quarta-feira, março 07, 2007

Facilidade de despedimento

Tal como já se dizia e previa o emagrecimento da Função Pública à força vai passar pelos despedimentos. Começou por não se substituir quem se ia reformando, por impedir o acesso a quem queria entrar – os pouquíssimos que entraram foram trabalhadores que já lá estavam e a quem se oficializou o vinculo – e vem agora a cereja em cima do bolo, que é o simples despedimento.
Visto de fora nem parece mal. Se uma pessoa é incompetente, é natural que sofra as consequências dessa incompetência.
«Os funcionários que tenham uma avaliação de desempenho insuficiente durante dois anos consecutivos vão ser despedidos» . Não há nenhum patrão que aprecie ter trabalhadores que não trabalhem ou trabalhem mal. Até aqui parece normal, mas vamos ver como é que se faz a avaliação. No sector privado para despedir um empregado tem de haver uma justa causa que não é um leque tão aberto como isso, ou então há direito a indemnização. Ora os critérios dessa famosa 'avaliação' que podem levar ao despedimento serão tão objectivos assim? Há já muitos anos, quando nasceu a avaliação na função pública, eu uma vez considerei-me muito injustamente avaliada por um chefe e recorri dessa injusta classificação. Fundamentei as minhas razões, enviei o requerimento e fui ouvida por uma comissão. Tempos depois recebi a resposta que ainda guardo para aí. Dizia mais ou menos «reconhecemos as suas razões, mas como aquela classificação tem uma grande parte de subjectividade não poderemos alterar a nota». Não é que me prejudicasse a carreira, que sobreviveu a isso, mas serviu para entender até que ponto se está nas mãos dos chefes. Que podem passar a ter poder «de vida ou de morte» se a sua classificação implicar o desemprego.

Para onde se caminha?

8 comentários:

josé palmeiro disse...

Tocas exactamente no problema: - Quem nos avalia, quais os critérios e que possíbilidades e garantias temos para nos defender.
Assim, não vale, está tudo inquinado.

Anónimo disse...

È horrivel pensar o que aí vem com estes criterios de despedimento A Funçao Publica será o ultimo recurso de emprego no futuro, penso eu.. a não ser que quem avalia tambem seja avaliado, pois a corrupção pode alastrar, etc etc

Anónimo disse...

A questão é essa Emiele - quem avalia os avaliadores???
Se for a pirâmide sempre a crescer, os superiorers a avaliar os subordinados, duvido que se consiga evitar os favorecimentos, e os «engraxadores» têm o futuro asegurado. Se existir um sistema misto, talvez a coisa se possa moderar.
Como diz o Zé Palmeiro, está tudo inquinado. Oh Kati, a função pública já não é recurso nenhum. Não só ninguém entra como pelos vistos vai ser mais fácil despedir de lá do que dos privados. E sem subsídio de desemprego.

Anónimo disse...

Para onde se caminha? Eu diria para uma rampa inclinada! Cada vez se acelera mais para um final em grande...
Os comentadores anteriores disseram tudo. Só no dia em que a avaliação fosse recíproca, de podia fugir aos manteigueiros e engraxadores. Assim, como disseste Emiele, podem sempre respponder que a avaliação foi 'subjectiva'...

Unknown disse...

Talvez agora percebam porque os professores tanto se revoltaram e revoltam contra o novo sistema de avaliação. Claramente, a intenção é económica (reduzir o número de funcionários), e vai favorecer os compadrios. Qualquer dia querem funcionários e não os há. Depois pode entrar qualquer um.

Rita Inácio disse...

Penso que há problemas piores...
Eu trabalho num atelier de Arquitectura,... ha uns dias despediram uma rapariga de uma hora para a outra, isto porque, supostamente, o trabalho diminuiu, e sabem porque o fizeram sem mais explicações? Porque estamos todos a recibos verdes.

cereja disse...

Ritinha, não são problemas piores é o mesmo problema. Lá na função pública também há recibos verdes. E também esses saltam de uma hora para outra! Essa precaridade é para todos. Aqui a novidade é como se nesse atelier onde estás houvesse gente com um contrato fixo, e se o chefe embirrasse com ele durante dois anos, também seria despedido. E até agora, sem subsídio de desemprego.
Bell eu já nem sei se «pode entrar qualquer um», eu começo é a pensar que se deseja entregar o país aos privados.

contradicoes disse...

Também abordei este tema, com cuja medida concordo plenamente e sobretudo pela necessidade urgente de devolver aos funcionários públicos a dignidade que merecem, expurgando-se das ervas daninhas que possuí e são muitas. Aliás este anunciada medida peca do meu ponto de vista apenas por tardia. E muito provavelmente até nem seria se ela já tivesse sido implementada criar um Quadro de Supranumerários. Todos nós que frequentamos repartições públicas, temos duma maneira geral razões sobejas de queixa da qualidade de alguns funcionários públicos. E porque também temos a consciência de que na Administração Pública também existe muita gente competente, já é tempo de se desfazer daqueles que não o são. O meu receio e sobretudo dúvida é quem vai efectivamente fazer a avaliação.