Creches e Universidades
Estávamos a conversar animadamente.
Um grupo de velhos amigos que gosta de se reunir de vez em quando. Tínhamos jantado juntos e depois fomos tomar o café e acabar a noite na casa de um de nós. É um velho costume, que permite estar-se à vontade sem a pressão de outros clientes que procuram mesa para jantar ou dos empregados que, cheios de razão, querem fechar a loja. E, também como de costume, fomos para casa do casal que tinha um filho pequenino para «libertar» a tia que tinha ficado como baby-sitter.
Como disse a conversa estava viva e animada. Discutia-se os últimos filmes, o livro que um de nós estava a acabar de ler e cuja apreciação não reunia consenso, e claro que todos dávamos a nossa opinião sobre o «estado da nação». Já se adivinha que não seria famosa…
A dada altura a Inês e o Pedro queixam-se do problema que é o facto da filha ter ido frequentar uma universidade privada por não ter conseguido entrar na que desejava e a falta que lhes anda a fazer os 250 euros que têm de pagar. Quando a conversa parecia que se ia orientar para a velha questão das propinas, a Ana e o Luís, os donos da casa, trocam um olhar e começam a rir. Fez-se um silêncio espantado. Mas logo explicaram: é que para terem o seu filho num infantários eles pagavam 350 euros. Mais 100 euros do que a faculdade da L.! E não era nada do outro mundo, era o que tinham conseguido com vaga!
É claro que quem tinha viajado recentemente, contou como era a resposta «na Europa» a esta situação concluindo-se que era mais uma originalidade portuguesa.
10 comentários:
Ai, Emiéle, há tanto que dizer sobre isto!!!!!
Porque o certo é que muita gente passa ao lado desta questão. Quem não tem filhos pequenos nem imagina o que é essa luta para encontrar um local «decente» para o deixar quando se vai trabalhar. E quando o que lá se deixa é quase o SMN ouve-se muitas vezes 'bocas' no sentido «então o melhor é deixar de trabalhar e tratar do seu filho que era bem melhor». E sei de casos caricatos, onde aparentemente o valor que se pede aos pais é bem menor, mas depois TUDO é extra. Mudar a fralda é extra, dar a papa na boca é extra, tapá-lo para a sesta é extra, por-lhe a chupeta é extra. Estou a fazer caricatura, mas é um pouco nesta linha, coisas que seriam obvias, são pagas à parte...
Tema muito oportuni, Emiéle.
Que política social temos? Vivemos na Europa, sim, mas...
Há a menor comparação?
Falar de polótica social, neste areópago, não dá, está tudo mais que escalpelizado. No entanto, vão-se acabando as redes públicas de infantários, desorganizando a parca estrutura existente, arrasando os quadros de pessoal e é o que se constata. Os meus filhos, que têm dois, estão a passar por esses caminhos, cada vez mais tortuosos, para a grande maioria do povo.
Eu filhos não tenho. Mas a verdade é que tenho amigos a quem oiço essas queixas, de que o preço dos infantários é uma violência terrível. E os das Misericórdias (que também são pagos e com estudos de capitação nada tolerantes...) não têm vagas a não ser por cunha.
Tem piada essa comparação dos «dois graus de ensino» lol
Achei que era interessante contar esta conversa, porque vinha mesmo a propósito. Porque o mais fácil de se ter um filho são mesmo os primeiros 9 meses. Claro que há consultas, análises, etc, mas...
O complicado vem depois dos 4 meses de férias de parto...E a porca começa a torcer o rabo para nunca mais parar. E tudo com a mãe com um nó na garganta por deixar a criança em lágrimas no colo de outra pessoa. Quando é que as mulheres portuguesas podem ficar em casa a criar os seus filhos, com o seu ordenado, como se passa em tantos países da UE?
Este tema além de oportuno por aparecer hoje, dia de reflexão para coisas muito sérias, é ele próprio muito importante. É um problema gravíssimo esse de se encontra um local para deixar um filho e então se tivermos dois, fica-nos tudo ou quase, o que se ganha no emprego que tivermos (já nem falo, é claro, na loucura de ter 3 filhos!!)
E depois ainda ouvimos coisas cínicas do tipo «valia mais era ficar em casa a cuidar deles, afinal o que ganha é todo para a creche». Todos sabemos que ficamos com um nó na garganta quando o deixamos a fazer beicinho no colo de outra pessoa, mas que alternativa há? Ficar, como dizem a cuidar deles, até quando? Procurar emprego quando eles forem para a escola? E aí, já sem prática, quem nos quer com a crise que há?.. Ficar o resto da nossa vida á volta dos tachos?
Se me perguntarem o meu sonho, seria ter umas férias de parto como devia ser, e como há noutros países. Entre um a dois anos. E quando ele fosse para uma escolinha, de preço acessível, mas bom para convívio, ter um tempo parcial até á escola a sério. Aí recomeçava o meu trabalho a tempo inteiro.
Eu sei que é um sonho, mas… Talvez a minha nora daqui a 20 e tal anos o possa viver.
Infelizmente é verdade e já há muito tempo que é assim!
Dei por ela quando o meu filho andava na universidade (pública e ainda por cima em Aveiro)e os meus sobrinhos andavam, um na primária e outro na pré.
Eu gastava muito menos dinheiro que a minha irmã!
Ah e esqueci-me de dizer que era por aí que se devia começar: criar boas condições para as mães e os pais terem onde deixar os filhos (de borla como está na constituição...)
E iam ver se a natalidade aumentava ou não aumentava!
NAo tenho filhos, mas lembro-me perfeitamente de estar a estudar na Faculdade em Franca e de os meus pais mandarem 500 euros por mes para mim... e de achar que era muito dinheiro, ate me aperceber de pais que gastam o mesmo ou mais para deixar os filhos na pre-primaria. O meu ir para o estrangeiro era luxo, o ter um sitio para se deixar filhos para se poder ir trabalhar e essencial...
Agora estou a trabalhar fora de Portugal e o apoio que e dado as familias (numerosas ou nao), simplesmente nao tem comparacao!
Estou cansada de dizer ou escrever issso, Saltapocinhas. Com boas condições, a nossa natalidade subia logo - nós ateé somos um povo que gosta de crianças! tanta gente que conheço que se ficou por um filho, mas suspira que se pudesse tinha tido dois pelo menos...
Tuxa - Como vês é essa a nossa realidade, ainda hoje. Ou pior, porque os infantários da Segurança Social estão a desaparecer como a neve ao sol! Também conheço um pouco o que se passa noutros sítios e, tal como dizes, não tem comparação!
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