quarta-feira, outubro 07, 2009

"Prova de Vida"

Sempre me revoltou a expressão.
Recentemente li uma história na Revista Sábado, (página 40) que veio ao encontro do que sinto:
Uma senhora francesa, nascida em 1908, revoltou-se com a necessidade de ir prestar «a prova de vida» e declarou que se a Segurança Social quisesse fosse à sua casa inspecciona-la.
De notar que esta senhora pode estar velhinha mas deve estar de saúde – só precisa de ir ao médico duas vezes por ano – e está profundamente lúcida porque declara que o procedimento burocrático a faz sentir “culpada de ainda estar viva”.
Nem mais! É exactamente isso que eu sinto quando oiço falar em «prova de vida». Mesmo que haja burlas e existam uns vigaristas a receberem pensões de familiares que já faleceram (e nem é preciso terem morrido, ainda há pouco tempo em Portugal foi notícia uma senhora e o filho deficiente que viviam enclausurados para alguém receber suas pobres pensões…) essa coisa de uma pessoa ter de provar que ainda não morreu, considero do maior mau gosto.
O natural e desejável é que as pessoas estejam vivas e, já agora, de boa saúde. Se calhar, se cruzassem informações de idas ao médico de família, das receitas da farmácia, da declaração do IRS, para não falar das declarações de óbito e registos de cemitérios, confirmavam num instante a sua situação. Porque o certo é que os serviços oficiais passam o tempo a recolher informações de tudo e mais alguma coisa mas depois não sabem cruzar esses dados!
Agora uma pessoa ter de «provar que está viva», (?!) sou muito sincera, francamente dá-me volta ao estômago!
Quem é que eles se julgam?



daqui

13 comentários:

sem-nick disse...

É tudo por causa do dinheiro, é claro. Enquanto se é contribuinte pagante, tem de se «provar que estamos mortos» (costuma ser alguém por nós...) para deixar de pagar.
Mas no caso de se receber uma pensão, não se confia. Aí tem é que se provar que se está vivo!
O esquema entende-se mas o nome é execrável. Prova? de vida? :(

Anónimo disse...

É.
O receio de ser vigarizado é tão grande que se caem nessas faltas de gosto para não dizer outra coisa.
A foto que encontraste para aqui é excelente!

Anónimo disse...

Só uma nota para acrescentar que desta vez não somos nós a 'inventar' a designação de mau gosto - ali em França também se diz assim, como se vê pela história.

a glória do vulgar disse...

deixo prova de vi(n)da

josé palmeiro disse...

Aqui está uma evidência que eu tenho que fazer todos os anos, perante a minha entidade empregadora. Pode ser presencial ou com um atestado da junta de Freguesia em que resido, situação que tenho usado, desde que estou nos Açores, a não ser que me pagassem as passagens!!!
Lindíssima e ternurenta, a foto.
Quanto a mim, esta é uma prova em como estou vivo.

fj disse...

Eterna confusão sobre aqual já disseram quase tudo. Faltam contudo alguns dos costumeiros que tambem gostava de ver.

a glória do vulgar disse...

nesta fotografia comove-me o grande apagamento das marcas sexuais. o que tantas vezes confere ao corpo dos velhos a delicada qualidade hermadrofita dos bebés, qual é o sexo da pessoa que assim sorri? que género construiu ou lhe foi construido? primeiro hesita-se e depois percebe-se que não interessa para nada. o que a fotografia (me) conta é a clara proximidade do humano retorno à indiscriminação e indiferenciação iniciais.

AB disse...

Há uns anos morreu o pai de uma amiga minha.Foi precisa uma certidão de óbito para além das que inicialmente tinham sido pedidas.Fui com ela entregar a dita certidão à secretaria que a tinha requerido,por acaso(ou não9 a da Faculdade de Direito onde o pai tinha sido professor.Não aceitaram a certidão porque "as certidões só tem um prazo de 3 meses".È um exemplo um bocado ao contrário:a pessoa tem de provar que continua morta...Parece que nos casos de óbito essa regra já caducou mas era um bocado para o extraordinário...eu sei que oficialmente isto "era" um país católico mas daí às ressurreições oficiais ...e daí nos tempos que correm....AB

Joaninha disse...

O «mal» de se chegar tarde aqui é que depois do que os outros disseram aquilo que se pode escrever sabe a pouco.
O excelente (comentário? reflexão?) de gv deixa-me ficar a pensar. É isso mesmo. Os bebés vestiam-se de azul e cor-de-rosa (e agora põem uma fitinha ou lacinho nas meninas) para distinguir porque pela cara não se vai lá. Mas é certo que nos velhos se passa ou pouco a mesma coisa... Impressionante!
Já visitava o blog do/da 'Glória do Vulgar' mas vou tornar-me mais frequentadora!!!
A AB não me desilude, ainda bem que a temos de volta :) De facto uma certidão dessa durar 3 meses é o máximo. É triste, senão seria de rir!!!

a glória do vulgar disse...

alguém atento mandou me corrigir uma gralha feita há bocado. cá vai: onde está 'hermadrofita' deve ler-se claro 'hermafrodita'. com as minhas desculpas

Joaninha disse...

Ai, GV, isto de gralhas nos comentários do blogs não é para corrigir a não ser que altere profundamente o sentido! ninguém liga!
Mas aproveito voltar cá para uma coisa que não é uma gralha mas está mal explicado. Quando escrevi «a AB não me desilude» queria mais ou menos dizer «a AB nunca me desilude», porque pretendia que saísse um cumprimento mas não seria essa a leitura que se podia fazer. :)

Quanto a gralhas, GV, temos por cá um comentador de que aliás gosto muito e que tem muita graça, o FJ mas os escritos dele são gralha palavra sim palavra não. E ele ralado!... eheheh!!!

Mary disse...

Voltou o Zé Palmeiro aqui à nossa comunidade, temos de novo a AB e agora uma bela comentadora e blogger a GV.
Falta-nos o FJ (ké dele?!) e a Maria que também era comentadora assídua.
Aqui a Emiéle foca uma coisa séria que é a sensibilidade do nome que se dá às coisas. Afinal até se pode aceitar que os Serviços Sociais queiram confirmar que dão o dinheiro à pessoas certa, mas... «prova de vida»? ou «prova de morte» como na história que conta a AB?
Arrepia, sim senhora.

cereja disse...

Boa noite a todos!
(olá GV! com essa prova de vi(n)da cá já retiro as minhas queixas!!)
AB, essa história é fantástica. Creio que já me tinhas contado mas cai aqui em cheio!
Zé Palmeiro, como outros aqui se manifestaram folgo em te ver de volta. Será de volta mesmo? :)
King, de facto aqui não estamos sós mas não ajuda nada, afinal. Mas por acaso pensei nisso quando li a história no Sábado.
Mary, o fj até participou hoje. Mas desta vez ele recuou para a sombra...