A voz da poesia
(Sempre Sophia...)
As pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)
7 comentários:
Um poema à maneira dela, quando queria ser firme e dura.
Devia ser era
«Não lhes perdoeis, Senhor
Porque eles sabem o que fazem.»
Isso seria a frase óbvia, é claro, Tess. Eu creio que ela o disse assim por poesia não por lógica.
Bonito. A cosmética alterou o supérfluo mas não o essencial.
E o essencial é bem importante!
Gosto muito da Sophia.
Também gosto muito da Sophia. É assim, alguém que tem as palavras sempre. Em todas as ocasiões. Tipo amiga, mesmo.
Não conhecia esta da Sophia. Adorei e obrigado Emiele
Olha Célia, este até o sabia quase de cor... Fui confirmar, que nestas coisas pode haver azares, mas enganava-me em pouco. Gosto muito dele e pensei que não era mau começar o ano que estas palavras.
:D
Com Força!
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