domingo, fevereiro 11, 2007

E agora?

Estou muito dividida.
Parte de mim sente-se satisfeita.
Apesar de tudo, dentro dos votos expressos por quem se deu ao trabalho de ir votar, vemos que a maioria quer mudar uma lei que leva a tribunal e castiga a mulher que provoca uma interrupção de um estado que não desejou, para além dos casos já contemplados na lei. Ou seja, há uma diferença significativa de cerca de 10 * pontos percentuais entre os partidários de quem desejava deixar a lei como estava e os que a queriam mudar.
A outra parte de mim sente uma grande amargura.
Afinal, somos muito bons a queixarmo-nos mas ficamos por aí. Votamos de tantos em tantos anos e esperamos que os políticos façam tudo, e eles dão muito jeito, porque se não fizerem como queremos podemos sempre criticar, censurar, ironizar, dizer tudo o que nos passa pela cabeça sobretudo que «são todos iguais». Mas gostamos disso. Gostamos que decidam por nós. Porque afinal dá muito trabalho e maçada respondermos quando nos perguntam qual a nossa opinião. É bem melhor devolver a bola e depois haver alguém em quem bater. Se assim não fosse teríamos que assumir que também somos responsáveis pelo nosso destino e isso é bem difícil.
Bom, o referendo não foi vinculativo. Sessenta por cento dos nossos compatriotas preferiram que os políticos decidissem por eles. Vamos ver agora o próximo capítulo. Mas não se queixem, por favor!
* (Quando escrevi este post a diferença era de cerca de 10 pontos; no final da contagem subiu para o dobro o que faz muita diferença – o dobro da diferença!)

13 comentários:

JustAnother disse...

Subscrevo por baixo das tuas palavras... espero que nao te importes, vou "plagiar-te"...

Farpas disse...

A esta hora os resultados apontam ara uma diferença de cerca de 20%, não é vinculativo mas é bastante mais significativo que em 1998. Quanto aos que não votaram, vivam com a vossa decisão...

cereja disse...

Tuxa, já te disse que quando visitei os teus blogs senti que tinhas um mode de pensar parecido com o meu, não foi..? :D
Farpas - Claro que, como disse foi uma 'vitória' também. Como acentuas a diferença é grande. Mas, tinha esperança (sou ingénua afinal) que desta vez a malta se mobilizasse mais. Bolas, não era assim muito difícil!

Farpas disse...

Olha Emiéle a minha pequena "vitoria" foi conseguida, eu já estava à espera que a abstenção continuasse a ser alta porque muito sinceramente grande parte dos Portugueses estão-se a marimbar para o que se passa à sua volta, claro que não são todos os que se abstêm,... não percebo essas pessoas... mesmo aquelas que estavam em dúvida podiam votar em branco, isso significava que se importavam mas não conseguiam decidir... é triste esta maneira de ser, toda a gente se queixa dos políticos, e que não fazem nada e que muitas vezes nem põem os pés na AR, mas depois quando lhes cabe a vez de tomarem atitudes "baldam-se"...

Anónimo disse...

Também subscrevo! Também estou desiludida com a abstenção.
Somos é muito bons a criticar, realmente!

Anónimo disse...

Apesar de tudo, ganhouo SIM!
Quanto à abstenção e à pouca participação do, chamado, povo português, eu gostaria aqui de lembrar o 25 de ABRIL, e perguntar:
Quantos eram efectivamente os que o fizeram? Ao fim da primeira semana, já era toda a gente, pides, os da legião e toda a espécie de camaleões, o que veio tornar possível, tudo o que hoje estamos passando.
Ganhou o SIM, verdade insofismável, dignfiquemo-nos!

cereja disse...

