Direito à vista (da janela e não só)
Lembrava o jornalista que, no século XIX, nalguns países cobravam impostos sobre as janelas - quem tinha direito a ver devia pagar por isso. Hoje parece-nos extraordinário, mas a nível mais suave a coisa ainda tem alguns sinais: uma casa vale mais ou menos de acordo com o andar onde se situa, ou seja segundo a vista que o apartamento tem. É um factor de valorização que os vendedores muito bem explicam, isso de a casa «ter vista».
Mas, se podemos protestar depois por os canos funcionarem mal, ou as paredes terem rachas, esse factor da vista não é controlável – quem tem um terreno à frente pode decidir fazer uma construção que tape essa vista e lá se vai o nosso prazer mas o dono está no seu direito.
E estará? Até que limite?
Quando disse que esta questão me toca é mesmo verdade. A casita para onde vim estes dias fica numa aldeia de 'paisagem protegida'. Quando comecei a vir para cá, há muitos anos, aqui mesmo à frente existia apenas uma casinha encantadora com um belo quintal à volta. De um só piso e pequenina, lembrava-me a casinha onde vivia a Branca de Neve e os Anões. Bem, o tempo passou, essa casa de brinquedo foi demolida e em seu lugar construíram duas casas grandes ocupando quase todo o terreno, casas com dois pisos e um tanto pesadas mas, apesar disso, eu mantinha a vista da paisagem ao longe, ao pé é que era menos bonito. Paciência. Contudo, no terreno ao lado, onde havia um palheiro começou um dia a levantar-se uma construção. Fiquei primeiro curiosa porque o espaço era tão pequeno que nem percebia o que iam lá fazer. Mas a construção começou a subir e eu a assustar-me, acabando por entrar em pânico quando vi que estava a nascer ali uma torre. Quatro pisos (!!!) numa rua tão estreitinha onde nem um carro pode passar! E, como já adivinham, essa torre tapa a vista de grande parte das janelas da minha casa. Depois, para cúmulo, por algum motivo a obra foi embargada e ficou assim por acabar e a degradar-se há mais de 15 anos. Grrrrrr!
É claro que este é um caso pessoal. Mas, para além disso, esta zona de paisagens lindíssimas, como é bastante inclinada tem estradas que são uma delícia do ponto de vista da paisagem que vai desfilando. Tem estradas, quero dizer, tinha.
Agora circulamos parte do caminho emparedados entre muros altos sem ver nada para os lados. Cada vez mais os donos das propriedades que dão para a estrada constroem muros, não aqueles murozinhos de meio metro que se usavam dantes a separar o domínio público do privado, mas muros bem altos de dois metros que tiram o prazer de circular naquelas estradas. É legal, calculo. Mas é justo?...