sexta-feira, janeiro 23, 2009

..."prolongar exageradamente a vida"

Apesar de tudo fiquei surpreendida.
O padre Feytor Pinto, num colóquio intitulado "Eutanásia e o direito a vida", declarou "A Igreja é contra a eutanásia [precipitação da morte], mas também contra o prolongamento exagerado da vida [distanasia], contra o encarnecimento terapêutico"
Costuma-se dizer que uma grande caminhada começa com um pequeno passo. Aparentemente este é o tal pequeno passo.
O direito a uma morte digna, que mais tarde ou mais cedo será aceite pela sociedade como uma forma de profundo respeito por quem não tem já salvação e deseja o fim, está a desenhar-se no horizonte.

Aliás até as expressões populares o dizem já há muito.
Ainda ontem ouvi uma pessoa dizer de outra, de lágrimas nos olhos «Ah, que Nossa Senhora se lembre dela!».

E este «lembrar-se» era exactamente acabar com o seu sofrimento.
Pelos vistos, alguns sectores da Igreja começam a sentir o mesmo.


10 comentários:

Anónimo disse...

Completamente de acordo, julgo que é um passo em frente, mais ou menos inevitavel.

Anónimo disse...

É um tema importantíssimo e que ainda se toca levemente e com pinças compridas.
Mas como disse agora mesmo o FJ, é é um passo realmente inevitável. Afinal a tal frase «que Nossa Senhora se lembre dela!» é bem piedosa. Também a tenho ouvido, ou Deus ou Nª Senhora.

cereja disse...

Das tais coisas que mais tarde ou mais cedo se vai ter de abordar. A Igreja, no seu papel, fala por enquanto no tal «prolongar excessivamente» e 'distanásia', o que é uma maldade que se faz. Desgraçados a sofrer, em coma, em morte cerebral, vegetais e a terem a vida sustentada em nome sabe-se lá de quê.
Mas o passo seguinte está à vista. A morte digna. O respeito.

Anónimo disse...

Ficamos a pensar, não é?
E com um friozinho no estômago.
Este é um tema muito duro, e que contudo não se vai poder evitar eternamente.
E ainda bem que a Igreja começa já a concordar que a tal distanasia é um erro. Afinal um egoísmo de quem fica.

Anónimo disse...

Respirei fundo antes de abrir esta «caixa». por aquilo que leio dos que escreveram antes de mim, o constrangimento é geral; a gente sente que deve segurar os cornos do toiro, mas...a verdade é que eles ferem.
A quem não tem passado isto pela cabeça? Até sobre nós próprios. Sobretudo sobre nós próprios! A imagem que deixaste do filme Mar Adentro chega para relembrar esse filme impressionante. Ficamos a pensar...
E outro filme de que gostei imenso também, "As Invasões Bárbaras" em continuação de outro também excelente "O Declínio do Império Americano". Nas "Invasões Bárbaras" descreve-se um caso de eutanásia de uma forma belíssima. Com tanto amor, tanta amizade, tanto respeito que nunca mais se esquece essa sequência.

Anónimo disse...

Este tema arrepia-me, por me trazer á memória momentos sofridos por um familiar muito próximo,e perante o qual me senti impotente. Fiz o link para o Invasões Bárbaras, do raphael filme que não vi e desconhecia.É algo que a sociedade e a igreja vão ter que discutir e quanto a mim é bem mais prioritário do que outros que andam para aí a ser lançados Temos direito a isso , mas é algo que tem de ser muito muito discutido e com muito cuidado
Concordo que a distanásia é mais importante , para já

josé palmeiro disse...

Sem mais, Emiele.
No post e, principalmente, no comentário, dizes tudo. Absolutamente de acordo!

André disse...

Não há dúvida de que o assunto é polémico, mas a questão do livre-arbítrio para mim é sagrada, nem mais. A propósito, viram "O Escafandro e a Borboleta" de Julian Schnabel, com o Mathieu Amalric, vilão do último Bond. Este filme veicula a ideia de que subsiste uma ponta de dignidade em qualquer pessoa, ainda que esteja debilitada a um ponto extremo:- Neste filme, o acamado, consciente de tudo o que se passa à sua volta, perdeu todas e quaisquer faculdades expressivas.-
Para quem está de fora, sofrendo e incapaz de perceber o que vai naquela cabeça, o que fazer?!...

Sim à morte assistida!
Sim ao poder de escolha sem interferência!!

cereja disse...

Gostei muito que o raphael lembrasse As Invasões Bárbaras, porque quando se fala de eutanásia é sempre o filme que me lembra, mais ainda que o Mar Adentro que de certa forma 'citei' com a imagem que deixei.
Por acaso vi os dois filmes «A Queda do Império Americano» e «As Invasões Bárbaras» no mesmo dia, no Quarteto. Saí de uma sala, tomei um café e entrei na outra!!!!! São filmes impressionantes até porque parece uma saga, com os mesmíssimos actores. A Queda do Império é de 1986, e em 2003 o mesmo realizador, pega nos mesmos actores e realiza outro filme, distinto do primeiro por um lado, mas a continuação por outro. O simbolismo é enorme. Em 86 considerava que a América como Império estava a cair, tal como Roma, e n«As Invasões» considera o ataque do 11 de Setembro como o ataque dos bárbaros a Roma...
Mas era também um filme de amor(es). Amor pai/filho, filho/pai, amor de irmãos, de mulher homem, ou de homem/homem, e sobretudo filme sobre relações humanas, amizade, respeito, livre arbítrio.
Ando a ver se os encontro em DVD, mas uma vez que os encontrei estava muito mal de massas... e ficaram na prateleira!
........
Palmeiro, já ouvi falar n"O Escafandro e a Borboleta" mas não o vi. Fica-me ainda mais debaixo de olho...

Anónimo disse...

Era a única coisa que me faria mobilizar em termos de "activismo" seria exactamente o direito a uma morte digna.Aliás ainda não há muito tempo tentei organizar algumas pessoas em volta do tema(médicos,sociologos e por aí)mas foi apenas uma reunião ,muito embrionária com algumas informações do que acontece numa organização suiça e resumiu-se tudo a uma tarde de conversa(uma parte destas pessoas foram militantemente apoiantes da IVG),e ficamos com outra reunião marcada que ainda se não realizou.AB