minhas palavras, a montanha teria caído sobre nós, esmagando-nos. Como a montanha não veio até mim, eu irei até ela, para agradecer a Deus por nos ter poupado». Esperto, também!
Ora bem, reparei numa coisa que me fez lembrar estes dois casos.
Não é novidade que em Portugal não se lê muito. Muitas e variadas justificações, mas a verdade, verdadinha, é que o consumo de livros não é coisa que nos faça pasmar. Há casas que os usam para decoração e outras nem mesmo isso, porque acumulam pó e é uma maçada para se limpar. E depois ir até uma livraria é passeio que não lembra a ninguém! Ainda uma olhadela na respectiva secção de um hipermercado, vá lá que não vá, mas mais do que isso não é hábito.
Ora aqui é que entra o Colombo com o seu ovo. Há locais em Lisboa onde se passa obrigatoriamente, quer adultos para o trabalho, quer jovens para a escola: os transportes. E um transporte excelente para se montar uma 'Feira do Livro', porque é abrigado, não chove, não faz vento nem se apanha a torreira do sol, é o Metro.
Portanto, (entra agora o Maomé) já que os leitores não vão aos livros, vêm os livros aos leitores!
A estação da Alameda tem durante uma quinzena, desde que o metro abre até que fecha, uma Feira pequenina mas muito simpática. Aí metade dela é orientada para a infância, muitos livros infantis e alguns álbuns de banda desenhada, mas também a mais variada literatura. E mesmo ao fundo tem uma banca de alfarrabista com livros usados. Sedutora. A verdade é que encontrei lá livros da minha infância que com o tempo se tinham «evaporado» e não resisti a comprar.
Há lá coisa melhor do que voltar a ter 6 anos...?!.

14 comentários:

Anónimo disse...

É bom, é, Emiéle. quem não gosta de voltar à infãncia. E nada como os primeiros livros que se leram para uma recordação tão doce.
Que bom post, minha amiga, tem tudo - sentimento, graça, gostei muito!

Anónimo disse...

A estção de 7 rios tem uma quase permanente.

Anónimo disse...

E eu que não conhecia nem uma nem outra, nem «Sete Rios», nem a da «Alameda» porque não costumo parar em nenhuam delas...
Mas realmente a ideia é muito boa. De manhã nem por isso que se vai com pressa, mas sobretudo à volta perder uns minutos não é grave e vai-se passando os olhos por uns títulos. E aliás há quem ande de metro sem ser a correr.

Anónimo disse...

Coisas da "grande cidade". Mas tens razão, é uma belíssima atitude, essa de vender livros nas estações do metro.
Já me tinha manifestado pelos posts de hoje, serem todos tristes e eis que me apareces com esta boa notícia. Sabes, eu agora com os netos, fuidar a volta aos baús, e encontrei os livros que eram do pai e dos tios, e tem sido um autêntico tesouro, descobri-lo, com a minha neta, que é a mais velhinha e já vai gostando deles.
Compraste "Os desastres de Sofia"?
Como é bom fazer esses retornos!!!

cereja disse...

Joaninha - Pois é bom ter outra vez 6 ou 7 anos! Obrigada pelo elogio!
FJ - A verdade é que em Sete Rios eu nunca saio do comboio. Nem sabia. Aqui na Alameda é que como há transbordo temos mesmo de passar à «porta da feira» :D
Raphael, aconselho a que pares. Pelo menos ficas com umas ideias do que há.
Zé - Não foi esse mas só encontrei este boneco da época, aqui na net! Mas na Coleccção Azul ou na Colecção Manecas havia coisas giríssimas.

Anónimo disse...

Olha que é mesmo o ovo de Colombo - deixar à vist de quem passa o livro em exposição. Porque disseste a brincar, mas olha que há muito quem se intimide em entrar numa Livraria «a sério»! Agora a Fnac abriu o campo, porque vão para ver discos ou videos ou coisas dessas e deita-se o olho a um livro mais atractiv, mas mesmo assim....
Já tinha repado na que tu contas, até porque está mesmo ao lado das escadas e já vi uns bandos de miúdos, mesmo miúdos 9/10 anos, a entrarem e revistarem os balcões!

