terça-feira, janeiro 23, 2007

SE

Quando se for votar no dia 11 seria bom que as pessoas tivessem claro na cabeça o que estão a votar. Com tantos apelos sentimentais, muitas vezes esquecemo-nos que neste assunto se juntam, como disse Maria de Belém, questões sociais, de saúde pública e jurídicas Sendo ainda e sobretudo, como nem todos estranhamente reconhecem, uma questão também do foro íntimo. Tão íntimo e pessoal que, independentemente da questão do risco da penalização, muitas mulheres não falam dos seus casos por pudor, por sentir que se está a tocar em algo de muito profundo e íntimo apesar de se reconhecerem quando ouvem as palavras de outras mais afoitas que são capazes de abrir o coração.
E acho sempre curioso como nestas alturas, aparece o argumento de que a prática do aborto não devia existir SE as coisas fossem de outro modo. Porque no período anterior a uma votação destas – e isso já aconteceu da outra vez – aparecem prometidas uma série de medidas que … ficaram nas promessas!
Já se sabe que deveria haver melhor informação, mas não há. Já se sabe que as consultas de planeamento familiar deveriam ser muito incentivadas, mas não são. Já se sabe que devia existir um bom apoio à grávida, mas não existe. Já se sabe que devia haver uma boa política de apoio à família, mas não há. Já se sabe que as respostas sociais para cuidar convenientemente de uma criança até entrar na escola deviam ter sido implementadas, mas não foram. Já se sabe que devia haver pediatras nos Centros de Saúde, mas não há.
É claro que SE tudo isto funcionasse muito bem, talvez nem se pusesse esta questão que vamos votar no dia 11. Só que esta utopia estranhamente funciona apenas antes de uma votação destas, depois evapora-se rapidamente.
Foi
aqui também lembrado essa questão tão simples: com o SNS que temos, uma grávida é seguida na sua consulta de gravidez, sem custos, mas todos os exames necessários ao bom acompanhamento do caso saem da sua bolsa… Claro que quem for claramente carenciado pode ter o estatuto de isento, mas quem tenha «a sorte» de ter um emprego começa logo a pagar durante esses 9 meses e … nunca mais pára.
Pois é, amigos, SE...!

7 comentários:

Anónimo disse...

Dos melhores esclarecimentos que, até ao momento, me foram dados conhecer.
Desde já te peço autorização para o "postar", na integra, no "estounasesta".
Um belissímo contributo para a consciêncialização do problema, que não é do "aborto", como os do "não", teimam em afirmar.

Anónimo disse...

Plenamente de acordo.
Como muito bem lembras já «da outra vez» ouvimos esta conversa. Planeamento familiar, etc e tal. Quem oiça certas pessoas até parece que é uma espécie de birra: «Não! Eu não quero tomar a pilula, prefiro abortar...» mas sabemos que as consultas de planeamento são ainda bem poucas para as necessidades. e gostei que falasses nessa dos pediatras. É uma anedota. Nos Centros de Saúde que os têm, atendem bebés mesmo recém-nascidos, daí para a frente que vão ao médico de família...

Anónimo disse...

Olhem, 'colegas comentadores' antes de mim: Gosto mesmo da maneira como aqui o Pópulo tem falado nesta questão, assim muito mais pela positiva.
Este é um bom exemplo.

Anónimo disse...

Continuando na mesma linha de raciocínio: Eles em França fizeram agora aquele escarcéu (claro que com o apoio da todas as forças dos países vizinhos que pensavam como os manifestantes, cof...cof...; se fosse ao contrário acharia graça!) mas a verdade é que têm agora bases para pensar de outra forma. se calhar algumas das mulheres que decidem abortar, se vivessem lá não o fariam. Então vamos ver as diferenças, OK?

cereja disse...

Muito obrigado Zé! Fico lisongeada que o faças, é claro...
(não consegues deixar aqui o link para o estou na sesta?)
Joaninha, Raphael e Gui - o meu grupinho de comentadores de estimação... - creio que 'apanharam' bem o que eu pretendia dizer a para aquilo que queria chamar a atenção. Aliás o Troll tem lá um cartoon tal e qual nesta linha: parece que os cuiddos com que se vela e defende um embrião, desaparecem mal a criança nasce!

Anónimo disse...

São coisas destas que é preciso lembrar!
Passei por aqui por acaso, mas gostei do blog.
Por acaso também me parece que a nossa Comunicação Social não é nada inocnete neste processo - se quer tomar partido que o faça abertamente e não do modo sonso como o anda a fazer! O aproveitamento da manif em França, por exemplo, no outro dia. Vamos comparar as políticas de um país e do outro...? A vacina do colo do útero se se quiser fazer em Portugal custa 500 €, em França é gratuita.
Isto só como um exemplo.

Anónimo disse...

Bom post e imagem bem escolhida. É que com essa de andarmos a mostrar lindos bebés, até parece que as criancinhas cristalizam assim que nascem e depois não é preciso mais nada.
Nascem e ... plim, vão para a tropa ou casam. Ora a parte «mais fácil» até são esses 9 meses, os problemas e dificuldades vêm depois.