«Deseja factura?»

A pergunta já é um avanço. Quando, com um ar atencioso, a pessoa que nos presta um serviço ao comunicar quanto lhe devemos avança com essa interrogação, já é qualquer coisa. Mas todos sabemos que deseja ouvir uma resposta negativa e, quando assim sucede, o sorriso torna-se mais aberto.
Em todas as áreas. Estamos cansados de o saber. Claro que nos supermercados vem um aviso na área das caixas «quem desejar factura deve pedi-la antes de ser feita a conta» e já sabemos isso. O que até nesse caso se levanta a dúvida – e a esmagadora maioria que a não pede, como é? Essas vendas entram onde? Depois é o escândalo que sabemos de alguns consultórios: se passar um recibo da consulta é um valor, sem recibo outro. Na restauração nem é preciso falar – quem é que pede um recibo de uma bica?! Já me aconteceu, até ao balcão de uma loja, quando pedi um comprovativo de venda de um artigo, porque nem era para mim, o empregado resmungar com mau modo «ah, mas se quer um recibo é mais caro porque tenho de incluir o IVA».
Tudo isto para falar de uma campanha que vem aí chamada «Peça a factura». A ideia é exactamente 'moralizar' esta imoralidade toda.
Não faço ideia se vai resultar, se vai surgir uma cumplicidadezinha entre fornecedor e cliente, porque o pagamento de impostos é uma coisa que é difícil de aceitar e por vezes os clientes sentem que podem pactuar com algo que a curto termo os beneficia.
Mas o que está em causa nem é o benefício de cada um, é uma atitude cívica. Será essa mensagem que era bom que passasse.
Apesar de já sabermos que para isso ser implementado quem vai pagar mais agora será o consumidor. Daqui para a frente sempre que eu pedir um recibo como deve ser e não aquele papelinho manhoso onde ele me rabiscou um número, ao meu canalizador, electricista, pintor, serralheiro, vou pagar o serviço que ele me prestou e mais o imposto que ele vai ter de pagar!