Anónimo disse...

E eram livros de texto, com ilustrações muito subtis, mas de efeito fabuloso, lembro-me bem!!!

saltapocinhas disse...

Ooooooooooh, o meu comentário fugiu!

Mas tinha dito que em miuda adorava a condessa de ségur, li os livros dela todos.
Não guardo livros dessa altura porque não havia dinheiro para isso, mas li milhentos graças à bibliotaca itinerante da CG.

Anónimo disse...

Boa ideia,sim senhor!! Na minha infancia e adolescencia não havia dinheiro para livros , para alem dos escolares ,mas havia uma Biblioteca Itenerante , que esperavamos ansiosos ao fim da tardinha, salvo erro de 15 em 15 dias . Tenho saudades dessa alegria de ter um novo livro para devorar, pois tinha de ser entregre dentro do prazo.Era muito engraçado

cereja disse...

Zé palmeiro estás a ler estes comentários? Confirmam-se as vantagens das bibliotecas itenerantes estás a ver...?
Bom, reconheço que não era o meu caso. A minha família não seria exactamente rica, mas eram intelectuais onde o dinheiro podia faltar para algumas coisas mas para livros não faltava. E eu em criança tinha uma pequenina biblioteca que depois ou fui oferecendo outras crianças mais pequenas ou de perdeu - daí a graça de reencontrar alguns desses livros. Muito ingénuos (A Princesinha, O Pequeno Lord, por exemplo) mas que me evocavam muitos momentos maravilhosos.

Anónimo disse...

Estou a ler sim senhora, e estou a ficar muito emocionado, por ver reconhecido, um papel tão importante que eu e muitos, muitos outros, andámos cerca de trinta anos a representar e pela amostra, de forma bastante eficaz. Chegou ao fim, porque se começou a medir a cultura, por números e essa coisa de fazer deslocar, uma carrinha com livros, dois funcionários a uns quilómetros de distância para atender uns dez, quinze ou vinte meninos, não era rentável. Coisas da "coltura", que não da CULTURA, certamente.
Mas estas manifestações deixam-me, como podes calcular, extremamente feliz.

saltapocinhas disse...

José Palmeiro: felizmente estás enganado!
A biblioteca itinerante continua a existir pelo menos aqui nas minhas bandas.
Já não traz muitos livros para adultos, estão mais virados para as crianças, mas vêm à escola de 15 em 15 dias e nesse dia é uma festa!
Até eu requisitei um livro que ando a "perseguir" há tempos e que queria comprar mas que está esgotado, que é "o diabo dos números"

cereja disse...

Está esgotado?
Olha que só eu ofereci-o a tantos miúdos que devo ter ajudado a esgotá-lo! É giríssimo.

Anónimo disse...

Este escrito tem, felismente, levado a uma conversa que reputo da maior importância, porque tem a ver com livros, com a sua difusão e consequente gosto pela leitura.
Como eu gostava que a Saltapocinhas tivesse, toda, a razão! Mas, infelismente, não tem. Passo a explicar.
A rede de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Caloute Gulbenkian, parte integrante do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura, da dita instituição, foram extintas, tal como o serviço. O que existe, são resquícios desse serviço, pois houve municípios que, decidira, em boa hora, ficar com essas estruturas, e transformá-las em Bibliotecas Escolares ou de apoio às Escolas. Tens a sorte de viver e conviver com elas, parabéns, mas deixaram de ser Universais e para TODOS.
Continuo a dizer que constituiu, para o país, uma perda irreparável, demostrado pelo carinho com que, ainda hoje, são referidas e lembradas. Espero ter contribuido para a reposição da verdade e estarei sempre ao dispor para as informações que julgarem pertinentes.