Certo, Farpas e Zé Palmeiro, por isso mesmo é que escrevi neste post que me sinto dididida entra a satisfação e a amargura. Se só sublinhasse a abstenção não estaria dividida, estava furiosa e pronto! É claro que também estou contente, mas... se ao menos fosse mais perto dos 50%. É que foi mesmo quase 60%, é muito. E quando vemos os resultados pelo país todo, aquilo vai oscilando sim-não, não-sim, mas o número do meio, o da abstenção parece fixo, com oscilações mínimas.
Zé, tu lembras o 25 de Abril, mas relembra um pouco as primeiras eleições livres. Lembraste-te do valor da abstenção?! Pois é, naquela altura era um direito conquistado.

cereja disse...

Bolas, cliquei antes de acabar de escrever a frase que estava na minha cabeça. Queria dizer «Naquela altura era um direito conquistado, agora tornou-se um dever. Todos reclamamos os direitos e fugimos aos deveres.

Fliscorno disse...

Mais de metade da população não se dignou manifestar! Ocorre-me perguntar: porque há-de votar ser um dever? Porque eu acredito que a democracia faz sentido? Mas e se os outros não se importarem com isso? Como qualquer outro regime político, também a democracia foi imposta. Votar é, sem dúvida, um direito. E um dever?

JustAnother disse...

Correndo o risco de ser trucidada, e confessando que isto e mais um desabafo e uma provocacao do que outra coisa... aposto que se nao se pudesse concorrer em concursos publicos para o Estado se nao se tivesse votados nas ultimas 3/4 eleicoes, a abstencao seria menor... aposto que se os funcionarios publicos nao pudessem ser promovidos, se nao votassem, a abstencao seria menor. Aposto que se os privados nao pudessem recorrer a auxilios estatais se nao tivessem votado, a abstencao seria menor. Aposto que se nao houvesse beneficios da SSocial a quem nao votasse, a abstencao seria menor... e por ai fora. O Estado somos NOS! E se queremos receber do Estado, temos de dar. E dar nao e apenas os impostos...

ilha_man disse...

Tuxa,existem países na UE em que isso acontece, acho que na Bélgica é isso que sucede. No entanto, o Estado também tem culpa na percentagem de abstenção quando não permite a todos os cidadãos que apresentem uma justificação para não poderem estar na sua área de recessenciamento na altura da eleição a poderem votar por antecipação ou poderem votar noutro local. Por exemplo, aos estudantes universitários ou aos professores deslocados da sua residência não lhes é concedido pela lei eleitoral dos referendos a possibilidade de votarem por antecipação.
A outra parte do meu comentário vai para a minha esperança de que o Estado "obrigue" as mulheres que pensam em interromper a gravidez a terem consultas informativas que as ajudem na sua decisão, mostrando-lhes o que elas podem usufruír de benefícios estatais se resolverem ter o filho,as complicações que um aborto envolve, etc, etc. Acho que o estado deve dar à mulher a opção de abortar,se por vontade dela até às 10 semanas, deve dar a melhor informação possível para uma decisão em consciência, mas não deve financiar essas interrupções. O estado deve ser pela vida e pela livre escolha, mas nunca financiar uma escolha pessoal.

saltapocinhas disse...

Ao contrário dos comentarios aqui expressos e do que escreveste no teu post, acredito que muitas pessoas não foram votar porque realmete não tinham opinião e tanto lhes fazia.
Estão no seu direito, é uma coisa que não me choca nada.
Agora espero que o governo tire daí as ilações acertadas: quem não foi votar é porque tanto lhe faz, quem voi votar votou maioritariamente SIM. Portanto, sem margem para dúvidas ou segundas interpretações, o sim ganhou, felizmente e finalmente!

cereja disse...

Saltapocinhas, como em parte nos estamos a basear no que diziam as sondagens, elas diziam que entre as pessoas que estavam em dúvida quando ao voto, só umas 12% é que se diziam pouco esclarecidas, as outras invocavam váruos motivos mas não esse pouco esclarecimento.
Tens a tua razão em dizer que estavam no seu direito em não ir votar. O certo é que não é obrigatório. Mas como eu dizia no fim do post depois não se queixem... E era contra isso que eu me insurgia - na altura em que se pode e deve tomar partido pr alguma coisa, não se faz, mas depois começam as queixinhas.